A câmera da cozinha flagrou uma movimentação ao lado da janela do cômodo, no primeiro piso. A cortina estava alçada e uma pessoa fitava a noite com bastante curiosidade. Luzes vermelhas e azuis pestanejavam o recinto, tingindo o semblante da esposa que espiava sorrateiramente. Estava tão concentrada em observar, que não notara quando o marido desceu as escadas, pegou a filmadora da mesa de canto, ao lado da escadaria, e caminhou em sua direção.
Os dedos de Harrison tocaram de leve o interruptor das lâmpadas da cozinha, acendendo a luz; logo tornou a apagar novamente quando Barbara se virou nos calcanhares e o ordenou para que o fizesse.
— Tudo bem, tudo bem — respondeu Harry, silenciando o alarde da mulher —, eu deixo a luz apagada, mas o que diabos você está fazendo aqui a essa hora, e além do mais, no escuro?
O horário que era mostrado na gravação da câmera acima de suas cabeças mostrava que já passavam das quatro horas da manhã.
— Vem aqui — Barbara discorreu, voltando a olhar para fora da casa —, alguma coisa deve ter acontecido com a senhora Ladymoor. Há uma ambulância em sua casa, e acabaram de colocá-la dentro em uma maca!
— Me dê licença — solicitou Harrison. O homem se aproximou da janela com a câmera, levantou um pouco mais o acortinado e encostou a lente de sua filmadora no vidro, de modo que pudesse filmar a vizinha, e esperou; esperou que a visão noturna fosse ativada e o foco se restabelecesse. — O que aconteceu com ela?
Barbara não sabia responder.
Paramédicos conversavam com o marido de dona Ladymoor, possivelmente tranquilizando-o. Abriram as portas traseiras do veículo e o deixaram entrar. Logo em seguida, o motor rugiu, as sirenes romperam na noite e o automóvel ganhou velocidade na alameda deserta, desaparecendo de vista alguns segundos depois ao virar na rua Mild, algumas quadras para baixo.
— Será que podemos ligar a — antes de poder completar a frase, o barulho semelhante ao de um fuzil deixando de funcionar soou alto do lado de fora da residência dos Patterson. O bairro inteiro fora mergulhado em um blecaute total. Havia acabado a eletricidade — luz — completou, desanimado.
Barbara, mesmo com toda a movimentação do lado de fora extinta, permaneceu encarando o vazio.
— Acredito que possuímos algumas velas na terceira gaveta próxima da pia — anunciou ela, por cima dos ombros; e voltou a espiar.
Harrison ativou a luz da câmera e se pôs a caminhar. Rodeou a bancada circular de mármore e o fogão, chegando à pia, que ficava ao lado direito do cômodo. Abriu a terceira gaveta e, como a mulher havia dito, encontrou duas velas e uma caixa de fósforo já pela metade.
Um estalo, uma chispa e uma faísca foram filmadas inicialmente, e então o fósforo se acendeu. Antes que o fogo pudesse comer inteiramente a madeira na mão de Harry, ele tocou o fósforo em cada uma das duas velas que havia posicionado uniformemente sobre a bancada.
Com as velas todas acesas, chacoalhou o fósforo e a chama morreu, deixando uma trilha de fumaça que foi subindo em direção ao teto e dissipou-se; as velas criavam imagens de luz nas paredes atrás do casal.
Harry desligou a luz da câmera.
O marido voltou a filmar o local onde a ambulância estava minutos antes; não tinha mais nada ali. Do lado de fora, a noite estava quieta, era cortada por raios prateados e o vento estava batendo contra o vidro, um balanço que fez gemer a velha moldura de madeira que sustentava o vitrô.
— O que você está olhando?
Barbs pareceu apreensiva antes de responder.
— Eu devia estar com sono, ou coisa do tipo — a mulher objetou. Coçando os olhos com o polegar e o dedo indicador, supriu um bocejo —, mas eu juraria que vi alguém se esgueirando do nosso quintal até a casa dela mais cedo.
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Found Footage
ParanormalA história a seguir consiste em fatos reais, não inventados, manipulados ou baseados em terceiros. Os nomes dos indivíduos retratados (se conhecidos) foram modificados para a segurança dos familiares e envolvidos.