Capítulo 6 - Memórias e um robô cheio de fé

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Tio Dumas havia chegado em casa mais cedo, carregando um colchão para dentro do apartamento, enquanto Oxy e eu assistíamos a um programa sobre animais da África e ele choramingava porque um leão havia comido sua presa. Desde que tio Dumas ficou sabendo que Oxy dormiu na minha cama, chegamos à conclusão de que ele merecia dormir como uma pessoa normal e não sentado no chão da sala. Foi então decidido que ele dormiria em um colchão no chão do meu quarto, algo que não me opus. Eu sabia que o normal era que meninas quisessem ter sua privacidade, mas desde que eu havia perdido minha casa e ido morar com meu tio, nunca senti que aquele era verdadeiramente o meu quarto. Além disso, Oxy era como um membro da família agora e meu tio sabia que nós não iriamos nos agarrar de madrugada nem nada do tipo. Não que isso fosse exatamente um problema, já que robôs –ainda, pelo menos – não engravidavam pessoas. Nós tínhamos um relacionamento quase como o de irmãos – principalmente pelas brigas – e eu preferia acreditar que aquela era a melhor forma de vivermos juntos, até que ele se mudasse para o interior.

Assim que o colchão foi colocado em seu devido lugar no chão do meu quarto, Oxy sentou nele e começou a saltar, testando as molas. Meu tio e eu rimos enquanto ele se divertia como se tivesse ganhado um brinquedo novo.

O colchão não foi a única novidade do dia. Meu tio também havia trazido algumas atualizações nas quais estava trabalhando para aprimorar o sistema de Oxy e os dois sentaram na sala diante dos computadores enquanto eu os observava. Eu não podia negar que era estranho observar aquele tipo de coisa, verificar com meus próprios olhos que Oxy era um robô. Dois cabos haviam sido ligados a uma abertura em seu pé e o computador processava seus dados, enquanto meu tio trabalhava rapidamente digitando uma porção de coisas. Oxy olhava para mim, como se tentasse me confortar com seu sorriso, mas eu não conseguia sorrir de volta para ele.

Meu pai sempre odiou os robôs.

– Seu pai iria pirar se me visse fazendo isso – tio Dumas disse para mim, como se tivesse lido meus pensamentos.

– Seu pai? – Oxy me olhou curioso – Onde ele está?

– No hospital – respondi e desviei o olhar, eu odiava aquele assunto.

– Ele está doente? – Oxy arregalou os olhos, preocupado.

– O.X, não é o melhor momento para ficar nervoso, eu preciso que você fique calmo – tio Dumas disse a ele, enquanto continuava a digitar coisas no computador – Meu irmão está estável, não se preocupe.

Oxy olhou para mim novamente, enquanto eu rabiscava qualquer coisa em um caderno a minha frente, incapaz de me concentrar no estudo para um dos cursos de verão que estava fazendo. Ele continuou olhando fixamente para mim, o que me deixou ainda mais chateada com aquela situação.

– E onde está a sua mãe? – ele ousou perguntar.

– Morta – respondi e fiz um rabisco com tanta força na página que ela se rasgou.

Oxy arregalou os olhos e tio Dumas teve que acalmá-lo novamente, caso contrário a atualização não iria funcionar.

– Você é cheio de personalidade, caramba garoto – tio Dumas resmungou – Ela não está morta. Ela vive há algumas horas daqui, numa cidade no litoral.

Oxy então voltou a me encarar, confuso. Eu odiava falar sobre aquele assunto e não sentia a menor vontade de repetir aquela história para ninguém. Eu sabia que era confuso, sabia que ninguém entenderia minhas meias palavras, mas não tinha vontade de dividir algo tão doloroso com quem quer que fosse. Tio Dumas avisou que tinha acabado de atualizar o sistema e retirou os cabos do pé de Oxy, que mexia as próprias mãos enquanto as encarava.

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