Capítulo 2 - A audácia do robô

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A rotina de todas as manhãs era praticamente a mesma: meu alarme tocava um de meus hip hops favoritos, eu dançava sentada na cama apenas balançando os braços de um lado para o outro com os olhos fechados e então finalmente levantava e ia escovar os dentes, ainda com os olhos fechados. Meu tio Dumas costumava sair muito cedo para o trabalho, portanto era comum que eu sempre estivesse sozinha em casa naquela hora. Enquanto ia despertando, encarava meu rosto sonolento no espelho do banheiro, a escova de dentes presa em um canto da boca.

– E aí gata, você tá bonita hoje, hein? – falei com a voz grossa, enquanto pateticamente elogiava minha própria cara no espelho – Nossa senhora, com um rosto assim você não me escapava!

Dancei mais um pouquinho enquanto ria da minha falta de noção e terminava a higiene matinal. O segundo passo era escolher o que vestir para ir para a escola e era nesse que vinha a parte em que eu cantava. Cantei uma porção de músicas pop clichês, cantei até finalmente me decidir pela calça jeans que eu usava quase todo dia e a maior camiseta que tinha no guarda-roupas – que era também a mais confortável. Quando terminei, percebi que havia atirado diversas roupas para os lados, mas não tinha tempo o suficiente para arrumar, assim como todos os dias...

– AAAAH!!!

O grito fino que saiu da minha garganta provavelmente foi ouvido até do outro lado da cidade. O.X me olhava com os olhos arregalados e só então eu me lembrei de que ele existia – e não apenas existia, como estava sentado no sofá da sala, ouvindo todo o meu ritual daquela manhã. Ah, que maravilha...

– Samantha, você está doente? – O.X levantou e colocou sua mão em minha testa e percebi que ela era um tanto gelada, como o esperado – Por que você gritou?

– Eu... esqueci completamente que você estava aqui... – respondi totalmente sem graça.

– Você estava até mesmo falando sozinha no banheiro, tem certeza de que não está doente?

Ah, ele tinha que reforçar aquilo e me lembrar do quão embaraçosa eu era. Droga... eu não estava acostumada a morar com alguém, ainda mais com um robô...

Fingindo que não entendi o que ele estava falando, fui depressa até a cozinha pegar alguma coisa para comer. Para o meu desespero, O.X me seguiu e sentou ao meu lado, como um cachorrinho atrás do dono. Eu só queria alguns minutos para me livrar daquele constrangimento...

– Samantha, você tem um namorado? – ele me perguntou subitamente e eu quase engasguei com o cereal que tentava engolir o mais depressa possível.

Murmurei um não sem nem olhá-lo no rosto, embora não soubesse por que eu estava constrangida em dizer aquilo para um robô. Tudo bem que era vergonhoso que nenhum dos meninos da escola sequer me notasse, mas não era como se O.X fosse um garoto popular ou algo assim. Ele só era bonito, mas acariciava um disco de vinil de cem anos atrás...

Percebi que ele estava me olhando de cima abaixo e quase engasguei de novo. Será que ele estava usando algum mecanismo robótico para ver o quão não atraente eu era? Será que ele podia ver através das minhas roupas???

– O que você está olhando? – perguntei confusa.

– Eu gosto da sua roupa – ele sorriu – É bonita.

– Não, não é – o encarei ainda mais confusa, afinal de contas eu estava vestindo uma camiseta dois números maior do que o meu tamanho – E ela é uma das razões pelas quais os garotos não olham pra mim, mas ao mesmo tempo não acho que exista uma roupa que me deixe bonita – desabafei, sem saber por que estava dando explicações a ele.

O.X apoiou o rosto nas duas mãos e continuou olhando para mim, provavelmente tentando entender as coisas do mundo humano que não faziam sentido algum para ele.

Projeto O.X: AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora