TAPE #3

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— Ei, garanhão, o que você está fazendo?

Barbara estava com a filmadora apontada para uma escada mediana de aço inoxidável. Com um dos pés no sexto degrau e outro no quinto para se equilibrar, Harrison apareceu trajando uma velha e suja regata branca. Havia fuligem por todo seu rosto, e em suas mãos sujas, deixava evidente que ele estivesse trabalhando desde muito cedo.

Harry abaixou os olhos e sorriu. Um sorriso tão contagiante e branco que metaforicamente poderia ser capaz de cegar quem o estivesse encarando. Seu sorriso era uma de suas qualidades.

— As duas mulheres que mais amo na vida juntas — ele ponderou. — Isso é excitante.

Barbs virou a câmera em mãos com dificuldade, de modo que mostrasse o seu rosto um pouco fora de foco. Após o enquadramento, fez uma careta de zombaria; em seguida, voltou-a em posição original e estendeu a mão para que Harry descesse os degraus com mais segurança.

O forte calor fazia com que gotas de suor aparecessem na testa de Harrison, que as enxugou com uma velha flanela alaranjada que usava para polir o seu Mercedes-Benz classe C de quatro portas. O veículo tinha vindo para a residência dos Patterson após o marido se demitir da antiga concessionária onde trabalhou por seis longos, e infernais, anos.

— Eu estava trocando a luz do corredor — ele respondeu para a mulher, como se fosse o maior perito no assunto —, e acabou que tive que instalar novamente toda a fiação. Parece que acenderam um isqueiro que derreteu todos os fios. Isso deve resolver o problema agora. É a segunda lâmpada essa semana que queima. Sem contar a do banheiro do primeiro andar e a do abajur no quarto do Jeff, que já perdi as contas.

Barbs concordou com a cabeça. A lâmpada do abajur em formato de panda do quarto de Jeff vinha sendo um problema desde que ele chegou na família. De imediato, a família achou que estavam ligando em alguma tomada 220W, mas perceberam que a que estava instalada naquele cômodo era de apenas 110W. Após a quinta lâmpada queimada, eles tiraram o objeto da tomada e simplesmente esqueceram que ele existia. Rapidamente se tornou apenas mais um item de decoração, como muitos outros.

— Conte para as donas de casa o que houve com as lâmpadas — articulou Barbara —, e onde elas devem ligar para contratar o seu serviço?

Harrison levantou a lâmpada queimada de um modo que ficasse no centro da lente da câmera, e a sacudiu travessamente no rosto da esposa.

— Está torrada, mortinha, já era — explicou. — Crianças, não façam isso em casa, é trabalho apenas para um macho alfa como eu! E sobre onde ligar para me contratar, temo dizer que sou um produto de edição limitada dessa mulher que está gravando.

A imagem focou uma mancha de graxa na regata de Harry, na medida que ele se aproximou o bastante para beijar Barbara; mesmo com a imagem fora de enquadre, um harmônico "smack" do beijo pôde ser ouvido.

— E o que você está fazendo com a minha câmera? — Averiguou Harrison, soltando uma orgulhosa aspiração.

O homem tornou a se afastar e começou a retirar todo o seu equipamento, como martelo, chave de fenda e uma cerra já quase cega, do cinto de ferramentas; colocou todos os equipamentos organizadamente em uma maleta nos pés da escada que estava usando para trocar a fiação mais cedo, e os esqueceu ali mesmo. Mesmo que suas coisas fossem, de certa forma, organizadas, Harry era um completo desleixado.

— Eu estava apresentando a casa para quem estiver do outro lado assistindo. Já que você passa metade do seu dia gravando os meninos, pensei que seria uma boa mostrar todo o ambiente.

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