Madness

Ela é tudo o que eu quero, e eu sou tudo o que ela quer.

POV MELIODAS

– Você desaparece do colégio, fica quase dois meses sem vir às aulas e depois volta como se nada tivesse acontecido e ainda infringe uma lei, desacatando o novo inspetor? – enquanto o diretor carrancudo me dava sermão, eu girava naquela cadeira e fingia que o sermão não era comigo. O diretor se enfureceu, ficou de pé, deu a volta na mesa e segurou a cadeira com as duas mãos, fazendo com que eu parasse subitamente de girar. – Isso aqui não é uma espécie de brincadeira, Meliodas. E você já está bem mau em suas notas, e seu desaparecimento das aulas por esses dias não te ajudará em nada. – desviei a atenção para a janela. – O ano já está quase no fim, só um milagre pode te ajudar. Você acredita em milagres? – olhei de soslaio para ele com uma cara feia e sorri debochado. – Pela sua rebeldia, ficará depois das aulas para limpar o colégio durante o resto do ano. – meu sorriso debochado se esvaiu magicamente.

– Isso é brincadeira? – fiquei de pé de imediato. – Encerrar o ano fazendo faxina?!

– Será melhor do que encerrar o ano chutando cadernos de inspetores, não? – o diretor abriu um sorrisinho, e eu tive que me conter para não afundar a cara dele. – Espero que você aprenda a lição, e passe a obedecer o novo inspetor. – ele voltou para sua cadeira e se sentou. – Pode se retirar. Te espero na minha sala no final das aulas.

– Caramba! – saí furioso da diretoria, e para complementar minha fúria, dei de cara com Zeldris no corredor. Ele estava com o caderno nas mãos e olhava para mim como se quisesse rir.

– Sinto muito pelo rumo que as coisas tomaram. – disse ele, falso. – Mas espero que não se repita. Isso pode pegar mal para nós dois.

Ignorei a presença dele e fui para a minha sala, quando entrei todos olharam assustados para mim, segui para a minha mesa e me sentei. Christine estava sentada á minha esquerda, e usava uma boina de crochê rosa. Ela me olhou preocupada, devolvi o olhar.

– Quê? – sussurrei.

– Todos estavam comentando que você foi grosseiro com o novo inspetor.

– Não me admira que a novidade já tenha se espalhado. – puxei o caderno de dentro da minha mochila com indelicadeza.

– Sua volta gerou muitas fofocas.

– Ah. Isso com certeza. O pessoal desse colégio adora foder com o nome de alguém. – abri o caderno e encarei as linhas em branco. – Suponho que já tenha visto sua prima, não?

Senti ela ficar tensa em meu lado.

– É. Eu a vi antes dela voltar para Londres. Ela estava irritada comigo pelo que eu fiz, e não a culpo. Eu também ficaria irritada. Eu peço perdão. Nunca quis que isso acontecesse, eu fiz porque vi uma oportunidade.

– Não se deve inventar mentiras usando doenças terminais, caramba. Isso é errado.

– Você me odeia?

Não respondi, apenas encarei o professor andando sonolentamente com um livro em uma mão, e com um pedaço de giz gasto na outra. Ele falava alguma coisa, que não entrava em minha mente, nem mesmo se eu quisesse.

– Bem, por favor, não me odeie. – ela balbuciou. – Sabe quando você está sozinho? Sem ninguém do lado para dizer “eu te entendo”, pra dizer “eu te amo e nunca vou desistir de ti”, nessas horas parece que o mundo não vai mais fazer sentido, mas aí você começa a pensar “por que quê ta tudo assim?”, “por que quê está todo mundo se afastando?”, então você percebe que foram suas atitudes que tornaram aquilo possível, tudo que você fazia acabava afetando alguém. Às vezes você se sente perdido, perdido mesmo, sem saber em quem confiar, pra quem dizer eu te amo, sem sentir medo. Às vezes você não sabe de mais nada, acha que não conhece mais ninguém porque algumas atitudes lhe mostram o contrario, é como se tudo aquilo fosse mentira, e todos aqueles que disseram que iam estar aqui, fossem te deixando aos poucos e poucos. Eu causei muitas decepções e estou cheia de arrependimentos.