Entry #5

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— Harrison, qual é? — gritou Vivian no corredor. A câmera de vídeo estava posicionada em sua mão e fitava a porta branca de madeira do banheiro da antiga casa dos Patterson. Embora a filmagem estivesse desfocada, podia-se notar um alto murmurinho ao longe e podia-se ver crianças correndo para todos os lados com roupas de festa. Vivian estava deslumbrante em um vestido azul-claro e os cabelos negros penteados para trás da cabeça, sete anos mais nova. Nas orelhas, um brinco de pérola reluzia à luz acesa acima de sua cabeça. Era uma data comemorativa. — Na grande maioria das vezes, quem se atrasa para o casamento é a noiva, não? Parabéns, meu irmão, você acaba de revolucionar até isso.

Vivian esperou em silêncio. Do lado de dentro, a chave girou na fechadura e Harry, com a porta entreaberta, espiou para fora; primeiro ele pareceu desnorteado com a câmera, depois, sorriu e fitou a irmã.

— Você tem algum band-aid dentro da sua bolsa?

O ar escapou aos poucos por entre os lábios da garota, que logo começou a virar o rosto do homem de um lado para o outro, freneticamente.

— Por favor — suplicou —, não me diga que se cortou fazendo a barba? Diga que não estragou essa carinha endiabrada justo no dia de seu casamento?

Harrison agitou as sobrancelhas e levantou um dos ombros. Pareceu que ia dizer mais alguma coisa, mas balançou a cabeça energicamente, como se tentasse apagar os pensamentos, e mostrou o dedo indicador enrolado por papel higiênico e banhado em sangue.

— Eu cortei o meu dedo — ele respondeu, fazendo sua típica voz manhosa, como a de uma criança de cinco anos.

Vivian riu e pensou por um instante. Apoiou sua bolsa de mão no peito e deslizou o zíper, analisando todo o conteúdo em seu interior. Novamente, tornou a rir. Abaixou o queixo e lançou a ele um sorriso malicioso.

Os olhos de Harrison acompanharam o seu olhar e, rapidamente, negou com um aceno de cabeça.

— Nem a pau — berrou ele. Vivian fingiu um olhar raivoso para ele. — Não, eu prefiro perder o meu dedo a usar um curativo de gatinho.

A jovem soltou uma risada, mas o rosto de Harry estava com semblante preocupado.

— Harrison cale a boca. Você já topou casar na presença de um sacerdote mesmo sendo um ateu de merda... por ela! Mas, tudo bem — vociferou a irmã mais nova dos Patterson —, se quer ir na sua festa de casamento com um corte no dedo, pode ir. Não será eu quem o irá impedir... — antes de se dar conta de que o irmão ainda nem estava vestido, a garota tirou o papel higiênico e tocou no pequeno corte de lâmina de barbear em seu dedo. — Está doendo?

Harrison ficou vermelho.

— Não — ele respondeu. Vivian sustentou o olhar dele, e logo o rapaz pareceu uma criança mimada. — Tudo bem, talvez um pouco. Eu não posso ir lá fora com esse corte, e se começar a sangrar na troca de alianças? Seria uma decepção para Barbara...

Vivian baixou os olhos para fitar melhor Harry, e notou que ainda usava o velho pijama de flanela.

— Decepção vai ser se ela descobrir que ainda nem começou a se arrumar!

A cabeça de Harrison girava.

— Será que você poderia fazer menos pressão psicológica? Eu estou à beira de sucumbir aqui de nervosismo...

A garota brandiu a mão livre.

— Estique o dedo...

— O quê? — Harrison nem se deu o trabalho de tentar entender de imediato o que a irmã estava falando; levantou o dedo, fechou os olhos e apenas esperou que Vivian colasse o band-aid cor-de-rosa com várias caretinhas de gato da Hello Kitty em seu ferimento. — Está um pouco apertado.

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