Havia uma porção de roupas atiradas na minha cama, enquanto eu colocava um vestido florido em minha frente e o analisava no espelho. Droga, por que eu estava tão nervosa tentando decidir o que iria vestir para encontrar com a minha mãe? Não era o evento do século ou nada do tipo, eu devia vestir jeans e uma camiseta qualquer, mas ela era tão rica agora... Eu iria encontra-la num café, que provavelmente devia ser frequentado pela alta sociedade – viso o fato de que eu jamais tinha ido lá. Malditos ricos e suas normas e regras e...
Estava brigando mentalmente com todas essas coisas quando levei um susto e quase infartei ali no meio do quarto. Oxy apareceu do nada atrás de mim, carregando uma faca de cozinha na mão, daquelas grandes e afiadas. Se nós não fôssemos nós e se não estivéssemos no meio da tarde, aquela podia ser uma típica cena de filme de terror.
– Nossa Oxy, eu quase morri de susto – falei, virando em direção a ele – O que você está fazendo com essa faca?
Assim que ouviu o que eu disse, ele soltou a faca rapidamente, como se estivesse saindo de uma espécie de transe. Que diabos???
– O que está acontecendo? – prossegui.
– Desculpe, eu estava distraído – ele disse e juntou a faca do chão – Estava cozinhando, mas vim ver se você tinha conseguido escolher a roupa certa.
– Não exatamente... – respondi e levantei duas peças de roupa diante dele – O vestido preto florido ou o conjunto de blusa branca com saia preta?
Oxy olhou para os dois por alguns segundos e naquele momento ele parecia ele mesmo de novo. Aquilo estava me deixando maluca.
– O florido – ele decidiu – É jovem e combina com você.
– Obrigada – respondi, satisfeita por ter um namorado que entendesse mais de moda do que eu.
– Tem certeza que não quer que eu te acompanhe? – ele perguntou.
Assenti, enquanto guardava o resto das roupas.
– Eu quero muito que você vá, mas acho que temos muito o que conversar hoje – respondi sinceramente – Na próxima você vai junto, prometo.
Oxy concordou e me deu um beijo na testa, antes de voltar aos seus afazeres na cozinha. Virei para o espelho novamente enquanto analisava o vestido, ainda me lembrando do quão estranho ele parecia há apenas alguns minutos...
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Narrado por O.X
Uma camada grossa de neve cobria tudo ao meu redor, enquanto eu andava de lá para cá no parque. Sam tinha saído para encontrar sua mãe e eu estava tentando colocar minha mente no lugar. Desde que tinha começado a ouvir vozes em minha cabeça, parecia que o ritmo vinha aumentando com o passar dos dias, cada vez mais frequente. Eu não sabia o que era aquilo, já tinha pesquisado sobre alucinações e tinha medo de que estivesse ficando maluco de verdade. Não tinha outra explicação, a cirurgia não podia ter ocasionado aquele tipo de sequela. Eu era o mesmo de sempre, me sentia o mesmo de sempre e, às vezes até acreditava que aquelas vozes tinham sumido. Mas então elas voltavam e eu mal conseguia controlar, como mais cedo quando andei pela casa como um maluco carregando uma faca afiada na mão.
Talvez eu estivesse possuído? Eu já tinha lido sobre possessão, era uma coisa um tanto humana. Mas, eu tinha uma alma, então isso significava que eu também podia ser possuído, certo?
Aquela era a segunda opção. Então ou eu estava maluco, ou um espírito assassino tinha se apoderado do meu corpo. Mas, como eu diria isso para a Sam?
"Não diga nada para ninguém.
Apenas mate".
Eu estava balançando minha cabeça, tentando tirar aquilo de dentro de mim, quando percebi que alguém tinha sentado ao meu lado. Era incomum que pessoas estivessem passeando pelo parque com aquele clima ruim, então só poderia ser um...
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Projeto O.X: Alma
FantasyEm 2117, os robôs são a mais alta tecnologia, sendo divididos em dois grupos: os ajudantes e os para relacionamento. Foi nesse contexto que o cientista Dumas Frondel criou O.X, seu humanoide mais impecável, absurdamente humano em todos os aspectos...