Capítulo 5 - Ensinando um robô a andar de bicicleta

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Quando as férias de verão começaram – em partes, pois eu tinha me matriculado em alguns cursos extras que, segundo meu tio, eram importantes para o meu currículo – eu decidi que tentaria ser menos sedentária, mesmo que soubesse que desistiria assim que sentisse calor. Todo verão era a mesma coisa, eu me destinava a fazer exercícios ao invés de ficar o tempo inteiro jogada em frente à televisão, mas acabava fazendo isso o mês inteiro. Naquela manhã, tinha decidido que iria andar de bicicleta no parque e já havia colocado uma roupa própria para aquela atividade antes mesmo que pudesse mudar de ideia.

Sentei diante da mesa de café da manhã que O.X preparava agora religiosamente todos os dias e olhei pela janela de vidro da sala. O céu estava azul e o dia bastante ensolarado, o que me dizia que estaria bem quente do lado de fora. Suspirei e dei uma mordida no sanduíche que ele havia preparado, para constatar que estava recheado com banana. O mais interessante é que estava gostoso...

– Bom dia, Sam – Oxy apareceu com um bule do qual serviu café em minha caneca – Dormiu bem?

Assenti e bebi um gole do café, que também estava delicioso.

– Você é realmente um bom cozinheiro – o elogiei e ele sorriu – Nem mesmo meus pais conseguiam me fazer comer banana, mas esse sanduíche está ótimo.

O.X deu duas batidinhas no peito, todo orgulho de si, embora não tenha me contado qual era o segredo daquele recheio misterioso.

Depois que terminei de comer, ele ficou me observando enquanto eu lavava a louça – nosso combinado era de que ele cozinhava e eu lavava, o que não era nada mal, viso que eu não era a maior fã de um fogão. Ele parecia intrigado, pois eu não estava vestindo minhas usuais camisetas enormes e meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo.

– Você vai a algum lugar hoje? – perguntou.

– Vou andar de bicicleta no parque – respondi – Ou, pelo menos, tentar.

Oxy ficou em silêncio, um silêncio que eu já conhecia bem e que me dizia que ele estava pesquisando em seu sistema o que era "andar de bicicleta". Depois de finalmente descobrir do que se tratava, seu rosto se iluminou em um sorriso.

– Parece ser muito divertido – ele disse animado – Posso andar de bicicleta também?

– Você sabe andar de bicicleta? – questionei confusa.

– Eu posso aprender – ele explicou – E posso me disfarçar para que ninguém me reconheça.

Depois de me dizer que podia aprender facilmente, assim como aprendeu a cozinhar, ele suplicou repetidas vezes, até que eu finalmente cedesse. Colocamos um boné em sua cabeça e uma máscara cirúrgica em seu rosto. Não era como se Oxy precisasse se proteger da poluição, aquilo não o deixaria doente. Mas, vinha a calhar que ele pudesse usar a máscara para disfarce, como se fosse apenas uma pessoa tentando se proteger. O mais engraçado era que ele parecia extremamente feliz em usá-la, enquanto eu reclamava porque ela não me deixava respirar direito... Como em todas às vezes, queria voltar a ter aquele tipo de animação para todas as pequenas coisas.

Meu tio Dumas tinha uma bicicleta, que ele nem sempre usava, então quando desci para pegar a minha no estacionamento, dei a do meu tio para Oxy, que ficou ainda mais empolgado. Ele me disse que estava estudando em sua mente sobre bicicletas e eu esperei até que ele terminasse de aprender, por mais esquisito que fosse. Quando me disse que estava pronto, subi em minha bicicleta e esperei que ele subisse na dele. Estava ansiosa para vê-lo arrasar assim como ele fazia com a comida, mas, no momento em que subiu nela, caiu para o lado, a bicicleta caindo por cima dele. Arregalei os olhos, se fosse uma pessoa normal, aquilo daria uns machucados feios e agradeci o fato de ele não sangrar. Oxy olhou confuso para a bicicleta, como se não entendesse o que tinha acontecido.

Projeto O.X: AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora