Olhei para o visor do meu celular e constatei que passava das dez da noite. Eu estava no festival há duas horas e nada tinha dado errado, parecia até um sonho. Meu vestido era lindo, a maquiagem que Daisie fez em mim estava ótima, o sapato de salto não estava machucando meu pé e eu não estava andando toda torta e desengonçada – aquele era o maior dos milagres, aliás – e Vincent estava sendo legal comigo. Legal mesmo, de verdade. Do tipo que me elogiou uma porção de vezes, que pegou em minha mão e me conduziu até o palco e que dançou mais de três músicas junto a mim. As aulas que tive com Oxy se provaram excelentes e agradeci aos céus por elas, já que Vincent era um ótimo dançarino. Eu vi que alguns de seus amigos olhavam feio em nossa direção, mas a forma como Vincent nem mesmo ligava para eles e tinha os olhos cravados em mim, o fazia parecer uma pessoa muito melhor do que aquela que tinha me ridicularizado no shopping. Talvez Oxy estivesse certo, talvez aquele tivesse sido apenas um erro.
Vincent tinha ido conversar com um amigo quando eu desci do palco e encontrei Lola e Daisie conversando e bebendo ponche. Daisie tinha vindo ao baile com Beethoven – que, aliás, era um excelente dançarino – mas Lola não tinha um acompanhante, por isso estávamos fazendo companhia a ela sempre que podíamos. Beethoven ainda estava dançando no palco, agora sozinho e sob olhares muito curiosos de várias pessoas, quando eu me juntei a elas.
– Me digam se esse não é o melhor homem do mundo – Daisie disse, enquanto Beethoven fazia uma performance um tanto mais sensual do que a música que tocava.
O robô piscou para ela e mandou um beijo, ao que ela retribuiu.
– Eu acho que ele é um exibicionista – Lola respondeu, rindo.
– O que é bonito precisa ser mostrado – Daisie apontou para um bando de meninas que estavam ao redor dele, babando – Imagina o quão surpresas elas ficariam se soubessem que ele é um robô.
– Isso me faz pensar que pode ser que alguns dos garotos dessa festa sejam robôs, como aquele – Lola apontou para um ruivo que virava um copo de ponche – ou aquele – ela apontou para um garoto de óculos que estava sentado em um canto jogando algo no celular – ou aquele ali.
Assim que ela disse "aquele ali", houve uma pausa na qual ela tomou fôlego e então continuou com um "ai meu Deus, é o seu primo Tom" e eu olhei rapidamente na direção de sua mão e arregalei os olhos, como se não pudesse acreditar.
Mas, era verdade. Oxy estava lá, era ele indiscutivelmente. Ele estava usando um terno preto com gravata borboleta também preta e tinha colocado o cabelo para trás com gel. Seu rosto estava emoldurado por um sorriso enorme enquanto olhava para mim e ele estava tão bonito que eu achei que ia desmaiar ali mesmo.
Ok, aquilo era ainda melhor que o boné virado para trás, meu Deus do céu como ele ficava mais bonito a cada dia???
É claro que, enquanto eu lutava entre tentar respirar, me recuperar do susto e afugentar esses pensamentos da mente, Lola já tinha corrido até ele toda saltitante como uma lebre.
– Ah, então esse é o famoso primo Tom que eu estava doida para conhecer – Daisie falou com um sorrisinho travesso nos lábios.
Oxy ainda estava olhando para mim, até mesmo enquanto Lola falava com ele, e eu queria dizer alguma coisa, queria me mover, mas não sabia o que fazer. Eu estava tão sem rumo que até mesmo Vincent – que sei lá de onde tinha saído – se aproximou dele antes de mim e estendeu a mão para dar uma batidinha, como se os dois fossem "brothers" ou algo do tipo... O que diabos estava acontecendo...
– Ei cara – Vincent falou depois de cumprimentá-lo com a mão e Oxy tentar seguir o cumprimento todo confuso – Estou com saudade dos seus biscoitos.
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Projeto O.X: Alma
FantasyEm 2117, os robôs são a mais alta tecnologia, sendo divididos em dois grupos: os ajudantes e os para relacionamento. Foi nesse contexto que o cientista Dumas Frondel criou O.X, seu humanoide mais impecável, absurdamente humano em todos os aspectos...