Capítulo 15 - Quando o robô desejou imensamente poder ser um humano

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Eu não sabia quando eu tinha pegado no sono ou por quanto tempo eu tinha dormido, mas quando abri os olhos, a chuva já tinha passado e finos raios de sol transpassavam pelo vidro da janela daquele velho quarto de hotel. Oxy ainda estava em modo de recarga, adormecido ao meu lado na cama, seu rosto um tanto próximo do meu. Eu devia acordá-lo para irmos até a fazenda, mas olhá-lo dormir me deixava tão calma, tão segura, como se o mundo fosse um lugar muito melhor desde que eu estivesse ao seu lado.

Eu sabia que era um tanto bizarro ficar observando outra pessoa dormir e que não era exatamente uma coisa romântica, só de imaginar alguém me observando dormir... Estranho. Mas mesmo assim eu não conseguia parar de olhar para ele. Demorou provavelmente mais de quinze minutos para que eu me convencesse de que não podia ficar o dia inteiro olhando aquele robô dormir...

Oxy coçou a cabeça e colocou o cabelo para trás com a mão, enquanto me olhava sonolento depois que eu o havia sacudido – um tanto mais que eu imaginava que precisasse, a tal da recarga era muito difícil de interromper. Ainda havia um sorriso estampado em meu rosto por causa do "você sabe que você é a pessoa que eu mais gosto, né?" que fazia com que eu sorrisse mais a cada vez que eu lembrasse, como a menina boba e inocente que eu definitivamente não era. Será que até mesmo minha personalidade estava mudando?

.

Nós pegamos a estrada meia hora depois. O sol estava fraco e a estrada ainda úmida de toda aquela chuva. Eu conseguia sentir o aroma de grama molhada e o vento gelado que vinha da janela me fazia sentir tão viva como nunca me sentia aprisionada em meio à poluição da cidade. Eu estava divagando sobre como de repente tudo tinha ficado melhor e meu dia tinha voltado a ser maravilhoso, quando Oxy deu um grito e apontou para a estrada em frente, fazendo com que eu olhasse na direção de sua mão.

– O que é aquilo? – ele perguntou curioso.

Mais à frente, havia um bonito arco-íris no horizonte. Não era fácil e nem comum ver um desses na cidade e eu nem mesmo lembrava a última vez que tinha visto. Os olhos de Oxy brilhavam tanto quanto os meus, e eu só conseguia pensar naquele velho ditado que dizia: "depois da tempestade, vem a bonança"...

– É um arco-íris – expliquei – É um fenômeno natural que acontece quando faz sol depois de chover. Dizem que se pode achar um tesouro no fim do arco-íris.

– É mesmo? – Oxy arregalou ainda mais os olhos – Nós temos que tentar achar o fim dele então! Onde será?

Sorri porque adorava a inocência dele.

– É só uma lenda – tentei não deixa-lo muito desapontado – E o tio Dumas está no esperando.

Oxy fez bico, antes de voltar seus olhos para a estrada em nossa frente. O arco-íris foi decorando parte do nosso trajeto, que estava bem mais silencioso agora do que na viagem anterior. Minha mente estava divagando novamente quando Oxy interrompeu nosso silêncio com uma pergunta inusitada.

– Se o tesouro no fim do arco-íris fosse um milagre – ele começou e eu percebi que ele ainda estava pensando no que eu tinha dito – Qual milagre você gostaria que te fosse concedido?

Ergui minhas sobrancelhas, surpresa com aquela pergunta, embora a minha resposta fosse bastante óbvia.

– Que meu pai acordasse bem e saudável – respondi e revidei a pergunta – E você?

Oxy assentiu em relação a minha resposta, como se ele já esperasse por ela, e suspirou antes de responder.

– Eu queria me tornar um humano.

Engoli em seco. Era fato que se ele fosse um humano tudo seria muito mais fácil. Ou pelo menos eu achava que seria... Mas, ao mesmo tempo, tem coisas que jamais seriam possíveis se ele fosse um humano.

Projeto O.X: AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora