Marine (dias atrás)
Depois de me abraçar por algo que pareceu anos, ela me libeta de seus braços esguios e apresenta-se como Yael Kannister, sobrenome diferente do de minha mãe, mas porque no mundo atual troca-se quando você casa.
A primeira coisa que me impressiona em Lywinn além da paisagem é o barulho. Milhares de carroças de metal, desculpe (é o habito), de carros andando.
E, quando minha tia percebe meu espanto com isso, conta que nós três iremos andar em um.
Quando sento nele e este começa a andar, tenho um certo pânico, pois se ele descontrolar-se eu não tenho como fugir.
Entretanto, as janelas estão abertas, e Yael diz para eu colocar a cabeça para fora, ver mais de perto os aromas e as cores de Lywinn, de meu novo lar. Obedecendo de muita boa vontade, pois estava meio presa em volta daquele carro, coloco minha cabeça para fora da máquina.
Meus cabelos, antes trançados, em contato com o vento desmancham-se. Rapidamente coloco a mão para amarrá-lo, pois andar com o cabelo solto é errado para uma moça soltera.
Mas então olho em volta e tudo se transforma em meu olhar. Dane-se meu cabelo.
Em um lado, existe uma feira, com suas tendas de tecido coloridas, com o cheiro forte de um tempero exótico. Em outro, o rio Crystal brilhando único, o sol do fim da manhã resplandescendo, dourado e amarelo e todas as outras cores juntas.
E também, no meio disso tudo, pessoas. Todas em suas cores, sorrisos e vozes diferentes. Todos com roupas e pensamentos exclusivos. Vários adultos, idosos, crianças e jovens.
E a maioria das garotas nem dão bolas para os cabelos soltos, então por que eu deveria dar bolas para o meu?
Sinto-me liberta. Feliz. E muito abraçada por essa cidade exuberante.
Espero que eu consiga abraçá-la também....
Depois de passear pela primeira vez em Lywinn, minha tia nos leva a sua, e agora minha também, casa.
De primeira, estranho. Paramos em uma loja de flores. Quando desço do carro, com minha tia ao meu lado, com a bolça em mãos para procurar uma chave.
Resolvo erguer minha cabeça para cima e vejo um segundo andar, com uma linda sacada, cheia de flores como no andar térreo, mas delicadas e selvagens ao mesmo tempo, exatamente como eu sonhava conhecer quando viesse em Lywinn. E então entendo, é a combinação dos meus tios. Sim, essa é minha nova casa.
Tia Yael sobe as escadas, que ficam anexas ao lado da loja, eu a acompanho, seguida por meu tio.
- Bem vinda, querida, a nossa casa. - deseja minha tia assim que abre as portas do segundo andar.
- Não tem como não ser bem vinda aqui tia, sua casa é linda! - sorrio para ela.
Na entrada da casa a primeira coisa que você sente é o cheiro de flores para todos os lados. E então, percebe coisas eletrônicas que não faço a mínima ideia para quê servem. Um tapete fofinho. Um sofá. No outro oposto, acho que fica a cozinha, cheia de panelas, foi somente isso que reconheci, pois o resto é completamente diferente de minha casa!
Meu tio pegou minhas coisas e minha tia me guia para o lugar que será minha casa.
O meu quarto é lindo, totalmente branco, uma cama, várias prateleiras, uma escrivaninha, um guarda-roupa e uma enorme janela, que vai do teto até o chão, que deve ter uma pequena sacada.
Agradeci tanto para meus tios que perco a conta de quantas vezes o fiz. Uma oportunidade dessas não é dada a qualquer um, sempre tenho que me lembrar disso, agradecer.
As malas já estão aqui, em cima de minha cama.
Quando abro uma delas, seu cheiro vem até mim. Uma dor percorre meu corpo antes alegre. O cheiro dele. Do cara que gosto tanto, do cara que, depois de ver essas maravilhas desse mundo ainda desconhecido, talvez nunca veja, ou talvez veja, daqui a alguns anos, quando seu velho pai estiver cansado demais para ser viajante e ele assumir seu lugar.
E assim, pensando nele, no meu futuro não-amish e nas pessoas que poderão - ou não - estar nele, eu arrumo o meu quarto dos próximos dois anos.
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Save Yourself
General FictionGwen está presa em seu quarto há semanas. Tudo começou com a morte de seu irmão, Michel, notícia na qual ela desconhece. Marine é uma garota Amish. Entre os dezesseis e dezoito anos, ela pode fazer o que quiser e seus pais não podem julgá-la, muito...