Save Yourself

Capítulo 1 - futuros planejados.

Gwen

Três semanas.
Isso se eu já não enlouqueci.
Porque parece que se passaram três séculos.
Meu nome é Gwen e estou trancafiada aqui nesse quarto no qual é minha casa há três semanas.
Aqui eu tenho uma rotina que se baseia em Cinco Tarefas Para Se Fazer De Manhã.
1. Acordar.
2. Chorar.
3. Ver se alguém de minha família se lembrou que eu existo.
4. Chorar de novo.
5. Levantar, ir no banheiro, ler um livro.
Sim, a quinta tarefa consiste em fazer três coisas, mas que se dane essa ordem.
Não há mais ordens para mim mesmo.
Desde que estou trancafiada aqui, a única coisa positiva é que estou sendo eu mesma, podendo pensar por mim. Não em quem devo ser, nem como devo andar, nem em quem amar.
Quem dera se eu pudesse ver ele de novo...
Já estou me esquecendo de seu sorriso e de sua boca, mas a cada noite eu me lembro cada vez mais de seus olhos. Em como ele certa vez cantou no meu ouvido.
Em como eu amei quando me beijou...
Não, disse a mim mesma, talvez seja por essa causa que eu esteja aqui, talvez Eles tenham descoberto tudo e eu esteja pagando por isso.
Talvez ele esteja pagando por isso.
E isso não pode ser algo que eu possa pensar, pois se algo acontecer...

...

Marine

Acordo com minha mãe me balançando.
- Ah mãe me deixa dormir mais uns cinco minutinhos... - tento convencê-la.
Dormi por umas três horas ontem, esse é o preço que se paga por ler quase a noite inteira.
Se bem que eu odeio ter sono, as horas que eu passo dormindo eu poderia estar lendo, mas eu vivo em conflito: odeio dormir, mas preciso de umas dez horas para me sentir renovada.
- Marine, o seu tutor já está na biblioteca, levante-se e vá tomar um banho AGORA!
Levanto remugando, em outros lugares existem chuveiros elétricos, mas somente aqui na aldeia é errado ter eletricidade, então esquentamos a água no fogão a lenha, o que hoje minha mãe já fez por mim.
Amish, é o que nossa família é a muitas décadas.
Contra celulares.
Contra a tecnologia.
Contra a eletricidade.
Contra a minha geração e tudo o que nós fizemos nos últimos vinte anos...
Mas pelo menos eles me deixam comprar livros, que são encomendados por Daniel, o viajante e meu tutor que traz e compra coisas de fora da aldeia e me faz a alegria da minha vida.
Farei 16 anos daqui a duas semanas. Poderei ver e escolher o livro que eu quiser. Poderei ser livre para escolher se eu quero ficar aqui, casar e criar uma família ou sair e nunca voltar.

...

Maven

- Maven, você está bem? - Esfrego os olhos para tentar passar o sono. Desde que meu irmão Victor morreu, não consigo dormir direito.
"Eu sou Maven, sou um guerreiro e nenhum homem pode me destruir."
Nenhum homem vivo, eu quase me corrijo. Quase, pois o meu mundo gira em fantasmas, primeiro, minha mãe, depois, meu tio, e agora, Victor.
Sorrio para Jasper, meu companheiro da Guarda que está comigo vigiando nessa noite. Gosto dele, ele realmente cuida de seus irmãos da batalha, ajuda os recrutas e adora fazer bebidas depois do toque de recolher. Ser um amigo legal não o ajuda a ser um cara extremamente feliz no que faz, muitos de nós morrem, porém isso não faz dele um cara que tem poucos amigos, e, tipo, eu sei que, teoricamente, se eu morrer, ele iria chorar para um cacete.
Acho que estou ficando frio. Talvez nessas circunstâncias, todo mundo esteja ficando assim, no mundo em si, todos estão ficando insensíveis, acho que eu só acelerei o processo.
Não há ninguém mais comigo. Pelo menos não fora da Guarda.
Guarda.
Minha casa.
Meu lar.
Eu entrei para a Guarda há uns quatro anos, a Guarda é simplesmente um grupo de guerreiros que ajudam os governos que mais precisam.
Somos mercenários legalizados, ou algo do tipo.
O lema da Guarda é: ajudar o país que precisar sem questionar.
Talvez sejamos mercenários mesmo.
Talvez eu esteja enlouquecendo.
Ou talvez eu simplesmente esteja com sono.