Harrison colocou a cabeça para dentro do quarto e olhou para o corpo dormente da esposa e de Billie, e logo desceu as escadas; uma terrível coincidência o que o garoto havia dito naquela madrugada sobre Vivian; uma péssima e brutal coincidência onde a mente de uma criança pudesse criar uma imaginação que viesse a ser autêntica sem o seu próprio consentimento.
A notícia viera em uma péssima hora, o coração do rapaz demorava para raciocinar que sua irmã tirara a própria vida, poucas horas depois de seu surto no hospital ao ver Billie. Cogitou a hipótese de que alguma coisa realmente delicada estivesse acontecendo, mas apenas conjeturou; logo se conformou que quando as coisas tendem a dar errado em nossa vida, são por obra do destino, não de algo paranormal.
Doía em seu íntimo que houvesse acontecido uma atrocidade daquelas, mas era como costumava dizer para si mesmo quando tragédias aconteciam envolvendo casos como aquele, nós realmente nunca sabemos o que se passa na cabeça de outras pessoas até que elas façam o que estiverem dispostas.
Ele fechou os olhos em frente a bancada da cozinha e inspirou profundamente, contando até dez, e, em seguida, expirou. Tinha que lidar com aquilo, só restava ele. Pensou em pegar um avião, mas não achou passagens tão em cima da hora; deste modo, ele queria sair naquela mesma hora, antes do amanhecer, de carro.
Olhou mais uma vez em direção ao hall de entrada e o silêncio da moradia lhe encarou de volta.
Rabiscou algumas palavras em um bloco de notas, caminhou alguns centímetros e colou o bilhete na porta da geladeira. A folha de papel amarela deu um forte contraste ao branco do eletrodoméstico, permanecendo preso pelo imã contendo uma foto de Billie segurando Jeff no colo; tirada a poucos dias.
Desprendeu o olhar da fotografia com dificuldade; pegou sua mala no topo da bancada da cozinha e caminhou para fora de casa. Estava embarcando em uma viagem de várias horas pela estrada até a casa da mãe. Iria buscá-la para os preparativos do funeral da irmã.
Pensar que teria que explicar para sua velha, e doente, mãe o que havia acontecido partia-lhe o coração. Linhas de expressões eram visíveis em sua testa quando, por uma última vez, olhou em direção à escadaria; fechando a porta ao sair.
Barbara acordou algumas horas depois disso. Billie ainda dormia de maneira enfadonha e profunda ao seu lado na cama do casal; esfregou os olhos e beijou a bochecha do menino, fazendo-o se remexer nos lençóis e resmungar algo como "Agora não", sem abrir os olhos.
Então, levantou-se, rumou até a suíte e, depois de longos minutos, saiu de lá com os cabelos úmidos e roupa trocada; camisa cor-de-rosa de manga curta, calças jeans casual e uma bota de cano alto. Seu corpo parecia delicadamente bem esculpido naquelas primeiras horas do dia.
Ela saiu do quarto e desceu as escadas em formato de L que dava direto ao hall de entrada; na cozinha, ligou a cafeteira e retirou da geladeira um bilhete amarelo. O leu e sorriu, levando-o ao peito, em um ato de profundo sentimentalismo. Guardou a carta sobre o peso de uma galinha de porcelana e andou até o armário mais alto, o que ficava acima da geladeira, e guardou ali um pequeno frasco branco que estava em sua mão.
Nos dias que sucederam a visita ao médico, Barbara e o marido tiveram extremo cuidado para que o filho tomasse a Ritalina nos horários certos. Mas até a noite passada, no entanto, eles não haviam notado melhora alguma. Na verdade, percebeu sinais sutis de piora gradual: maior esquecimento, desorganização e uma reclamação, quando Billie disse que sentia náuseas; quanto às táticas para chamar a atenção, apesar de as mais familiares não terem ocorrido com frequência, outras apareceram: o menino disse sentir um "cheiro" desagradável no quarto.
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Found Footage
ParanormalA história a seguir consiste em fatos reais, não inventados, manipulados ou baseados em terceiros. Os nomes dos indivíduos retratados (se conhecidos) foram modificados para a segurança dos familiares e envolvidos.