Tudo começou quando tio Dumas ganhou ingressos para passarmos o final de semana em uma fazenda que fica mais para o interior, há cerca de três horas de onde moramos. Desde que comecei a morar com meu tio, eu raramente viajava, já que ele estava sempre preso no trabalho e eu não tinha dinheiro para viajar sozinha. Então, aquela era basicamente a primeira vez que nós dois viajaríamos junto e, é claro, seria a primeira viagem do Oxy, o que o deixou tão empolgado que ele passou a semana inteira falando sobre isso, o tempo inteiro. O combinado era que viajaríamos na sexta à tarde, então pela manhã eu já mal conseguia me concentrar na aula, sonhando com enormes gramados verdes e ar puro – bem, um tanto mais puro que o da capital – e tardes regadas a sonecas debaixo das árvores, porque era só isso mesmo que meu ser sedentário pretendia fazer lá.
Contudo, uma mensagem de texto por volta das dez da manhã fez com que eu arqueasse minhas sobrancelhas e não entendesse o que estava acontecendo. Nela, tio Dumas dizia que, devido a um imprevisto, ele viajaria primeiro e Oxy me levaria depois... Oxy?
Desde quando ele sabe dirigir???
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Oxy estava me esperando com um cartão de crédito em mãos quando cheguei da aula perto da hora do almoço. Ele havia preparado algo para eu comer e estava sentado do lado de uma mochila, usando um chapéu brega daqueles de pescador e uma camisa xadrez. Oh céus...
– O professor Dumas deixou o cartão de crédito para que pudéssemos alugar um carro – ele explicou todo contente – Mas disse que você deve verificar se o preço não é muito caro.
– E você vai dirigir? – perguntei enquanto dava uma garfada na comida – Desde quando você sabe fazer isso?
– Eu sempre soube, o professor incluiu isso no meu sistema desde o início – ele estufou o peito ao dizer isso – Como você sabe, os robôs são os melhores motoristas que existem.
– Então o tio te fez capaz de dirigir, mas não de ter equilíbrio em cima de uma bicicleta? Interessante.
Oxy resmungou e me olhou feio enquanto eu ria e saboreava o macarrão com almôndegas que ele tinha preparado. Era verdade que os robôs eram os melhores motoristas, muitos deles trabalhavam como taxistas e a maioria das pessoas os preferia. Eu nunca tinha andado em um carro com um motorista robô, mas esperava que Oxy fosse tão bom quanto diziam que eles eram.
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Nós alugamos um carro vermelho que eu nem sabia qual era a marca, mas era bonito e estava dentro do valor estipulado por meu tio. Eu não era do tipo que me ligava em marcas de carro, mas Oxy manjava de tudo. Ele ficou um tempão babando no carro escolhido, e naquele momento, parecia muito com um menino de verdade. Eu fiquei tanto tempo ouvindo sobre as maravilhas daquele carro e vendo sua cara de satisfação atrás do volante que já estava quase me perguntando se uma fada madrinha o tinha transformado em um ser humano de verdade.
Quem me dera.
Aliás, Oxy era mesmo um bom motorista, tão bom que até dirigia com uma mão só, todo estiloso.
Eu estava admirando a paisagem pela janela enquanto uma música lenta tocava no rádio do carro, no que parecia o clima perfeito. O sol brilhava alto no céu e eu já imaginava que aquele seria o melhor final de semana de todos, quando percebi que o celular dele não parava de vibrar. Eu sei que não era da minha conta, mas cada vez que ele recebia uma nova mensagem, ele sorria para a tela do aparelho e aquilo estava me deixando bastante... curiosa, afinal de contas ele não conhecia ninguém.
– Está falando com alguém? – perguntei tentando parecer pouco interessada.
– Ah, Lola está me mandando umas fotos de animais – ele sorriu – Eles são fofos.
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Projeto O.X: Alma
FantasyEm 2117, os robôs são a mais alta tecnologia, sendo divididos em dois grupos: os ajudantes e os para relacionamento. Foi nesse contexto que o cientista Dumas Frondel criou O.X, seu humanoide mais impecável, absurdamente humano em todos os aspectos...