A manhã está amena. Setembro acorda com uma dose de sol misturado com algumas nuvens que teimam em esconde-lo. O tempo tem estado tão bom que tenho pena de não ter feito um piquenique com Kat. Ela iria adorar. As aulas só começaram há mais ou menos duas semanas, e o tempo mantém-se vivo. Londres não costuma ser assim. Normalmente predominam os dias cinzentos, onde o céu se cobre de nuvens e a chuva ameaça cair.
“Está tanto calor que até é de admirar.” Liam, na sua bonita camisola azul escura, sopra para dentro da mesma, tentando amenizar a temperatura.
“Estava agora mesmo a pensar nisso. Não é muito normal em Londres.” Ele assente, lamurioso.
“E a Kat? Já há tempos que não a vejo!” Eu sorrio. Há uns tempos ficava toda irritadiça por perguntarem apenas pela Kat; não que tivesse ciúmes, mas sentia que as pessoas não queriam saber de mim. Depois habituei-me. E depois olhei para o que pensava e achei-me uma completa idiota.
“Oh, está grande. E muito teimosa.”
“Tem a quem sair. O Zayn também é muito teimoso.” Ele fala mas rapidamente se cala, baixando o olhar. “Desculpa, eu não queria…” Lamenta.
“Deixa. É normal. Vocês eram amigos.” Liam, Zayn e Harry sempre andaram na mesma turma, desde que eram miúdos. Eram inseparáveis. Para onde ia um, ia o outro. Foi nessa altura que conheci Zayn. Estávamos num jantar que Liam organizara.
O ambiente era de grande euforia e só a música contrastava com as vozes e os risos exageradamente esganiçados. Estava a achar o jantar um pouco apático, nada interessante porque não conhecia ninguém para além do Liam, que estava acompanhado de Danielle, do Harry e da Bea, que também estavam bastante entretidos.
O copo na minha mão já me estava a incomodar, porque estava vazio e eu queria beber para não estar sem fazer nada, mas a preguiça de me levantar e ir à cozinha ou à mesa das bebidas era muita.
“Posso oferecer-te uma bebida?” Eu olho para o seu braço estendido com um copo do que supus ser vodka e apanhei-o. Não devia aceitar bebidas de quem não conhecia, mas Liam certamente teria convidado o rapaz porque eram amigos, não?
“Obrigada.” Murmurei sem grande ânimo.
“O que fazes sozinha?” A pergunta apanhou-me desprevenida. Olhei pela primeira vez para ele e, owo, ele era realmente lindo. Tinha uns olhos castanhos-escuros, muito escuros, juntamente com o cabelo, apanhado numa polpa. Usava roupas escuras e era magro. Demasiado, até. Tinha uns lábios carrancudos e um certo brilho que não consegui decifrar.
“Apenas não me apetece andar por aí a dançar que nem louca.” Respondo sem grandes cerimónias. Ele ri.
“Já somos dois. Dispenso dançar.” Ele puxa uma cadeira e senta-se junto a mim.
“E o teu nome é?” Pelo menos tenho que saber o nome dele.
“Zayn. Zayn Malik. E tu?” Zayn. Bonito nome.
“Scarlett. Mas prefiro Scar. Scarlett Davis.”
“Bonito nome.”
“Ah, nem por isso.” Não sei que se passou comigo mas estou a falar demais. Normalmente demoro algum tempo até ter confiança suficiente com um rapaz. Mas com Zayn foi diferente. A chama acendeu logo. E a noite foi muito mais animada. Pelo menos não fiquei sozinha.
“Eu sei que ainda te afecta.” Claro que afecta, Liam. Dias e dias à espera de uma mensagem, de uma volta, de pelo menos dar os parabéns à minha filha de cada vez que ela fez anos, e já foram quatro vezes. E nada. Habituei-me a estar sem ele. Agora não preciso dele para nada.
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