Prefácio

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 O problema que este livro aborda, embora tão antigo quanto a humanidade, merece a atenção do leitor esclarecido de hoje. Em graus diferentes, todas as civilizações expressaram seu medo e intranquilidade ante a passagem, ocasional, mas repetida, de fenômenos em que seres humanos se julgaram vítimas de entidades hostis dotadas de poderes sobrenaturais. Os homens nas diversas culturas vêm respondendo a esse mistério de várias maneiras, utilizando palavras, gestos e amuletos de forma ritualística para defender-se de ataques demoníacos. Isso origina-se tanto nas antigas civilizações como até as mais recentes,  visto nos modernos rituais católicos de exorcismo.

No mundo moderno, os indivíduos costumam assumir três posições principais — ou a combinações destas três formas de pensar — ao ter notícia do assédio de poderes misteriosos. A primeira, a posição científica, vê o mundo e talvez o universo — como regido por leis invariáveis já descobertas ou passíveis de descoberta por pesquisadores científicos. Diametralmente oposta é a que rejeita — quando não ignora simplesmente — as descobertas da ciência; considerando a realidade empírica superficial e sem sentido, tem por bases invisíveis realidades espirituais e pode ser classificada de supersticiosa. A terceira posição engloba um pouco das outras duas. Apesar de apegar-se a métodos científicos, abrange as perspectivas da ciência positiva, incorporando dimensões espirituais da realidade através de considerações teológicas e filosóficas. É o que podemos chamar de posição religiosa.


Podemos estar certos de que fenômenos como os que o livro descreve realmente acontecem — e a pessoas e famílias comuns que não são nem exibicionistas nem ávidas de atenção. Com frequência a reação dos homens de ciência é negar a realidade dos fatos e mesmo recusar-se a examinar as evidências. Aqui, parece, estamos diante de preconceitos. Por outro lado, os cientistas que dão crédito às evidências e submetem-nas à metodologia científica em busca de explicação, em geral, restringem as hipóteses aos limites atuais da ciência, ou presumem que descobertas futuras um dia explicarão o fenômeno. Esse é um enfoque sensato e integral.

As pessoas supersticiosas agarram-se aos fenômenos psíquicos como justificativa para uma visão de vida muitas vezes desarrazoada. Acrescentar medos irracionais e noções insensatas e preconcebidas a situações como as de FOUND FOOTAGE, aqui descrito, pode apenas intensificar os sofrimentos das pessoas envolvidas. É evidente o preconceito assim revelado.

É desnecessário dizer que os pontos de fé estão integrados ao enfoque do indivíduo religioso. Como a revelação pressupõe uma comunicação com Deus, e, portanto, a existência de um Deus interessado nos problemas humanos, vemos que também nesse caso há uma discriminação, a saber, o preconceito da fé. O crente equilibrado admirará e aceitará as descobertas da ciência moderna, mas concluirá que, mesmo admitindo futuros progressos, tem visão curta quem julga não possuir a ciência e realidades profundas além da esfera empírica da erudição natural. Como o cientista de larga visão, o crente de sensibilidade pode também ter um enfoque integrado dos fenômenos psíquicos.

Concluímos assim que qualquer que seja a posição de um indivíduo, ela sempre se baseia em certos preconceitos cuja validade não pode ser demonstrada para a total satisfação daqueles que preferem adotar um ponto de vista diferente. Quando ocorrem fenômenos psíquicos num lar, a família procura ajuda; seus membros podem se chocar igualmente ante a ingenuidade dos supersticiosos. A insegurança dos que dizem acreditar no sobrenatural, mas sentem-se envergonhados e confusos com as próprias crenças, e a desdenhosa arrogância do cientista que nega as experiências vividas.


Infelizmente essa complexa teia de ignorância, medo e preconceito causa muito sofrimento para a despreparada família já envolvida numa situação conflitante e assustadora. É um desses casos que aqui relato. Fosse essa narrativa ficção, poderíamos ignorá-la como irrelevante. Entretanto, trata-se de um relato feito pelos próprios protagonistas dos incidentes, uma família e um sacerdote, e como tal, deve-nos levar a refletir. Aqueles que já estiveram envolvidos em investigações psíquicas poderão verificar que o caso não é atípico.


Devido às incertezas que cercam o paranormal, eu, que acredito na ciência e na religião, estaria sendo omisso se não advertisse os leitores tanto contra os perigos da arrogância que pretende dominar o desconhecido quanto da bravata que se jacta de controlar o transcendental. O homem sábio sabe (haver) coisas que desconhece — e ele, prudente, respeita o que escapa ao seu controle.  



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