Capítulo 11 - Baile de final de verão (parte II)

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Narrado por: O.X

Tudo começou quando Sam me contou sobre o baile de final de verão e sobre como ela precisaria de um vestido e também de aulas de dança. Uma das qualidades que o professor Dumas havia me dado como um robô de relacionamento era a habilidade de escolher roupas que combinavam com perfeição nas pessoas. Foi assim que escolhi aquele vestido azul para Sam e foi assim que ela saiu do provador parecendo uma estrela caída do céu...

Bom, eu tinha talento.

Fiz algumas aulas de dança para ensiná-la também e pude adquirir mais uma habilidade em meu currículo. Eu não podia mentir, aquilo tudo era bastante divertido e eu me sentia muito prestativo ajudando-a aqui e ali. Sam não era minha namorada, mas fazendo isso por ela eu podia me enganar e ignorar o fato de que eu era um robô de relacionamento sem o menor propósito.

Ah, se evitar que meu coração tremesse uma ou duas ou duzentas vezes quando a vi com o vestido parecendo uma estrela caída do céu foi difícil, as aulas de dança foram um tanto pior. Era complicado tocar em uma mulher daquela forma – quero dizer, pegar nas mãos e tocar em suas costas, etc – principalmente porque ela não era a MINHA mulher e tinha essa coisa no meu sistema que me dizia que eu só podia tocar na minha mulher. Provavelmente para evitar que robôs pudessem trair? Sei lá. Só sei que algumas barreiras tiveram que ser vencidas até que eu conseguisse ajudar Sam com aquelas aulas.

A primeira coisa que fiz foi devolver o disco de vinil da Madonna para a coleção do professor Dumas. Aquilo conseguiu me enganar nos primeiros momentos, mas não demorou para que eu percebesse que era pura ilusão, que não era aquele tipo de relacionamento que eu queria – não com uma mulher em uma embalagem de papel. Quando me desfiz do disco, senti que era um homem livre novamente, eu não tinha mais uma mulher, então eu teoricamente não estava traindo a Madonna, certo?

A segunda coisa foi me certificar de que eu queria o melhor para a Sam. Sim, eu sei que ela é pervertida, que beija os outros sem permissão, mas no fundo ela é uma boa pessoa. Ela até mesmo comprou um saco de pipocas só para mim quando fomos ao cinema... É, eu definitivamente quero o melhor para ela e, se o melhor for alguém como Vincent, então eu devia fazer o possível para que tudo desse certo.

Até porque, Samantha nunca quis um namorado robô, isso ela sempre deixou um tanto claro.

Não que eu quisesse ser namorado dela, pff.

.

Contudo, não foi nada fácil. Não quando estávamos dançando sozinhos na sala escura e eu tentava fazer minha melhor cara de paisagem para que ela não percebesse que aquele momento estava acabando comigo. Eu podia sentir suas costas claramente em minha mão e tentava pensar em qualquer outra coisa para que minhas bochechas não corassem – sim eu sei que mesmo que isso acontecesse, ela não iria saber por que eu não coro literalmente, mas a sensação que sinto é sempre um tanto esquisita, como se a pessoa soubesse que na verdade estou sofrendo uma metamorfose e virando um tomate.

Foi então que, para meu desespero geral, ela encostou a cabeça em meu ombro. Oh Deus, oh Deusinho... E agora? Meus olhos estavam tão arregalados que achei que iriam soltar do rosto e o professor Dumas teria todo o trabalho de me montar novamente... Por sorte, ela não estava vendo meu rosto apavorado. Será que eu a tinha cansado?

– Você está cansada? – perguntei, tentando entender a súbita aproximação.

– Não... apenas um pouco nervosa – ela respondeu.

Ah, ela estava nervosa, provavelmente porque tinha medo de que o tal Vincent fizesse algo ruim novamente, o que era bastante aceitável. Soltei a mão com a qual segurava a dela e levei-a até sua nuca, tentando confortá-la. Eu estava tremendo, aquilo era o mais próximo que estivemos desde que ganhei vida, mas devia cumprir meu papel de ajuda-la até o fim, me certificando de que ela ficaria mais tranquila com o baile no dia seguinte.

Projeto O.X: AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora