Capítulo 19 - Quando o robô achou que era um super-herói

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Namorar Oxy era uma experiência diferente de tudo o que eu já havia vivido até hoje, mas o mais assustador era que a diferença não vinha do fato de ele ser um robô e sim da forma como ele me tratava. Eu me sentia como uma garota mimada que todo dia comia um café da manhã maravilhoso preparado pelo meu namorado, que pelo menos três vezes na semana o encontrava me esperando na beira dos túneis depois da escola com uma flor em mãos – e sempre era uma flor diferente – e que passava as tardes de domingo afundada em seus braços enquanto ele acariciava meus cabelos e assistíamos algum filme de romance bem bobo. A vida realmente estava me mimando muito.

Sobre a parte de ele ser um robô, realmente não havia muita diferença para um namorado normal, especialmente depois que ele me contou com detalhes sobre os robôs âme (aqueles que tinham alma) e eu pude comprovar com meus próprios olhos que ele era muito diferente dos demais. Então o nosso namoro era o mais normal possível dentro de toda aquela anormalidade.

Nós decidimos não contar sobre o namoro para o tio Dumas por algum tempo porque eu achei que se ele soubesse, não iria mais deixar Oxy dormir no meu quarto. Eu sei, eu sei... Não era como se eu fosse engravidar de um robô de qualquer forma, nós nem mesmo estávamos naquele estágio do namoro ainda, mas sabe como os adultos são... Enfim, a omissão durou apenas duas semanas, pois numa quarta-feira pela manhã, quando achávamos que ele já tinha saído para trabalhar, eis que fomos pegos aos beijos na cozinha... Foi quando tio Dumas proibiu Oxy de dormir no meu quarto, assim como eu esperava. Desde então, Oxy tem dormido no quarto dele, mas eu não posso mesmo reclamar, afinal de contas nós nos vemos o tempo todo e o tio Dumas reagiu da forma mais positiva possível, apesar desse detalhe. Afinal eu estava namorando um robô... Um robô que ele mesmo tinha feito. Pensar nisso era muito bizarro.

Mas enfim, foi nesse clima aconchegante e acolhedor que as folhas das árvores começaram a secar, o frio se aproximou lentamente e as abóboras de Halloween tomaram conta das decorações das casas ao redor da cidade. Aquele costumava ser meu feriado favorito quando criança, eu me lembro de correr de um lado para o outro da casa enquanto minha mãe abria as caixas com os enfeites de Halloween no dia primeiro de outubro. E então a casa virava um lar de abóboras, mini bruxinhas e fantasminhas. Tio Dumas não tinha o hábito de enfeitar a casa para essa data e eu também não fazia questão, até Oxy sugerir.

Havia uma senhora de uns setenta e poucos anos que morava no primeiro andar do nosso prédio e que era profunda adoradora do Halloween. Foi no dia primeiro de outubro que ela encontrou Oxy no corredor, enquanto carregava suas caixas de decoração, e no fim das contas ele acabou se candidatando para ajudá-la. Ela costumava encher a casa com luzes de natal e colocar as abóboras por todo o canto, de uma forma que eu achava um pouco exagerada. Ou muito exagerada. O fato é que Oxy amou tudo – como o esperado – e ficou me dizendo que devíamos fazer a mesma coisa. Ele estava praticamente saltando no sofá, tal qual eu quando era criança, e eu simplesmente não pude dizer não. Essa é a história sobre como voltamos para casa com duas sacolas de decoração de Halloween pagas no cartão do tio Dumas, que os céus o abençoem.

Eu tentei seguir o modelo da minha mãe e deixar o ambiente aconchegante e agradável mesmo que Oxy tivesse resmungado por quinze minutos que ele queria colocar as luzes de natal também. Pacientemente expliquei que as luzes de natal se chamavam luzes de natal porque você as colocava no natal e que a casa da senhora do andar debaixo mais parecia um circo do que qualquer outra coisa. Ele aceitou quando o deixei comprar uma caveirinha que você batia na cabeça dela e ela repetia o que você tinha dito.

Oxy era mesmo uma criança.

Ele brincou com aquilo por pelo menos uma hora enquanto eu colocava as velas e enfeites pela sala e trocava a cortina por uma em tom de abóbora. No fim não tinha ficado ruim e eu até senti que talvez tivesse um talento nato para decoração de interiores. Oxy ficou tão animado com a decoração que disse que nunca mais ia sair de casa.

Projeto O.X: AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora