De manhã cedo eu fiquei observando mamãe e papai na rotina matutina.
Mamãe acordou cedo, primeiro que todo mundo e foi fazer o café. Nós temos cafeteira, então é bem mais rápido.
Enquanto ela arruma as coisas lá embaixo, papai acordou e se arruma.
Eles meio que trocam de turno depois que ele desce. Mamãe sobe e vai se arrumar e ele cuida do café.Enquanto isso eu e o Flink nos trocamos.
...Denovo, acho que vou ter que me teletransportar pro CeLR sem eles me verem... Não queria fazer isso mas vai ser que nem daquela outra vez... Quero espiar...
Olhei pro Flink e ele parecia meio... Cabisbaixo... Acho que ainda tá com sono...
Na escola, logo que entramos, não percebi nada de estranho, mas só Luka apareceu pra falar conosco.
Ela parecia... Estranha. Como se soubesse de algo e não quisesse nos contar.
E aparentemente, as pessoas nos olhavam feio... Denovo. Eu digo denovo, porque nos primeiros dias todos nos olhavam assim, depois nos esqueceram como se fôssemos invisíveis.
Agora estão cochichando uns com os outros. E eu não vejo o resto do pessoal...Quando fomos pro corredor das salas, eu esbarrei em alguém no meio da multidão de gente. E pro meu azar, esse alguém era a Kate. Ela estava acompanhada de alguns outros e já agiu grosseira...
"Já não basta invadir o nosso mundo, vocês ainda querem pegar nosso espaço pessoal!? Faça o favor! Se manquem que são minoria e deixem as verdadeiras pessoas em paz!"
E ela saiu me olhando feio, assim como todo mundo ao redor...
Eu não me senti ofendida não... Eu só fiquei com um pouco de raiva...Mas eu não sei se o Flink teve essa mesma reação. Ele pareceu um pouco assustado...
Eu devia me preocupar com isso?
Não sei... Ele nunca mais... Falou comigo...
Tem... Alguma coisa errada...Mas eu não tenho tempo pra isso... Eu... Ia fazer outra coisa...
Teletransporte... Pro CeRL.Quando deu eu fui no banheiro... E no mesmo esquema da última vez, me teletransportei pra algum lugar de lá. E fui parar na planta com formato muito conveniente...
O lugar não estava lotado e movimentado como da outra vez, o que foi bom... Preciso achar a mamãe... E, ou a Chara.Andei devagar pelos corredores, me escorando em lugares em que podia me esconder.
Foi quando eu corri até o elevador e subi até o andar da mamãe.
No fundo, no fundo, eu queria ir ver o papai...
Mas eu tinha que me concentrar na missão...Missão de quê mesmo?
Ah! Helvética! Que cabeça oca...Tenho que pegar Chara fazendo... Qualquer coisa que ela estiver fazendo...
Quando cheguei no andar andei mais um pouco e encontrei as duas que estava procurando... De uma só vez!
"Ah, Frisk... Você sabe que eles são assim... Não sei porque ainda dá chance..."
"Você me conhece... Eu não consigo impor nada à ninguém... Muito menos eles..."
"Ué, mas você é do lado dos humanos ou dos monstros?"
Mamãe fez uma caretinha. Parecia indecisa...
"Eu estou do lado da misericórdia!"
"Ah sério? Pensei que era embaixadora dos monstros..."
"E eu sou! Mas não defendo alguém que quer machucar os outros!" Ela falou abaixando a voz, olhando para os lados, como se não pudesse falar isso muito alto.
"Olha, tudo bem se você fica assim com isso, mas é desnecessário. Só aceite e faça o que agrada ambos! Não é isso que quer? Agradar todo mundo?"
Mamãe a olhou com uma expressão conturbada. Chara estava relaxada, falando uma coisa aparentemente séria."Eu... Não quero agradar todo mundo... Isso é impossível..."
"Mas não era você que dizia que nada é impossível? Ah, Frisk... Eu vejo que você tem mudado bastante..."
Mamãe parecia confusa e indignada.
"Mas... Eu... Eu não... Chara, eu posso... Eu posso explicar..."
"Não, relaxe. Eu sei que tem muita coisa na sua cabeça... Mas não acha que está na hora de dar um basta? Sei que você tem tido uma vida cheia de afazeres... Tentando dar o melhor pra todos... Mas o que é melhor... Pra você?"
Ela ficou pensativa. Chara pegou alguma coisa do bolso e quando mostrou pra mamãe, ela se assustou.
"Se está tão indignada com o monstro, ou o humano lá... Pode resolver num piscar de olhos... Eu posso até ajudar..."
"C-Chara!!"
"Ei, calma. Vai ser melhor assim! Você não quer um futuro melhor pros seus filhos? Os outros monstros poderão viver em paz depois disso. E eles vão só desaparecer pros outros que nem vão desconfiar..."
