Acho que matei alguém,
Não tenho certeza
Mas sinto que esmaguei
Tanto os sonhos quanto o seu corpoAcho que matei alguém
E tenho o palpite de quem seja
Não deveria andar na chuva
Com alguém como eu à soltaNão é fácil enxergar com tão poucos olhos
Miopia e astigmatismo seriam o suficiente
Se não fosse a igual vontade de não ver
Tudo que o mundo me ofereceOs óculos, não sei onde eu deixei
Talvez eu mesmo tenha escondido
Para que saísse hoje em especial
E criasse as tragédias que o mundo precisaEu matei alguém
Lembro de seu corpo
Banhado de chuva e sangue
Rastejando até o beco para morrer em pazVia a sombra do que um dia
Aquela pessoa foi
Uma pena ela morrer tão desfigurada
Embaçada pelo próprio destinoNão sei se estou chorando
Ou simplesmente é a chuva caindo
Eu conhecia a pessoa que eu matei
Ela era quem eu costumava serNão há esperança aos mortos
As flores serão sempre as primeiras
A apodrecerem
Desista de qualquer homenagemSem meus óculos eu não enxergo
Mas os olhos da minh'alma
Escolhem deixar de enxergar
Faço dessa rua, a minha sepultura.
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Um Abismo Atrai O Outro
Poésie[Obra vencedora do Wattys 2017 na categoria "Grandes Descobertas"] Conjunto de poemas encontrados bem no fundo do abismo de mim mesmo. #5 em Poesia - 05/12/17