Maven
Pela milésima vez, estou aqui, trabalhando para os outros no domingo, vigiando os muros, na guarita.
O que eu posso fazer se sou o único na Guarda que não tem família e pode ficar para os outros verem as suas?
Acho que sou o "cara legal" que os outros soldados gostam porque cumpro o que eles deveriam estar fazendo. Nada, além disso.
Eu, pelo menos, acho que sou esse cara.
Credo, mano, que saudade eu tô do Victor...
Ele era calmo, pacífico.
Ele brigou comigo quando entrei na Guarda, mas, depois de um tempo, entendeu que era isso para que nasci para fazer, que no quebra cabeça do mundo, a peça que era minha foi feita para completar esse lado.
Pelo menos era isso que nós dois achávamos que era.
Victor era dois anos mais velho que eu, e, mesmo ele sendo totalmente diferente de mim, tanto fisicamente quanto na personalidade, nós nos dávamos muito bem.
Tenho vergonha de admitir, mas tenho tanta saudade que chega a doer.
Como eu queria que ele estivesse comigo, como eu queria que parasse de doer...
Levo um susto quando ouço um tiro na guarita ao lado da que eu estou.
Christoper, um novato, foi baleado, nem fico mais surpreso, pois alguém ser ferido na Guarda era rotina.
Até eu, que por mais evitasse o máximo possível me arriscar, já levei dois tiros, um no ombro e outro perto da vesícula. Acontece.
Eram novamente aqueles rebeldes. Faz pouco tempo que estou novamente em Lywinn e já ouvi tiros demais para um país tão pequeno.
Aqui têm rebeldes demais, segundo o Sargento Treever, por isso viemos até aqui, para proteger o país de morrer jovem nas mãos da Inglaterra. Eu vivia aqui, mas quando morava aqui o país não era rebelde. Como mudou tanto em quatro anos? Idiota, como você mudou.
Olho para baixo mirando com minha arma, é só um cara, e em segundos ele estará morto.
Um tiro e deu. Uma história se acabou. Eu não aguento mais essa merda. Isso é horrível. Como alguém consegue viver toda uma vida assim?
Vivendo, idiota.
Somente a sangue frio, Maven. Simples assim.
Vivendo.
Assim como estou fazendo nesse exato instante, enquanto estou no meu turno e vejo um cara morto a quinze metros embaixo de mim.
Eu não aguento mais essa desgraça.
Não aguento.
Não.
Mas e o que fazer quando se mete em algo assim?
Simplesmente se chega no seu superior e fala: "Acho que não é isso que gosto de fazer, quero demissão"?
A resposta é obvia, não?
Impossível.
Existe uma história que sempre é passada, de superior a superior, de guarda em guarda, e sempre que alguém fracassa em algo, é repetida.
Uma vez, uma cara não aguentava mais aquela vida, que para ele era de "matador". Ele, mesmo odiando tudo aquilo, em poucos anos, já era subtenente.
Um dia, ele resolveu acabar de viver assim.
Ele resolveu tentar algo antes de fugir.
Ele resolveu tentar pedir demissão.
Ele morreu por saber simplesmente aonde era a sede d'A Guarda. Nunca nem encontraram seu corpo.
Ou seja: tem outro jeito.
O jeito que esse cara não conseguiu tentar.
Uma palavra, uma resposta e uma salvação: fugir.
Será que é tão impossível assim fugir para alguém que não aguenta mais essa vida? Que não aguenta mais ver nem seu próprio reflexo no espelho, por se achar um assassino? Será?
Alguém, por favor, me diz como vou sair desse inferno?
Eu não estou bem.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Save Yourself
Ficción GeneralGwen está presa em seu quarto há semanas. Tudo começou com a morte de seu irmão, Michel, notícia na qual ela desconhece. Marine é uma garota Amish. Entre os dezesseis e dezoito anos, ela pode fazer o que quiser e seus pais não podem julgá-la, muito...