EPÍLOGO

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Um chiado e um feixe de luz anunciou que a filmagem havia começado. A data e hora no canto inferior direito da tela indicava que era uma bela e ensolarada manhã de sábado, às 09h43, cinco anos depois do acontecimento da última fita dos Patterson.

Um rapaz beirando a casa dos vinte e seis anos, de cabelos castanhos na altura dos ombros e busto largo e avantajado, carregava a filmadora pelo que parecia ser um quintal onde estava acontecendo algum tipo de venda de garagem.

Mesas estavam postadas cá e lá com alguns objetos e uma etiqueta com o seu devido valor. Os preços máximos de certas coisas não passavam de cinquenta dólares, o que era um achado e tanto para a tal busca de inspiração que Caleb Thomas estava procurando a vários meses.

Como um bom e velho escritor infanto-juvenil, o homem sempre estava atrás de boas histórias para lhe servir como base de sua imaginação fértil, todavia, o bloqueio criativo que enfrentava a poucos meses estava deixando a tonalidade de seu cabelo grisalha; estava sendo frustrante. Nem mesmo Ashley, sua mulher, estava conseguindo ajudá-lo naquele processo criativo.

— Papai — gritou um garotinho de cabelos negros e sardinhas na bochecha, correndo na direção de Thomas. Usava uma fantasia amarela semelhante ao uniforme do Wolverine nos X-Men clássicos. A criança deslizou pela grama, pulando uma bola de basebol e se escondeu atrás da perna do pai quando o mesmo ameaçou filmá-lo. — O que são todas essas coisas? — perguntou, timidamente.

Ashley Thomas James, uma jovem de cabelos negros e pele morena se aproximou do marido também, com um sorriso amigável nos lábios. Entretanto, parou alguns metros à frente para cumprimentar um homem trajando uma batina de padre e olhos cansados.

— Padre Sam — Ashley cumprimentou. — Como vai?

Com a filmadora apontada para todo o quintal, Caleb pegou na mão do filho e mostrou todos aqueles objetos novos e antigos espalhados pelas superfícies.

— Chad, sei que é uma criança inteligente — proferiu o pai, de modo brincalhão —, então vai entender o que é uma venda de garagem. Primeiro, você precisa de um item para penhorar aqui, como esses vários objetos. Para obtê-lo, é necessário deixar passar muito tempo em sua casa, anos vivendo e existindo, até chegar ao ponto de precisar mais de dinheiro do que do item. Esse é o passo mais fácil. Basta possuir um item e um corpo com necessidades lucrativas e esperar. E quando você percebe que precisa de dinheiro e que precisará se livrar de seus bens? Em geral no chuveiro. Você vai cair de quatro, cercado por uma forte escuridão cintilante, a água quente escorrendo pelo corpo, e saberá qual objeto irá se desapegar. Vai notar o cheiro de mofo e sabão e sentir uma pontada de pânico ao se dar conta da própria solidão. Será como a maioria dos banhos que já tomou quando ficar adulto... então...

— Você vai mesmo nos deixar? — lamentou Ashley, fazendo Caleb Thomas se perder nas próprias palavras. — Austrália é muito longe, como vai ficar todas as missas a partir de agora?

E seus olhos caíram sobre uma caixa velha de papelão no chão, próximo ao celeiro. Não estava etiquetada, mas parecia ser importante. Tão importante que desprendeu sua total atenção da mulher e do padre.

— Espera aí, amigão...

Thomas tirou alguma coisa do próprio rosto enquanto avançava correndo em direção à caixa. Em suas mãos pôde-se ver que era uma máscara de plástico do Incrível Hulk.

Ao ver que o pai havia retirado a fantasia, Chad Thomas bradou.

— Você não pode tirar a máscara, papai. Você é um Vingador!

Ao virar para trás para ver o filho, acabou descuidando-se e trombou em uma mulher de cabelos negros e lisos rentes ao rosto.

Ao notar que estava sendo filmada, rapidamente virou o rosto e ocultou a própria face. Uma mulher um tanto quanto peculiar e misteriosa, digamos de passagem.

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