Rick Shepard, o médico da família Patterson, diz que um simples aroma, um sabor, uma imagem ou um som pode desencadear uma lembrança há muito esquecida. As memórias são formadas por conexões temporárias, ou permanentes, entre os neurônios.
Supõe que você pegue um papelzinho onde está escrito um endereço de rua. O seu cérebro usa um grupo de neurônios para processar essa informação. Para memorizá-la, fortalecer as ligações entre eles – e aí, quando você quiser se lembrar do endereço, ativa esses mesmos neurônios. Beleza. Só que nesse processo parte do cérebro age como se a tal informação – o endereço de rua – fosse uma coisa inteiramente nova, que deve ser aprendida. E esse pseudoaprendizado acaba alterando, ainda que só um pouquinho, as conexões entre os neurônios. Isso interfere com outros grupos de neurônios, que guardavam outras memórias, e chegamos ao resultado: ao se lembrar de uma coisa, você esquece outras. O pior é que esse processo não distingue as recordações úteis das inúteis.
Ou seja, ficar se lembrando de besteiras prejudica as lembranças que realmente importam. O simples ato de ouvir rádio pode ser suficiente para disparar esse processo. Acredita-se que determinadas músicas possam "travar" o córtex auditivo, causando aquelas incessantes repetições de uma melodia dentro da sua cabeça.
Mas como a consciência armazena e lê as memórias que estão guardadas lá? Antes de gravar uma informação, o cérebro seleciona o tipo de memória mais adequado. Você já deve ter ouvido falar que existe uma memória de curto prazo, para informações temporárias – um número de telefone – e outra de longo prazo, para as lembranças que duram a vida toda. É verdade. Mas a divisão é mais complexa – na prática, existem 5 tipos de memória, e todos eles podem ser de curto ou longo prazo. São elas processual, visual, episódica, topocinética e semântica.
Ninguém sabe exatamente em que parte do cérebro elas se escondem, mas tudo indica que o processo é coordenado pelo hipocampo e pela amídala. O hipocampo é vital para a formação das memórias. Você já ficou bêbado e esqueceu o que tinha feito? Foi porque o álcool paralisou seu hipocampo – e, por isso, o cérebro parou de gravar as memórias daquela noite.
Já a amídala está ligada às lembranças mais fortes que existem: as memórias emocionais. Já reparou como você nunca esquece aquele dia em que levou um fora, ou do que estava fazendo na manhã do 11 de Setembro? A amídala garante que nos lembremos de informações sobre ameaças ou eventos traumáticos, pois essas recordações podem ser vitais para a sobrevivência. Mas, em situações muito extremas, acontece o contrário – é por isso que quem sofre um acidente de carro dificilmente se lembra do momento exato da batida. O cérebro tem mecanismos para bloquear certas informações.
Na maioria das vezes, algo muito traumático pode fazer você esquecer coisas que foram primordiais em sua vida há alguns anos. Coisas do tipo...
Na manhã seguinte ao ocorrido, Barbara estava sentada de frente para o irmão na cozinha da residência. A filmadora estava posicionada em seu lugar habitual de sempre sobre a mesa circular; Samuel tamborilava os dedos no pires onde estava depositada sua xícara de café, pensativo; seus olhos voltaram-se para a lente da câmera e ele suspirou. Pensamentos martelando sua cabeça à mil por hora.
— O que você tem? — Barbara quis saber, nunca tinha visto o irmão tão calado.
Samuel levou o indicador até a boca e roeu a pele de seu dedo por alguns milésimos. Abaixou as mãos, remexeu-se na cadeira e olhou para a irmã.
— Alguma coisa nessa história toda está muito estranha — começou dizendo, enquanto atraía a atenção de Harrison, que fritava alguns bacons no fogão para o café da manhã, padre Anthony, que interrompeu sua meditação, e padre Raphael, que parecia estar fazendo anotações de um livro semelhante a bíblia, de capa preta e muito antigo e surrado. Podia se ler Rituale Romanum em sua capa de couro.

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Found Footage
ParanormalA história a seguir consiste em fatos reais, não inventados, manipulados ou baseados em terceiros. Os nomes dos indivíduos retratados (se conhecidos) foram modificados para a segurança dos familiares e envolvidos.