Me apaixonei.

235 19 3
                                    

- Já houve dias em que eu quis te matar, não nego. - Margaret murmurou rindo, enquanto lavava alguns legumes. - E outros dias que eu mais queria um abraço seu. Nós éramos tão unidas, não é? - ela deu um sorriso largo. - Quer dizer, ainda somos. Nós três. Uma sempre estava do lado da outra para ajudar, nem mesmo que fosse só pra ficar do lado, mas sempre estávamos lá, as três irmãs juntas. - ela desligou a torneira e encarou a janela aberta em sua frente. - Hoje, já não nos vemos todos os dias, o tempo já não nos dá esse momento. Sinceramente, Elizabeth, eu não sei como agradecer tudo o que você já fez por mim, pela sua irmã mais velha melosa. As tantas vezes que você ficou do meu lado e não me deixou sozinha. - ela se virou para mim, percebi que os olhos dela estavam lacrimejados. - Eu só quero pedir a você que continue sendo a "minha irmã" e dizer que eu te amo.

- Aonde quer chegar com essa declaração? - eu sorri e me aproximei dela para pegar a cesta de legumes. - Está me assustando.

- É porque... talvez depois do casamento, eu e Gil vamos nos mudar.

- Sim. - confirmei, colocando a cesta na mesa e pegando uma faca. - Aquele apartamento é muito pequeno e vocês querem construir uma família, certo?

- Elizabeth, você não entendeu. - ela enxugou as mãos num pano de prato, em seguida puxou uma cadeira e se sentou em meu lado. - Quando eu digo "nos mudar" eu não me refiro ao outro lado da cidade.

Encarei meu reflexo na faca.

- Se refere no que? - ergui o olhar para a minha irmã.

- Talvez iremos nos mudar para Nova York.

Eu comecei a rir e soltei a faca na mesa, tive aquilo como uma pegadinha de minha irmã por eu não ter contado que estava namorando antes, mas quando percebi que ela estava séria e um tanto decepcionada com a minha reação, me encolhi.

- Fala sério?

- E alguma vez eu já menti pra você?

- Você me enrolou com o negócio do casamento. - lembrei com uma sobrancelha erguida.

- Sim, mas não estou enrolando agora. Gil quer morar em Nova York, ele recebeu uma proposta incrível e irrecusável para trabalhar lá, mas ele não deu a resposta. A primeira coisa que ele pensou foi em mim, ele não queria ir se eu não fosse. O convite foi enviado por um grande amigo do pai dele que é bastante confiável e competente. Ontem eles reforçaram o pedido, Gil se sentiu indeciso e pressionado com tudo isso e me perguntou se eu iria para lá com ele depois que nos casássemos.

- Talvez seja uma boa oportunidade para ele, e quem sabe, pra você também. - sussurrei olhando para minha irmã mais velha. - E depois de casada, papai deixa de ser responsável por você, mas vamos combinar que ele deixou de ser desde que você começou a morar com Gil. - peguei nas mãos dela e apertei. - Você sempre tomou as decisões certas, Margaret. Tudo bem que eu vou sentir muitas saudades, mas você vai poder nos visitar nas férias, certo?

- Claro. Sim, isso é obvio. - ela se levantou e pegou outra faca. - Não sei como o papai vai reagir.

- Ou como Verônica vai reagir. - completei.

- Ela já sabe.

Estreitei os olhos em minha irmã do outro lado da mesa.

- Eu não sei por que não estou surpresa.

- Eu passo mais tempo com ela do que com você, esqueceu?

- Boa desculpa. - sorri e peguei uma cenoura da cesta. - E o que ela disse?

- Que se Gil me abandonar lá, ela vai socá-lo.

- Verônica sendo Verônica.

- Acho que o papai vai ter um ataque. - Margaret pegou outra cenoura da cesta. - Depois de uns três surtos, ele vai concordar.

MadnessOnde histórias criam vida. Descubra agora