TAPE #16

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Sua cabeça latejava e seu dedo estava enfaixado com gazes. Aqui e ali podiam-se ver pontos vermelhos de sangue no curativo; sentia uma náusea angustiante que lhe revirava o estômago, fazendo-o curvar de dor. Tomou quase dois litros de soro caseiro, alguns comprimidos para dor e alimentos que acelerasse o seu metabolismo; nada parecia adiantar.

Harrison obtemperou algumas notas mentais quando se deitou para dormir naquela noite em que estivera em transe, segundo Rick Shepard havia lhe dito, sofrera de sonambulismo; e o que o doutor afirmara vendo as gravações: nada foi satisfatório para ele.

Na manhã seguinte, iria ligar para os "Paranormais" e pedir para que viessem até a casa averiguar os ocorridos. Iria correr até a Paróquia da Arquidiocese de Boise para conversar com o bispo auxiliar e pedir a permissão de um exorcismo. Caso o pedido fosse negado, a família decidira tomar uma medida mais extrema. Iriam embora.

A casa dos Patterson estava silenciosa naquela altura do dia. Abriz não estava mais passando um tempo com a família. Harrison a havia levado de volta ao asilo em que a senhora passava suas tardes assistindo a programas de culinária na televisão, enquanto praticava tricô.

Nunca que o marido de Barbara deixaria a mãe ficar naquele ambiente, que, mesmo que aparentasse ser amistoso e profissional, era torturante de se ver. O asilo era especial dos demais, tratava pessoas com problemas de memória, como Alzheimer, como sua mãe. Profissionais especializados lhe davam atenção por quase vinte e quatro horas por dia. Podia ser ruim ficar longe de sua amada protetora, mas era para o seu próprio bem.

Jeff estava com a babá temporária do outro lado da rua, a adolescente Lindsey Morgan. A garota sempre andava com Barbara onde quer que ela fosse; no supermercado, na loja de roupas femininas no shopping King James, no parque, etc. Era uma ajudante e tanto, todavia, sempre que a mulher tinha algum afazer que fosse rápido, a menina adorava ajudá-la.
Agora, Billie estava dormindo em seu quarto. Seu estado de anemia agravara e fazia três dias que ele só ingeria água; uma circunstância catatônica. Certa noite, Harrison chegou a forçar um pedaço de pão com presunto para dentro de sua boca, mas ele vomitou logo em seguida.

Quando Barbara adentrou o escritório de Harrison, uma semana depois do ocorrido, para lhe entregar a xícara branca de porcelana do Dallas Cowboys com chocolate quente e marshmallow, o homem fazia uma apostilha com perguntas para o casal que chegaria para averiguar a casa e as atividades, enquanto conversava sobre o filho com alguma pessoa misteriosa no celular.

A caneta esferográfica batucou na folha de papel branca. Ele abaixou os óculos até a ponta do nariz e sorriu timidamente para a esposa ao vê-la parada alguns passos do quadro onde ele vinha trabalhando com os acontecimentos e as maiores perguntas. Todas ligadas diretamente a Abuz e o que ele era. Linhas vermelhas de nylon pareciam veias na lousa, e a maior pergunta sobre elas estavam em letras garrafais: O QUE ELE QUER?

— Desde o começo de abril que ele anda dessa forma — falava Harry ao telefone; Barbara piscou, tentando, decerto, imaginar do que se tratava tudo aquilo. — Eu tinha certeza de que poderia ajudá-lo com os melhores médicos aqui da cidade. Talvez eu tenha esperado tempo demais, mas os sintomas surgiram aos poucos com ansiedade e comentários estranhos, qualquer pessoa pode ter isso. Ainda mais uma criança. Depois vieram os acontecimentos. Uma porta se abrindo. Um objeto amanhecendo em outro lugar e passos ecoando pela casa quando não tinha ninguém andando. Eu tinha esperança de que passasse, ou de que ele só precisasse de um tempo para se adaptar à vida com o irmão mais novo. Só que ficou cada vez pior. E agora...

A família de Harrison era de uma geração que não ia ao médico a não ser que houvesse alguma lesão que se pudesse ver com os próprios olhos ou sentir com os dedos. Incomodar um estranho com os detalhes íntimos de sua vida era inconcebível.

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