XXXIV - Acho que matei alguém

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Acho que matei alguém, 
Não tenho certeza 
Mas sinto que esmaguei 
Tanto os sonhos quanto o seu corpo

Acho que matei alguém
E tenho o palpite de quem seja 
Não deveria andar na chuva 
Com alguém como eu à solta 

Não é fácil enxergar com tão poucos olhos
Miopia e astigmatismo seriam o suficiente 
Se não fosse a igual vontade de não ver 
Tudo que o mundo me oferece 

Os óculos, não sei onde eu deixei
Talvez eu mesmo tenha escondido 
Para que saísse hoje em especial 
E criasse as tragédias que o mundo precisa

Eu matei alguém
Lembro de seu corpo 
Banhado de chuva e sangue 
Rastejando até o beco para morrer em paz

Via a sombra do que um dia
Aquela pessoa foi 
Uma pena ela morrer tão desfigurada 
Embaçada pelo próprio destino

Não sei se estou chorando
Ou simplesmente é a chuva caindo 
Eu conhecia a pessoa que eu matei 
Ela era quem eu costumava ser

Não há esperança aos mortos
As flores serão sempre as primeiras 
A apodrecerem 
Desista de qualquer homenagem

Sem meus óculos eu não enxergo
Mas os olhos da minh'alma 
Escolhem deixar de enxergar 
Faço dessa rua, a minha sepultura. 

Um Abismo Atrai O OutroOnde histórias criam vida. Descubra agora