Capítulo 9 - vontade de quando criança.

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Gwen

Hoje faz três semanas e dois dias que estou presa aqui, mais ou menos. Estou ficando tão louca que já está ficando suportável morar aqui, solitária.
Será que vou sair daqui algum dia? Acho que sim. Quando? Aí é impossível dizer.

Fico me lembrando de quando eu e meu irmão éramos crianças. Eu brincava somente com os garotos, pois não tinha meninas na vizinhança.
Eu me lembro de Victor, que era gordinho, Chris, um garoto que arrumava briga em tudo e de um loirinho que eu achava bonitinho... como era o nome dele mesmo? Maxon? Matheus? Não lembro. Nesses últimos anos eu tive olhos para um só garoto.
Até ele entrava nessas brincadeiras. E olha que ele preferia ler do que sair de casa. Mas era só eu sair do portão de casa que ele descia também.
Ele me disse ano passado que gostava de mim desde aquela época. Por tanto tempo ele gostava de mim, meu pai!
Eu e os meninos jogávamos bola, bolinha de gude, tocávamos a campainha dos vizinhos e corríamos ladeira abaixo. Era incrível! Como queria que aquele tempo voltasse.
Mas nunca vai voltar, eu sei disso.
Estou com saudade de meu irmão e das nossas brincadeiras. Isso eu queria e poderia voltar. É só eles me soltarem. É só eu correr para os braços de meu irmão.

Eu amo meu irmão mais do que a mim mesma. Nossos pais sempre viajaram muito, então quando algo de errado saia de nosso controle, ficávamos unidos e resolvíamos entre nós dois. Isso nos uniu cada vez mais, ao ponto de eu contar tudo o que acontecia na minha vida e vice-versa. Somos um caso raro, pois nem todos os irmãos são assim.

Sempre que ele precisava de algo, eu o ajudava. Não imagino o porque de ele não me ajudar agora.
Quero fugir.
Mas será que aconteceu algo com ele? Ele está preso, assim como eu? Saiu de casa e me trancaram para não ir com ele? Ele foi sequestrado? Ou eu fui sequestrada?
Tantas dúvidas e ninguém para responder. Acho que vou gritar.
Espera.
Como não pensei nisso antes?

Como acordei faz um tempo, levanto. Não aguento mais esperar. Se você quer algo, não adianta ficar esperando.
Vou gritar como se algo estivesse aqui.

Alguém vai entrar para ver o que aconteceu.
Eu corro.
Simples.
Se encontrar meu pai, corro. Mamãe? Também. E meu irmão? Corro o mais rápido que puder, por mais que doa como um tiro.
Não vou mais tolerar que  me prendam aqui, como um animal.
Não mais.
Ninguém vai me parar.
Nem eu mesma.
Mas hoje não farei isso.
Hoje será um dia de lembranças.
Nem meus livros irei tocar. Não precisarei disto. Somente fecharei meus olhos e lembrarei de que eu mais gostava de brincar.
De pique-esconde talvez? Ou era pular corda, quando os garotos deixavam eu escolher a brincadeira?
Eu não consigo me lembrar! Minha memória já está sendo afetada por essas paredes! Vamos, quantos anos você tinha? Seis ou oito?
Parece que quanto mais questões eu tenho, mais dúvidas aparecem para incomodar minha cabeça.
Acho que quero a minha mãe, como quando eu tinha a idade de brincar.

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