Capítulo 4 - O robô está me ganhando pelo estômago

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Acordei na manhã de domingo com meu celular vibrando debaixo do travesseiro, muito mais cedo do que esperava. Murmurei um "atender" sonolento e o aparelho aceitou a ligação. Ainda com os olhos fechados e o rosto coberto por meus cabelos, ouvi a voz de Daisie do outro lado da linha, absurdamente animada para aquela hora da manhã.

– Meu namorado robô chegou – o grito estridente fez com que eu levantasse a cabeça do travesseiro e pegasse o aparelho nas mãos – Você precisa vir aqui vê-lo! Ele é maravilhoso!

Cocei a cabeça e limpei a baba do lado da minha bochecha. Será que aquilo era um pesadelo?

– Eu não acredito que você comprou mesmo essa coisa – resmunguei.

– Não é uma coisa, o nome dele é Beethoven – ela corrigiu.

– Você colocou o nome dele de Beethoven??? – sentei na cama, completamente desperta com o choque das informações.

Daisie continuou falando do outro lado da linha sobre o quanto o robô era maravilhoso enquanto eu levantava e trocava de roupa. Abri meu guarda-roupa excepcionalmente limpo e organizado e peguei uma blusa e um short jeans, enquanto agradecia a O.X mentalmente por ter arrumado tudo por tipo e cor.

Demorou cerca de trinta minutos para que Daisie parasse de falar do tal Beethoven e eu só consegui convencê-la porque estava justamente indo vê-la. Quando cheguei à sala, vi que havia um prato com panquecas e uma caneca de café em cima da mesa. O que diabos era aquilo?

– Bom dia, Samantha – O.X surgiu da cozinha usando um avental de cozinheiro por cima da roupa – Eu preparei seu café da manhã.

Olhei novamente para a mesa e pisquei repetidas vezes, pasma.

– Desde quando você sabe cozinhar? – questionei.

– Aprendi ontem à noite, li alguns livros e assisti a alguns vídeos em meu sistema, não foi difícil – ele sorriu – Achei que seria útil.

Sentei diante das panquecas, ainda bastante confusa. Qualquer pessoa que tentasse aprender a cozinhar na noite passada não faria algo tão bom quanto aquilo, mas era óbvio que eu não podia comparar O.X com pessoas, até porque ele não era uma. Contudo, era praticamente impossível não ficar assombrada com aquelas coisas.

E o mais importante: as panquecas estavam deliciosas! Comi duas sem nem respirar, como se estivesse há dias sem comer. Desde que eu havia deixado de morar com meus pais, nunca ninguém tinha preparado meu café da manhã, pois tio Dumas sempre saia cedo para trabalhar, até mesmo aos domingos. Era estranho e nostálgico comer aquelas coisas e meu coração balançava, aquela não era a primeira vez que eu me sentia assim desde que O.X chegou à nossa casa. Havia um ar familiar em todas aquelas coisas, como se aquele robô fosse parte da minha família.

Foi então que olhei para o lado e percebi que havia mais dois pratos. Diante de um deles estava o disco de vinil da Madonna e do outro a melancia que ainda não tínhamos cortado. E foi assim que lembrei que ele era, sem sombra de dúvidas, apenas um robô. E um dos mais estranhos, aliás.

Assim que terminei de comer, O.X perguntou o que eu tinha achado da comida e eu não tive como não elogiar, o que fez com que ele sorrisse de satisfação. Depois perguntou para o disco da Madonna e, por fim, para a melancia. Eu tive que lembrar a ele que a melancia seria comida dentro em breve e que era uma péssima ideia adotá-la ou algo do tipo. Ele pareceu triste, mas disse que contanto que ele tivesse sua adorada Madonna, nenhuma tristeza era tão séria. Eu o deixei falando sozinho e sai, com medo de que aquilo fosse contagioso.

O dia estava quente, porém cheio de nuvens carregadas no céu. Peguei minha bicicleta e pedalei mais depressa do que das outras vezes, com medo de me molhar no meio do caminho. Por causa da iminência da chuva, as ruas estavam ainda mais desertas do que de costume, então consegui chegar à casa de Daisie na metade do tempo. Eu nem bem tinha sido recebida por um de seus robôs ajudantes, quando ouvi os grossos pingos de chuva caírem do lado de fora.

Projeto O.X: AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora