A manhã não foi propriamente encantadora depois do que se passou. Eu atendia as pessoas, completamente aluada a tudo e se calhar não fui a porteira mais simpática, mas mesmo que me quisesse concentrar, o meu olhar viajava para o Liam e a rapariga que vinha com ele, sempre cúmplices e sonhadores, e senti uma ponta de ciúmes por ele estar com ela e culpa por eu ser uma idiota e não ter ido falar com ele. Que tipo de pessoa é que faz o que eu fiz? Só se fosse um caso de alguém que nos espeta com um beijo sem o conhecermos, e depois nem o chegamos a ver mais, agora, com o meu melhor amigo, owo, sou tão estúpida.
À hora do almoço o Louis veio juntar-se a mim na mesa e apenas sorriu ao chegar. Eu esperava que ele tivesse ficado chateado, pela maneira explosiva como o tratei, mas aqui está ele, a comer calmamente à minha frente, como se nada se tivesse passado. A Cindy ainda não chegou e fico mesmo contente por isso. Não queria ter de a aturar mais tempo porque acho que ia rebentar. E a minha cabeça que o diga.
“Ouve…” Eu digo a Louis e pouso os talheres, sem os largar. “Desculpa.” Eu digo num suspiro. Ele olha-me ainda a bebericar a água do copo.
“Não tens que pedir desculpa.” Ele meio que goza comigo. “Nos dias não também não estou virado para aturar alguém, e bem sei o que custa aturar-me.” Eu não consigo não rir com o comentário dele.
“Mas eu fui… indelicada. Aliás, não tinha nenhuma razão para ter barafustado contigo.” Ele dá de ombros e encara-me.
“Eu sei que não estás bem e eu vi o teu amigo hoje. Mas se não quiseres falar, eu entendo. Só quero que saibas que eu vou estar aqui se precisares de alguma coisa.” Eu assinto e sorrio, ainda a olhá-lo, ponderando ou não contar-lhe o que aconteceu. Somos amigos, somos chegados, e sei que tenho a confiança dele. E ele também confia em mim. Se bem que nunca o vi queixar-se de nada, mas ele é um tipo que leva a vida na descontra, penso eu.
“Eu só… aconteceram umas coisas e nós… bem… afastamo-nos. Quer dizer, eu afastei-me.” Eu olho para longe e vejo-o a olhar-me atentamente.
“Que me dizes de uma conversa de hora de almoço com uma rápida voltinha pelo parque?” Ele sorri e eu curvo os lábios. “Para diminuir a pressão.” Eu nego, rindo.
“Vamos lá, então.” Arrasto a minha cadeira para trás e vou colocar o meu tabuleiro junto com os restantes. Há um self-service mesmo neste sítio onde o parque fica situado então aproveitamos e viemos cá almoçar. Quem mo deu a conhecer até foi a Kaytlin, mas ela foi almoçar com o suposto namorado e graças a Deus não vi a Cindy ao sair do turno, por isso pisguei-me logo para aqui com o Louis.
O ar frio bate contra a minha cara e eu respiro fundo, olhando para trás, certificando-me que ele vem atrás de mim. Nós seguimos em silêncio e consigo ouvir o vento, o que até é uma sensação boa. Ele coloca-se a meu lado e olha-me hesitante.
“Está tudo bem se tu não-“
“Está tudo bem, Louis. Eu acho que preciso de falar.” Eu arqueio as sobrancelhas e olho para a frente, sem qualquer destino.”
“Força!” Ele incentiva e põe as mãos nos bolsos.
“Bem… houve uma noite em que nós fomos jantar. Um jantar amigável, nada de mais. Mas acabamos por nos beijar.” Sinto as minhas bochechas ganharem cor por lhe estar a contar estas coisas. “Só que eu recebi a tua chamada a dizer que os meus pais e o Zayn estavam em casa e saí de lá a correr.” Eu digo e arregalo os olhos ao me lembrar de repente de tudo o que se passou nesse dia. “E desde esse dia que não voltei a falar com ele.” Eu olho para o Louis, que acena levemente a cabeça e tem os lábios comprimidos. “Não dizes nada?” Eu murmuro entrelaçando as mãos.