A viagem até o laboratório onde Oxy seria "operado" levou pouco mais de meia hora, algumas ruas escuras do subúrbio e um tanto de medo e tensão em meu coração. Eu sabia que aquele tipo de procedimento era um tanto secreto, mas estava com uma sensação esquisita sobre aquilo tudo. Talvez fosse só porque eu estava com medo de que alguma coisa desse errado... é, devia ser isso.
A doutora Martha McGreen, uma mulher de uns trinta e poucos anos, cabelos curtos e em tons avermelhados, nos recebeu na porta do local com um sorriso no rosto. Aparentemente, ela e meu tio Dumas foram colegas na Ampoes há alguns anos e ela era uma mulher de extrema confiança. Oxy estava tremendo como sempre e eu tive que ajuda-lo a caminhar até a sala de operações. Naquela manhã, todos nós estávamos muito mais calados do que o normal.
– A peça nova está aqui – doutora Martha nos mostrou uma caixinha preta com alguns fios e eu só conseguia pensar que era absurdo que uma peça tão pequena pudesse ser tão cara.
– Quanto menor for, mais caro é – tio Dumas respondeu, parecendo ter lido meus pensamentos.
– Nós também vamos fazer alguns reparos na pele do abdômen dele – a mulher continuou e olhou para o Oxy – Não se preocupe, não vai doer nada.
Oxy olhou confuso para ela e depois para mim, que também não tinha entendido. A doutora Martha riu e disse que era uma piadinha para melhorar o clima do ambiente, então eu tentei rir com ela. Mas a verdade era que estávamos todos muito tensos para isso.
– Se alguma coisa der errado... – Oxy disse enquanto sentava na maca, a doutora e meu tio tinham saído para nos dar alguns minutos de privacidade.
– Nada vai dar errado – respondi, tentando acalmá-lo – Você logo vai voltar a ser o mesmo de antes.
Oxy assentiu, mas nenhum de nós estava muito certo quanto a isso.
– Eles disseram que eu não posso ficar aqui dentro, então eu vou esperar no corredor – falei enquanto pegava nas mãos dele – Mas estarei o mais próximo possível.
– Obrigado – ele sorriu pra mim – Por tudo. Eu sou o robô mais sortudo do mundo por ter você ao meu lado.
– É, você é mesmo – ri e dei um beijinho nos lábios dele.
Ouvi a voz do meu tio do lado de fora, me dizendo que era hora de começar, então dei um longo suspiro antes de soltar a mão de Oxy, que me acompanhou com o olhar até a porta. Dei uma última olhada para ele antes de sair e tentei me certificar de passar a imagem mais positiva possível para ele, mesmo que meu coração estivesse cheio de dúvidas.
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A cirurgia começou por volta das nove da manhã e me foi dito que levaria em torno de uma hora. Daisie e Lola me ligaram em uma ligação em grupo e ficamos conversando um pouco enquanto elas tentavam me distrair com palavras animadoras e planos para os próximos dias. Nós iriamos celebrar a melhora de Oxy fazendo todas as coisas que ele não pôde fazer nas últimas semanas, pelo visto.
Meia hora havia se passado e eu não ouvia um ruído sequer do lado de dentro. O corredor estava deserto e uma das luzes estava a ponto de queimar, então ficava piscando de um jeito um pouco fúnebre. Como estávamos no subsolo, não havia sequer um raio de sol por ali. Eu estava com meu coração na mão, mas pensava que quanto menos notícias eu tivesse, melhor. Afinal de contas, antes não ter notícia nenhuma do que ter notícia ruim.
Havia uma televisão na parede do corredor próxima a mim, então peguei o controle e a liguei para tentar passar um pouco o tempo. Tinha um tanto de programas que eu não conhecia passando – provavelmente porque, àquela hora do dia eu sempre estava ou na escola ou dormindo – e parei no canal de notícias. Não, eu não era fã de noticiários, mas no momento achava que as desgraças alheias iam me entreter e me desfocar das minhas próprias.
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Projeto O.X: Alma
FantasyEm 2117, os robôs são a mais alta tecnologia, sendo divididos em dois grupos: os ajudantes e os para relacionamento. Foi nesse contexto que o cientista Dumas Frondel criou O.X, seu humanoide mais impecável, absurdamente humano em todos os aspectos...