*** CINCO ANOS ANTES ***
Os dedos de Harrison bateram de leve na porta do banheiro. Estava preocupado com o fato da mulher estar trancada ali por vários minutos.
Com um metro e oitenta de altura, Harrison Michael Patterson era cerca de quinze centímetros mais alto que Barbara Adams Waterhouse. E a atraente aparência de Harrison fazia com que Barbara sentisse ligeiramente a ameaça de, mesmo casada com ele, ser relegada a segundo plano.
Harry tinha vinte e cinco anos nesta gravação, cinco anos mais novo do que atualmente é, e ainda dois a mais que a própria esposa. Mas os anos a mais só serviram para melhorar sua aparência. Sua vasta cabeleira estava charmosamente negra, mais do que nas fitas atuais, e ele se mantinha ainda em forma, passando no mínimo uma hora por dia no clube de tênis. Um homem elegante, com certeza.
A porta ficava em meio a um corredor bastante iluminado pela luz solar que jorrava de três grandes janelas em frente. Uma filmadora de baixa qualidade registrava cada partícula de claridade que entrava no cômodo, e estava posicionada nas mãos de Harry.
Seu amor por aquele tipo de equipamento vinha de muito tempo atrás. E era tão intenso que nunca morria. De certo, como o seu amor por Barbara.
— Amor? — chamou o homem, tornando a bater na porta de madeira escura. A residência que estavam era desconhecida. Não havia mais nenhum registro dela nos arquivos de propriedade dos Patterson, em 2010. Provavelmente, tinha sido demolida. Segundo Samuel ao ver as gravações e ajudar os policiais a entender o que aconteceu naquela noite, a casa fora a primeira moradia que o casal comprou após terem se casado. — Está tudo bem aí dentro?
Harrison, aqui um rapaz mais jovem, abaixou a câmera, aproximou o rosto da porta e seu ouvido encostou na madeira. Permaneceu em silêncio por vários longos minutos, apenas escutando qualquer tipo de ruído e barulho que estivesse vindo de dentro do banheiro. Já fazia muito tempo que Barbara havia se trancado ali.
Com um clique, a passagem rangeu e o homem a abriu, encarando com a lente da câmera o rosto jovial de Barbara. As sardinhas do rosto mais intensificadas, os cabelos negros lisos e escorridos atrás da orelha, longos e sedosos. Os olhos castanhos estavam carregados de lágrimas. Em mãos, ela segurava a espécie de um termômetro. Termômetro não, um teste caseiro de gravidez. A garota entregou o objeto para que Harry observasse as duas marcações fortes indicando que estava grávida.
— Você... — as palavras do marido morreram no ar. Seus olhos iam do teste até o rosto entristecido da mulher, e, novamente, voltavam para o item. — Isso quer dizer que...
Barbs se sentou na privada e passou a mão pelos cabelos.
— Eu não tive a intenção — exclamou a garota, encolhendo-se no assento improvisado.
O homem depositou a câmera de vídeo sobre o apoio da banheira de canto, de modo que pudesse filmar o casal da cintura para cima, e se posicionou de frente para a mulher, de joelhos. Como se a pedisse em casamento.
— Você não teve a intenção de ficar grávida? — perguntou, com um olhar de suspeita. — Barbara, qual é? Você consegue ver no meu rosto essa expressão idiota e o sorriso de orelha a orelha? Essa é a expressão que diz: este é o momento mais feliz da minha vida! Por que você parece tão abalada com isso?
Mas a esposa não estava escutando. Com um espasmo, ela levou as mãos à garganta. Ofegou, dobrou-se para a frente e começou a tossir. Tossiu até seus pulmões doerem.
Harry franziu a testa.
— Você está bem?
Barbs balançou a cabeça, iniciando outro acesso de tosse.
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Found Footage
ParanormalA história a seguir consiste em fatos reais, não inventados, manipulados ou baseados em terceiros. Os nomes dos indivíduos retratados (se conhecidos) foram modificados para a segurança dos familiares e envolvidos.