Ando às voltas pela casa a olhar de segundo em segundo para o relógio até chegar a hora de eu ir ter com Bea e Harry. Devia simplesmente por estas inseguranças de lado e falar com eles, mas eu penso demais em tudo e não consigo deixar de pensar no quão mal pode correr a conversa. Quer dizer, mal não pode correr porque eu quero resolver as coisas, mas bem de todo também não é. Quem é que gosta de discutir com a melhor amiga?
O alarme dá sinal que são quatro em ponto e eu pego nas minhas coisas e saio de casa. E sim, eu pus despertador. Entro no carro e antes de rodas a chave de ignição, respiro fundo. Só depois carrego no acelerador e o carro desliza pelas ruas, parando no seu destino. O dia tornou-se cinzento e lembro-me que mandei uma roupa nada apropriada para a Kat, e isso assusta-me.
1 – Porque ela deve estar cheia de frio
2 – Se chover, vai ficar encharcada. Ficaria de qualquer das maneiras, mas…
Já são os efeitos dos nervos. Tornei-me muito mais nervosa desde que fui mãe. E qualquer coisinha me parece a maior tempestade.
“Vê lá por onde anda!” Eu praticamente grito com o condutor à minha frente, que trava bruscamente em plena estrada e me faz travar a fundo, quase fazendo o meu nariz bater contra o vidro da frente. Quando vejo a criatura pelo espelho, bufo. “Claro que só podias ser tu.” Eu falo sozinha e ouço-o rir.
“Zayn, eu tenho que ir. Por favor, para com as gracinhas.” Ele mostra uma cara de ofendido e estaciona. Só quando reparo que já estou no bairro deles é que estaciono uns lugares à frente dele e saio.
“Olá outra vez.” Ele diz e dirige-se a mim.
“Que alegria em ver-te!” Eu digo irónica e ele torce o nariz.
“Alguém está nervosa.” Ele goza e eu rio sarcástica, mas ao mesmo tempo reparando no pormenor de ele se recordar da minha pessoa completamente alterada sempre que entrava em stress.
“Devias saber que quando estou nervosa não gosto que me chateiem.”
“Oh, sim, como daquela vez: Bolas, Zayn, será que te podes calar por um bocado?” Ele tenta – drasticamente – imitir a minha voz e eu rio, porque me deu mesmo uma enorme vontade de rir.
“Ok, para com isso.” Mesmo que recordando os nossos tempos, esta leveza que nos rodeia faz-me sentir ligeiramente melhor.
“Vais falar com a Bea?” Ele pergunta balouçando nos próprios pés.
“É, nós discutimos.” Respondo e ele olha-me.
“Por mim, eu sei. Desculpa se vos criei algum desentendimento.” Ele para e eu não sei que diga. Apetece-me dizer-lhe crias sempre desentendimento onde quer que estejas, mas calo-me porque sei que ele se está a esforçar, ainda que continue o mesmo idiota de há quatro anos atrás. “Devias perdoá-la. Devias zangar-te comigo.” Ele diz.
“Eu ainda estou zangada contigo.” Respiro fundo. “Mas deixemo-nos disto. Eu tenho de entrar porque daqui a uma hora tenho de ir buscar a Kat ao infantário.” Um sorriso enternecido passa-lhe pelos lábios.
“Eu… Posso ir busca-la, se for incómodo para ti.” Ele oferece-se.
“Não!” Digo rapidamente e a tristeza invade-o. “Quer dizer, é melhor não. Ela ainda não está muito ambientada." Tento suavizar e ele dá de ombros.
“Eu entendo. Vou andando, não te roubo mais tempo. Até amanhã.” Ele vira-se, entra no carro, e vai embora. Começo a sentir remorsos pelo modo como o tratei, mas isto não é nada comparado ao que ele me fazia, por isso ergo a cabeça e toco à campainha. A Bea abre logo a porta.