TAPE #1

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— Está gravando? — uma mulher de cabelo negros repicados em um corte acima do ombro perguntou.

A câmera de vídeo perdeu o zoom por alguns segundos, mas logo voltou a focar na jovem, que, naquele momento, foi possível a ver segurando uma criança recém-nascida nos braços, envolta em uma fronha de cor azul marinho.

— Só mais alguns ajustes — a voz masculina por trás da câmera de vídeo respondeu. — Só mais alguns e, pronto! Tudo perfeito. Agora está gravando...

A mulher limpou a garganta.

— Olá mãe — começou a dizer, arrumando a criança nos braços —, este é Jeff, pois é, ele nasceu anteontem por volta das duas da tarde. Ele não é lindo?

O homem por trás das câmeras escarneceu sonoramente.

— É claro que ele é lindo, não é? Puxou o pai.

Quem riu desta vez foi a mulher.

— Tudo bem, então. Acho que você aí já está ciente do que eu tenho que aturar dia após dia, não é? Mamãe, eu sinto a sua falta. Do tipo, demais. Billie perguntou sobre a avó na semana passada e eu não soube o que responder. Mesmo que ele não seja tão mais velho que Jeff nesse momento, ele está começando a entender as coisas. Inclusive aprendeu todas as letras do abecedário! Almoçamos salgadinhos de queijo em comemoração. Ele ama aquela coisa — ela suspirou, aparentemente cansada. — Eu não posso simplesmente dizer a uma criança que a avó dele simplesmente o abandonou por alguma coisa que a mãe nunca conseguiu ao certo compreender.

Lágrimas começavam a ficar evidentes no rosto da jovem, que parecera envelhecer alguns anos. Havia algo de diferente nela. Algo peculiar, por assim dizer. Alguma coisa lamentável, triste, profunda e até mesmo, sombria.

— Você não precisa dizer isso em vídeo, amor — o homem a censurou, carinhosamente.

Com uma das mãos, ela limpou as lágrimas nos olhos.

— Está tudo bem, tudo bem. São os hormônios, sabe? Eu ainda não consegui me livrar de todos eles — ela riu, desajeitadamente. — Enfim, este é Jeff, o mais novo irmãozinho de Billie e o meu mais novo filho. O caçula do papai e, teu neto. Como faz anos que não vem me visitar, acredito que eu seja apenas uma filha morta para você. Talvez eu mereça tudo isso mesmo. Mas aqui está ele. Não sei quando irá ver essa gravação, ou se irá, mas apenas queria deixar registrado caso, algum dia, você me perdoe.

Lágrimas irromperam da mulher. O homem que estava por detrás da câmera oscilou e a abaixou, filmando apenas os próprios tênis de corrida. Se aproximou da mulher, ficando ao seu lado próximo da bancada da cozinha.

— Beleza — pôde-se ouvir a voz do homem dizendo —, chega de gravações por hoje.

E com um bip sonoro, toda a imagem escureceu.    

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