Parecia um sussurro sombrio ao vento. Ou talvez um frio na espinha. Alguma coisa. Uma canção etérea que apenas Billie e Barbara podiam ouvir. Uma tensão no ar. Alguma premonição, talvez, temendo algo ainda mais grave que estivesse por vir. Existiam desgraças que quase esperamos na vida, como a morte de um ente querido, e existem momentos sombrios, momentos de súbita violência, que mudam tudo. A morte de Vivian, por exemplo, e a grave doença de Billie que se alastrava cada vez mais, transformando sua personalidade completamente, eram um desses fatores.
Havia a vida da família Patterson antes do diagnóstico incerto de Billie, o filho mais velho do casal. Existe a vida deles agora. As duas têm dolorosamente pouco em comum. O que antes era uma família comum e feliz, a de agora estava repleta de lamúrias, dores e pânico.
E o terror só aumentava a tensão na casa, criando aquela atmosfera sufocante no ambiente. Jeff brincava com alguns animais de borracha em um carrinho de bebê ao lado do sofá na sala de estar. Em um colchão no chão, Shepard, Bianca e um homem desconhecido de cabelos grisalhos, que se denominava especialista em neuropsiquiatria, faziam uma série de exames caseiros em Billie, observando-o por quase meia hora; remexendo-se, debatendo-se. Puxando os cabelos e, de vez em quando, fazendo caretas e levando as mãos às orelhas, como se quisesse bloquear um som repentino e ensurdecedor. Berrava obscenidades. Gritava de dor. Por fim, jogou-se de frente no colchão e, com as pernas encolhidas embaixo da barriga, passou a gemer baixo e sem qualquer coerência.
Alguns passos mais afastados da cena, Barbara estava parada, sozinha; insistira psicologicamente para que o marido, a sogra e o irmão fossem ao enterro da cunhada, Vivian, que estava sendo realizado há alguns quarteirões de onde moravam, em um cemitério parque. Prometeu tomar conta dos filhos enquanto eles se despediam após a chegada dos doutores, e lamentou-se por não poder dar o último adeus a pessoa que mais gostava em vida, depois de sua própria família.
Ainda parecia surreal que a garota houvesse tirado a própria vida daquele modo. Ou não. Ela assistira aos vídeos compartilhados das cenas internas do hospital, e, temendo a reação do marido, não lhe mostrou. Achava melhor que ele não soubesse da existência daquilo. Para o seu próprio bem. Cada um lidava com a morte de uma forma diferente.
A garota temia a morte. Ainda assim, a presença dela sempre renovava sua experiência. Era sua função ajudar-nos a refletir sobre a estranheza disso que chamamos tempo. Ao ouvir isso da boca de Harrison algumas noites atrás, ela riu. Todavia, naquele momento, parecia fazer sentido.
A câmera do hall de entrada virou-se para a direita, enquanto Barbs piscava, afastando pensamentos carregados de sua mente. Ela havia tirado o vestido preto e agora trajava um vestido sem mangas, que deixava ver sua pele levemente bronzeada e as frágeis vértebras em sua nuca. No rosto, uma expressão concentrada ficou aparente; logo se pôs ocupada em digitar alguma coisa no celular e não notou quando o marido adentrou na casa.
Ele caminhou olhando para todos em volta de seu filho e entrou na cozinha, atravessando a porta de arco que separava os cômodos. Colocou uma sacola de papel sobre o balcão circular e foi arrumando as compras na geladeira de porta dupla. O último item a ser guardado foi o pote de sorvete no sabor preferido da mulher; estava quase derretido quando o colocou no freezer, mas ele sabia que era exatamente assim que ela gostava, bem cremoso, com pedacinhos crocantes de biscoito submersos na calda de chocolate.
Embora fosse difícil para ele, nunca a pressionava. Não podia se precipitar, precisava ter paciência para que a mulher lidasse com os próprios medos e anseios. Na hora certa, ela perdoaria ele por seus erros, e o homem prometia nunca mais repeti-los. Era assim que resolviam as discussões de casal.
A luz entrava pela grande janela que, outra noite, Barbara viu a senhora Ladymoor sendo levada para o hospital. O sol despedia-se de Boise, tingindo o céu de púrpura e laranja. As copas das árvores ao longe pareciam estar pegando fogo. Seria um fim de tarde relaxante, se não fosse seu filho.
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Found Footage
ParanormalA história a seguir consiste em fatos reais, não inventados, manipulados ou baseados em terceiros. Os nomes dos indivíduos retratados (se conhecidos) foram modificados para a segurança dos familiares e envolvidos.