Legacytale

Tarde em casa...

Eu me senti sozinha quando cheguei em casa. O carro não estava lá, mamãe nem tinha deixado um bilhete, como ela costuma fazer, e sim deixou a caixinha de música ligada.

A caixinha fica na estante de fotos, perto do telefone, e é uma réplica de alguma coisa do subterrâneo. Parece uma estátua de um monstrinho com chifres, segurando alguma coisa com um encaixe que precisa de um pino para funcionar. Mamãe põe um guarda chuva pequenino e toca uma musiquinha bonita. Eu acho ela muito triste, particularmente, porque ela sempre toca quando não tem ninguém em casa. Se chama "Memory", eu acho.

Flink ficou falante na escola hoje, mas quando chegamos em casa, ele se calou de um jeito estranho.
Ele saiu e foi até o jardim. Deve ter ido falar com Flowey.

Flowey é nosso "bichinho de estimação". É uma menina flor que só sabe gritar, reclamar e falar mal de tudo e todos. Mas, mamãe é muito piedosa e não ia deixar ela (ou ele não sei) sozinha no subsolo.
Ela tem um carinho especial com a flor, que eu acho que ela nem merece.
Ela não gosta de água, come terra e fica na sombra. Nem sei como os cabelos pétalas dela não ficam secos. Ela faz quimiossíntese, aparentemente.

Mas Flowey é muito apático. Ela não se dá bem com todo mundo, mas quando a Tia Chara vem, quer ser notada por ela. Flink, (deve ter puxado pra mamãe Frisk mesmo) vai todo dia ver se ela está bem. Ele tenta regá-la, mas ela faz um escândalo...

Eu fiquei deitada no sofá e achei quatro ouros no assento. Normal. Às vezes caem dos bolsos do papai.

"O que pensa que tá fazendo?! Me põe no chão agora!!" Flowey vinha num vasinho, nas mãos esqueleto do mano.
"QUE SACO! VAI PAGAR POR ISSO IDIOTA!" Ela jogou terra no chão e eu me levantei.
"Eita, que isso einh? Quem sujou vai limpar..."
"Vou limpar é a sua cara depois de TE ENFIAR NA TERRA, IMBECIL!" Ela estava cheia de raiva. Eu ri.
"E eu vou limpar sua boca com água sanitária..."
Ela calou.
"Maluca..." Susurrei.
"MALUCA SUA MÃE!"

Por quê o mano trás essa planta malcriada pra dentro de casa?
Ele vinha da cozinha, com um pote de terra.
"Leva ela de volta pro jardim, se não ela pega a televisão como da outra vez..."
"Relaxa, ela não vai sair dali sem que eu veja."
"Hunf... Sei não... Fica de olho abertoo!"
Eu ri mas ele ficou calado e sério, estático, como se dissesse 'Isso não teve graça...'. Não teve graça pra ele que tem olhinho puxado. He he he...
"Tá, então... Fica plantado no sofá olhando a folhosa. Ou precisa da planta baixa pra isso?"
Eu pisquei meu olho direito, dizendo que era piada e ele continuou sem reação. Foi embora pra sala. Cara... O mano é uma plateia difícil...

Fui pro meu quarto e lá estava a jaqueta me olhando. Como se dissesse 'Parabéns! Você é a herdeira das piadinhas e trocadilhos!' e também 'Vê se não esquece seus filhos quando tiver algum...'

Eu não vou ter filhos. Híbridos são estéreis. Eu nem menstruo...

Olhei o relógio, e olhe só... Que horas são? Hora de ficar na tão falada bad...

Zoera, são quatro e quinze.

Eu pensei em dormir, mas eu tava com medo de ter outro sonho bizarro. Apesar de eu estar um caco. Só osso.
Heh...
Parece até que eu não dormi nada...

Mas a tarde estava ficando fria, com certeza vai chover, denovo. Ficou frio até os ossos! Heh heh.

Socorro eu tô demais hoje, quero me matar, credo.

Quando o papai chegar eu vou dar um murro nele. É genético, como assim?
Pelo menos ele não sabe dos apelidinhos. E nem vai saber, se depender de mim.
Está chovendo... Em algum lugar...

O mano e Flowey estão assistindo tevê, num silêncio tão tranquilo, que até é fofo de ver. Claro, é hora do progama da Mettaton, que Flink nunca deixa de ver. Ele é fã de carteirinha! Tem uma luzinha noturna dela em forma de caixa no quarto dele que toca música e pisca como uma discoteca. É bem loco.

Bem, eu fiquei tentando ligar pra mamãe e ela não me atendeu nas duas vezes. Acho que ela tá em reunião... Porque se não, já tinha me respondido.

E eu quero saber que horas o papai vem pra casa hoje...
Talvez, se a chuva passar eu vá lá no laboratório... Talvez.