Mamãe olhou nos olhos de Chara, com uma expressão triste e decepcionada."Eu pensei que você... Que você tinha mudado..."
"E eu mudei! Eu não estou te obrigando a nada! Só estou te oferecendo uma proposta. Confia em mim! É um bom plano, pra libertar os..."
"Monstros e humanos, tá eu sei... Mas a suas idéias... Não que não sejam boas... São agressivas, e até... Sangrentas..."
"Monstros não sangram... Exceto..."
Frisk arregalou os olhos. Eu senti uma pontada de medo."Exceto ele..." Chara desviou o olhar...
"O... O que você fez!!?"
Mamãe quase gritou, empurrando-a pra trás. Ficou desesperada.
"Ei, nada, nada! Eu não fiz nada!..." A de bochechas rosadas levantou as mãos.
"...Ainda..." Susurrou baixinho.
"O QUÊ!?"
"Brincadeira! Só tô brincando!"Mamãe Frisk ficou mais calma, mas foi indo embora, querendo encerrar a conversa. Ainda parecia abalada. Saiu suspirando, tentando se acalmar.
"Depois a gente se fala..."
"Ei, espera... Vai me deixar aqui só?"
"Chara... Só não... Faça isso ok?"
"Ok..."
"Não faça isso..."
"Tá, tah..."
"Desculpa... Tenho que ir..."
"Manda abraços pra ele lá..." Ela disse irônica.
Mamãe não riu pra ela e só disse um "tá"fraco...
Caramba ela feriu os sentimentos dela... Eu também ficaria assim... Mas Chara continuou ali... Até sumir do nada...Eu quiz me teletransportar pra sala do papai... Porque eu sabia que ela ia pra lá... Ela que eu digo... Uma das duas...
Me escondi numas caixas e fiquei ali esperando. Papai parecia menos ocupado... Estava sentado de costas pra onde eu estava, olhando a máquina e a sacada envidraçada. De repente, mamãe chega quase correndo e o agarra.
"Você... Você está bem??"
"Eu? Ei, calma, o que foi? Você me assustou!"
"Você está bem não está? Ela não veio pra cá veio?"
Ele ficou em silêncio.
"Por que você... Eu tô bem sim, agora, você está bem? Parece nervosa..."
"Eu... Fui tentada denovo, Sans..."
"Ah... Novidade..." Disse baixinho, olhando a bancada e a pasta de documentos.
Ele retribuiu o abraço, colocando as mãos dela no seu pescoço."Tudo bem agora... Eu estou bem, não se preocupe comigo... Você que tem que se preocupar com você mesma... Você está bem?"
Ela levantou o rosto o fitando.
"Não! Eu me sinto horrível! Tenho tanta coisa pra fazer! Tanto pra mediar, remediar, e prevenir... Tenho que fazer documentos, ajudar os outros... Cuidar dos meus filhos! Dos nossos filhos! Mas nem isso eu consigo fazer! E ainda vem ela com uma proposta dessas! É... Tudo tão simples... É tão simples acabar com tudo! É tão simples que chega a ser tentador..."Ele pôs as mãos na cintura dela.
"... Mas eu não posso largar tudo assim. Essa linha do tempo... É a mais incrível que já vivi... É a mais extensa... Tem mais... Amor... Amor de verdade... Não quero apagá-la...""Tem certeza disso? Você... Não se sentiria melhor?"
"E ver você sofrer por isso? Não mesmo."
Ele riu.
"Já falei pra parar de ficar se preocupando comigo... Eu sabia me virar sozinho antes de você aparecer e ainda sei..."
"Hehe... Mas não vai se livrar de mim tão cedo...""Eu sempre tenho que fazer escolhas com você, não tenho...?" Mamãe disse.
"Acho... Que sim..."E os dois comecaram a dancar ali. Do nada, sem música nenhuma... Quem dizer... Acho que cantarolavam algo, mas eu não consigo ouvir. Os dois ficaram mais próximos, encostando a testa um do outro e sorrindo, com os olhos fechados...
"Se sente melhor?"
"Bem melhor... Mas eu tenho coisas pra fazer..."
"Ok..."
"E como vão as coisas aqui?"
"Normais. Qualquer coisa eu te falo, mando mensagem..."
"Então tá bom... Eu vou indo. Tchau, blue..." Ela beijou a testa dele.
"Tchau sweetheart..."
Um selinho rápido e mamãe saiu.

YOU ARE READING
Legacytale
FanfictionQuando sua mãe Frisk e seu pai começam a se hiperatarefar com o trabalho, Helvética percebe que suas visões ficam cada vez mais cheias de sentido, Asriel e Gaster só parecem mais e mais misteriosamente certos em suas previsões, e Sans cada vez mais...