Capítulo 9 - Primeira ida do robô ao cinema

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O verão estava quase chegando ao fim, mas se você olhasse para o lado de fora, não poderia dizer. Dava pra sentir o calor subindo pelo asfalto, ouvir o barulho das cigarras e ver aquele sol torrando tudo por todo o lado. Eu estava comendo melancia em frente à janela da sala, enquanto Oxy dava golpes de um lado para o outro. Ele disse que estava aprendendo artes marciais – e eu lá diabos sabia pra que ele queria aprender isso – e dois vasos do tio Dumas já tinham sido sacrificados enquanto ele praticava sozinho com seu sistema. Uma típica tarde de verão na casa da família Frondel, eu diria.

– Estou com tédio... – disse, deitando no chão e espiando Oxy com o canto dos olhos.

Ele continuou golpeando o ar e dando uns chutes de um lado para o outro, sem perceber a minha existência. Devo confessar que, para alguém que a recém tinha começado a praticar, ele já devia estar em um nível mediano. Isso é algo que eu totalmente invejo nos robôs.

– Oxy... – aumentei o tom de voz para que ele prestasse atenção – Quer ir ao shopping? Podemos ir ao cinema.

Ao ouvir minha ideia mirabolante para acabar com o tédio, ele finalmente se virou em minha direção e me encarou com os olhos arregalados. Em sequência, como eu já esperava, perguntou se podia sair. Tio Dumas não havia reclamado nenhuma das vezes em que saímos e não parecia que mais ninguém no laboratório Ampoes se lembrava do robô que deu errado, o que significava que algumas escapadas aqui e ali não fariam nenhum mal. E eu estava com tédio demais para ficar em casa e sem vontade alguma de sair sozinha, não depois do que Vincent havia feito... sim, ele pediu desculpas e falou um monte de coisas bonitas sobre como não imaginava que fôssemos tão parecidos e blablabla... Mas, ele ainda havia me humilhado naquele shopping e a última coisa que eu queria era passar por aqueles corredores completamente sozinha. Oxy pareceu gostar da ideia de ir ao cinema tanto quanto eu – ou talvez mais do que eu já que ele saltitou de um lado para o outro enquanto eu ia trocar de roupa. Era mais fácil agradar a ele do que a um filhote de cachorro, eu juro por Deus.

Oxy desapareceu enquanto eu colocava uma calça jeans escura e uma camiseta preta e reapareceu alguns minutos depois vestindo algo diferente. Arregalei os olhos enquanto prendia meu cabelo em um rabo de cavalo e o observava atrás de mim no espelho. Ele estava usando uma camiseta vermelha e uma calça jeans clara com dois rasgos nos joelhos. O boné estava virado para trás em sua cabeça, mas eu imaginava que ele viraria para frente para se disfarçar no shopping... Embora estivesse mais bonito virado pra trás. Argh, aquela roupa era tão simples, mas era bem o meu estilo...

– Onde conseguiu essas roupas? – perguntei, os olhos tão fixos nele que quase não conseguia prender meu próprio cabelo.

– O professor Dumas me deu de presente – ele sorriu e exibiu todos os dentes – Disse que era para usar quando eu fosse a algum lugar especial.

– Você está ótimo – disse, virando na direção dele.

– Não mais que você – ele retribuiu com um sorriso ainda maior e eu dei uma batidinha em seu ombro, porque claro, aquilo não era verdade. Qual é, homem, eu estava usando uma camiseta que era duas vezes o meu tamanho!

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Nós fomos até o shopping pelo túnel. Eu odiava os túneis, mas desde que meus pulmões não estavam na melhor condição possível, não tinha jeito. Além disso, Oxy não me deixaria ir pelo lado de fora nem se eu quisesse e foi ele que quase me arrastou até o túnel. Ele deve ter ficado muito preocupado quando eu fui ao hospital e aquilo era um tanto fofo. Só não era mais fofo que o boné que – graças aos céus – ainda estava virado para trás em sua cabeça.

O túnel estava vazio, então nossas vozes pareciam mais altas do que o normal, enquanto eu contava a ele sobre os filmes que estavam em cartaz e ele refletia sobre qual era o mais interessante. Eu propositalmente havia excluído dois filmes – o que eu assisti com Vincent e outro de terror, que eu sabia que Oxy iria odiar. Isso nos deixava com: um melodrama, dois desenhos animados e um filme sobre invasão alienígena. O ano é 2117 e o ser humano ainda está pensando sobre isso...

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