— Está na hora de uma reunião familiar — estourou o demônio, sorrindo de canto de lábios.
Naquele momento, Barbara não teve medo, mas sim, raiva. Abuz já tinha tirado seu bem mais precioso em vida, Billie, e havia jurado destruir a sua família diante de seus olhos. Na infância, fora o responsável pelo ataque que Samuel sofrera e momentos de pânico que vivenciou ao longo da vida com eventos paranormais. Mas não agora.
Havia começado com ela, então, Barbs tinha que dar um fim àquilo.
— Eu quero falar com o meu marido.
Abuz deu um passo para frente, poucos centímetros apenas, mas o bastante para fazer a mulher se encolher, começando a ficar apavorada.
— Você está falando com ele.
Ela pensou um pouco nisso, depois assentiu com a cabeça.
— Meu marido não tem olhos totalmente brancos.
O demônio piscou. Uma rajada de ar invadiu os pulmões de Barbara e a fez engasgar-se com absolutamente nada. O ar faltando em seus pulmões a fez se curvar, não afrouxando o filho no colo em nenhum momento. Sangue começava a pingar do nariz da mulher.
Logo, todo o fenômeno havia acabado; Barbs limpou o nariz com as costas da mão.
— Harrison — ela ponderou entre um soluço ou outro —, você pode resistir a ele como o nosso filho fez. Eu sei que você está me ouvindo e que é forte... por favor...
Dessa vez ele riu para ela.
— Barbara, minha querida — ele falou —, eu não estou possuído. Isso é integração. Ele me convidou para entrar. Você não entende? Isso é permanente.
Ela tremeu e soltou um suspiro, Abuz estalou a língua em fingida irritação, mas quando terminou de falar o sorriso desapareceu e o rosto sombrio e belo de Harry ficou ainda mais perturbador. E dos lábios de Barbara, ele a ouviu tentando lutar contra os pensamentos que lhe varriam a mente, que se tornou novo naquela mulher. Jamais esperara ouvir aquelas palavras dela.
Eram palavras que aprendera no catecismo quando Samuel se tornara padre. Como pareciam naturais, mas como pareciam estranhas e perigosas também.
— Por que está machucando todos a minha volta? O que você quer?
Abuz ergueu um pouco as sobrancelhas e tornou a sorrir. A provocação em sua voz ainda era afável, mas ela achou que poderia tornar-se muito pior se permitisse e lhe desse espaço. Enquanto o mantinha entretido em um diálogo, sua mente varria suas opções de escape.
O demônio trotou em direção a mulher e com a mão escurecida, tocou a face da esposa.
— A única coisa que sempre quisemos — ele começou a contar, descendo os dedos e tocando nos ralos fios castanhos do topo da cabeça de Jefferson —, é aquilo que me pertence. O que é devidamente meu por direito concebido por sua mãe.
Barbara fechou os olhos e começou a chorar, apertando o filho ainda mais contra o próprio peito. Abuz se afastou; estalou o dedo e chamas irromperam de dentro da lareira.
— Eu fui uma das primeiras criações — enquanto o demônio andava pela casa, parecia fascinado por estar definitivamente ali, mesmo que o corpo de Harrison não fosse preparado e capacitado para aquele tipo de possessão. Logo mais, sua carne iria ceder e o recipiente apodrecer. Ele precisava do recém-nascido. — Você sabia disso? Eu e meus irmãos fomos leais e perfeitos de todas as formas. E sabe o que Deus fez? O grande Homem ficou entediado. Ele ficou entediado com a própria criação e com nossa perfeição. Então ele criou os homens, mortais e feios, e então ele construiu uma caixa de areia só para eles poderem brincar, e encheu com prazeres sensuais e tangíveis. Prazeres e pecados que nós nunca poderíamos sentir, provar ou experimentar. Ele criou o Paraíso, e o entregou para um bando de primatas para que se acasalassem e defecassem em meio às suas sujeiras. Esse mundo foi feito para nós e eu vou pegá-lo de volta.
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Found Footage
ParanormalA história a seguir consiste em fatos reais, não inventados, manipulados ou baseados em terceiros. Os nomes dos indivíduos retratados (se conhecidos) foram modificados para a segurança dos familiares e envolvidos.