Chocolates e Amor...

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Eram mais ou menos umas cinco horas da tarde e eu e Flink chegamos em casa. Como o esperado, papai não estava e mamãe estava conversando com alguém na cozinha.

"Tia Chara!" Flink entrou correndo e deu um abraço forte nela. Ela tinha um sorriso bastante acolhedor, mas muito constante... Eu não gosto de sorrisos constantes. Eu faço isso o tempo todo, mas não gosto muito.
"Oi tia..." Eu acenei e subi pra trocar de roupa.

"Aw, meus bolinhos de caramelo e canela! Vocês são uns amores!" Ela apertava as bochechas do mano e ele ria muito.

Era legal a tia vir visitar a gente. Eu não sei onde ela mora, mas sei que raramente ela vem. Mas quando ela vem é sempre festa. Tem doce e histórias, apesar de não estar muito numa hora de se contar histórias.

Eu estava lá en cima no meu quarto, quando a mamãe bateu na porta.
"Helv?"
"Sim mãe?"
"Você pode fazer um favor pra mim, por favor?"
Eu abri pra ela que estava com uma vasilha de almoço. Parecia um bentô daqueles que a Luka leva pra escola.
"Você pode levar pro seu pai? Só dessa vez!"
"An... Mãe..."
"Eu sei, eu sei que você odeia ir pro laboratório, mas por favor... Faça pelo seu pai... Você ama seu pai, não ama?"
"Amo sim..." Suspirei. Ela fez uma carinha de cachorrinho caído e eu ri.
"Tá, tá. Eu vou. Pelo papai."
"Ahw, obrigada Helv!"
Me deu a vasilha e eu peguei meu casaco. Ela me deu um abraço apertado sussurrou um obrigada.

Então tá... Eu odeio ir para o Laboratório Real. Lá tem muita gente que eu não conheço, máquinas estranhas... E a sala do papai é lá em cima, no penúltimo andar. Ou é o último?
Lá também não é meu lugar favorito. Aquela máquina dele está lá. Bem no meio.

Eu cheguei normalmente e fui direto pro elevador. É sempre chato esperar ele subir tudo... Mas eu não vou de escada nem brincando.
As portas do elevador abriram e a sala dele estava na penumbra. A luz vinha só da janelona que dá pra avenida lá embaixo e os edifícios lá fora. Eu queria ter uma parede janela assim.

Me aproximei e ele estava na escrivaninha escrevendo alguma coisa.
"Hey, eai filhota?"
"Oi pai. Trouxe seu jantar... Mamãe que fez..."
"Ah, não precisava. Mas já que insiste... Nham..."

Eu virei e olhei a parafernália que estava aquele lugar. Que bagunça linda.
Ele se levantou e foi guardar uns papéis.
Voltou com um sorriso.

"Pensei que você nunca mais ia vir aqui comigo..."
"Hunf... Poisé..."
"Força maior não é?"
Eu ri.
"Eu não consigo dizer não pra mamãe..."
"Nem eu..."

Ele fez um carinho na minha cabeça e eu dei um abraço nele.
"E como vai o Flink? Voltaram bem da escola hoje? Foi legal lá?"
"Eh foi sim. E o mano tá como a mamãe e a titia..."

"Titia?"
"É. A tia Chara tá lá em casa..."
"Ah.... Sei....."
Ele ficou calado. Eu sabia que não ia gostar da notícia, porque ele odeia ela.

"Mas eu e ele chegamos ok em casa...."
"Ela chegou quantas horas?"
"Ahn... Eu... Não... sei? Tava na escola...."
"E você sabe que horas ela sai?"
"E-eu não sei, pai.... Eu mal cheguei e já vim pra cá...."
"Entendo...."

Ficou um clima tenso...
Ele voltou a mexer na máquina o que me irritou um pouco. Começaram a aparecer nuvens de chuva lá fora.
"Pai..."
"Uhm?"
"Que horas você volta?"
"Volta pra onde?" Ele estava distraído...
"Pra casa!"
"Uh... Umas dez e meia, onze... Doze... Treze..."

Eu senti meu corpo pesar. As lágrimas queriam escorrer...
"T-treze horas é u-uma da manhã... Pai..."
"Ãh? Eu disse treze? Onze horas no máximo..."

Ainda era tarde. Eu queria que ele voltasse comigo.
"Mas... Se o senhor voltar tarde assim... Não vamos poder... Fazer cruzadas..."
"Podemos brincar disso no fim de semana..."

Eu estava me segurando para não chorar alí na frente dele. Ele disse isso... Semana passada...
"Agora, porque você não vai pra casa e fica cuidando do seu irmão? Já está ficando tarde."

M-mas...
"T-tá....."
Eu q-quero que você venha c-comigo...

"Boa noite querida."
Ele não tirava os olhos da tela brilhante. Seus dedos não largavam a chave de fenda. Ele queria terminar rápido.
"B-boa noite..."
Olhei pra ele e chamei o elevador. As portas se abriram e eu entrei.
"Eu te amo pai."

Ainda estava me segurando. Tudo bem, está tudo bem.
Estaria se ele não tivesse feito isso duas semanas atrás.

Quando eu sai do prédio, repentinamente, começou a chover. Eu fiquei um tempo na porta, mas resolvi me molhar lá fora.
Deixei que a água da chuva se misturasse com minhas lágrimas. A vontade que eu tinha era de ir no estacionamento e dar um chute no carro do papai.

Eu estava com raiva dele? Estava. Eu estava chateada com ele? Estava. Mas eu também estava triste por não ter o meu pai em casa, podendo tê-lo...

Eu voltei pra casa, sem muita pressa e a chuva caía forte. City Ebott é bastante movimentada à noite. Bastante barulhenta e luminosa. O centro parecia uma New York, ou uma Londres humana...
Eu nunca fui em nenhum desses lugares.

Minha casa fica num bairro de subúrbio, onde as construções são quase as mesmas.

Eu cheguei toda molhada e mamãe se assustou.
"Helvética! Por quê não levou um guarda chuva? Está toda molhada!"
"A chuva me pegou no caminho..."
Tia Chara ainda estava lá, vendo televisão. Eu subi e troquei de roupa. Queria conversar com ela.

"Oi meu bem, como vai?"
"Bem... E a senhora?"
"Ótima. E o seu papi?"
"Vai bem eu acho..."
Ela riu. Estava passando desenho na tevê, e as cruzadas que eu queria resolver estavam na mesinha perto do sofá.

"Tia..."
"O que foi?"
"Porque você e o papai não se entendem?"
Ela deu uma gargalhada. Olhou pra mim sorrindo e disse baixinho.
"Ele não gosta que eu fique perto da sua mãe."
"Porquê?"
"Ah... É uma longa história."
"Eu tenho tempo.."
"Ho hoho, olhe só... Tudo que eu posso te falar é que ele me odeia em várias linhas do tempo..."
"Oi? Linhas do quê? "
Ela levou aa mãos à boca.
"Ops. Falei demais."

"Acho que você devia perguntar para a sua mãe sobre isso... Pra ser... Imparcial."
"Ok..."
Por algum motivo eu sabia que ela não ia me dizer. Eu só queria me deitar e sonhar com o Gaster. Mas eu tinha que jantar primeiro, já que meu papi não quer mais jantar comigo...

LegacytaleWhere stories live. Discover now