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Matilde Rodrigues

Despertei lentamente com o som do meu telemóvel. Sem conseguir abrir tão bem os olhos, procurei-o.

Espreitei por meros segundos, apenas para descobrir quem me ligava. Ao ler o nome do André no ecrã, não hesitei em sentir-me na cama. Esfreguei os olhos e voltei a ler o nome.

Porque me estava a ligar ás duas e meia da manhã pela segunda vez?

- André, são duas...

- Vem abrir-me à porta. Não aguento este clima entre nós. Eu amo-te ok, por mais assustador que seja.

Sinceramente, as palavras fugiram-me da boca em segundos. 

- Estamos a complicar o que é tão fácil de perceber. Acho que o ser humano é o ser mais estúpido. Vê lá! Os cães são mais decididos que nós! Basta a fêmea querer e lá se vão divertir!

Pude ouvir uma ligeira gargalhada, efeito da quantidade de álcool que deve ter ingerido há algum tempo.

Ainda assim, concordava com ele. Era mais fácil complicar tudo.

- Diz que também me amas.

- Onde estás André? Não gosto quando bebes e ficas assim... - Suspirou e logo a campainha tocou.

- Bem te disse que estava à tua porta, estou à espera que venhas!

- Tu és louco?

Saltei da cama, calçando os chinelos e saindo do quarto. Reparei na luz acesa do quarto dos meus pais. Dirigi-me em passos apressados à porta.

Respirei fundo, acabando por abri-la e receber um André risonho. Notava que estava um pouco envergonhado.

- Sou louco por ti.

- Tão clichê. - Retorqui, ouvindo a sua gargalhava mais uma vez. - Sabes que o meu pai acordou...

- Deu para perceber. - Coçou a nuca, a olhar para as escadas.

- Uma explicação...? - Olhei também para o meu pai, percebendo que estava confuso. - O que fazes aqui, André? São quase três da manhã!

- Vim desculpar-me e pedir a sua filha em namoro. - Encolheu os ombros. - E peço desculpa pelas horas.

- Tu vieste o quê?

- Vai-se lá perceber estes adolescentes, na minha altura não era assim. - E com isto, voltou para o quarto, ignorando as palavras do André.

Ou o facto de estar na nossa casa tão tarde... Após ter bebido e afirmado que me ia pedir em namoro. 

- Matilde, namora comigo. - Levou as mãos à minha cintura.

- Precisas de ir para casa... Não estás em condições de fazer escolhas. Espera, conduzis-te até aqui?

Balançou a cabeça, assentindo.

- Que irresponsável!!

- Desta vez não atropelei ninguém. - Ele piscou o olho, voltando a rir. - Mas aceitas ou não? A sério, já não consigo, nem quero, continuar assim!

- Faz-me essa pergunta amanhã, quando tiveres sóbrio. - Murmurei, era difícil levá-lo a sério.

- Não! Não te estou a pedir em namoro por causa do álcool..

- Eu sei André, mas...

- Mas nada! Não compliques! Se a minha fêmea! - Acabei por me rir, esta comparação era péssima.

Levei as mãos ao rosto dele, pousando os meus lábios nos do André.

Apenas um toque.

Sentia a sua falta. O facto de me ter pedido em namoro, mesmo após tudo o que dissemos um ao outro em Lisboa, não me deixava indiferente.

Admitir que me amava... Queria dizer-lhe que sim e ignorar toda a confusão, o que não conseguia fazer.

- Ficas cá em casa.

Levei o André até à sala, apontando para o sofá onde tencionava que ficasse a dormir. Mesmo não sendo o ideal, era melhor que conduzir.

- Amanhã falamos sobre isto. Caso não te arrependas e vás embora.

- Achas que me vou embora?

Encolhi os ombros.

- Qual foi a parte do eu amo-te que não percebeste? - Sentou-se, sem desviar os nossos olhares.

- Sendo assim, parece que falamos pela manhã. - Assentiu.

- Mal posso esperar!

- Por uma conversa? Ou pela ressaca?

- Pelo sim ao meu pedido. - Riu-se um tanto convencido, descalçando-se. - Sei que também me amas.

Balancei a cabeça, deixando-o a dormir no sofá da sala de estar.

(...)

Peço já desculpa pelo capítulo super random, mas foi o que saiu!

TRUST  ➛  ANDRÉ HORTAOnde histórias criam vida. Descubra agora