Entro no carro e ligo o rádio, uma necessidade quase básica. Ainda não está frio para ligar o ar-condicionado, mas eu ligo-o e ponho no mínimo, só para ter uma sensação de bem-estar e algo que me faça relaxar. Encontro-me preocupada e não sei bem porquê. O pensamento de não ter que dar de comida a Kat assombra-me, mas é algo mais. Algo que não consigo descobrir.
Estaciono no primeiro lugar vago que encontro sem me preocupar muito se o carro está encima das linhas, torto ou com os pneus de lado. Apenas paro, saio, tranco o carro e quase corro até chegar ao supermercado.
Compro tudo o que preciso. Desde iogurtes a fruta, carne, cereais, bolachas e sumos. Preciso de ter a despensa cheia para que nada disto se volte a repetir. Respiro fundo antes de atravessar o corredor dos cereais, escolhendo uma ou duas caixas. Ainda pego em latas de atum e tudo mais que me lembro. Talvez esteja a exagerar, mas não me importo. Algumas pessoas que por mim passam devem com certeza achar-me maluca por levar o carro cheio, mas não quero saber.
A dada altura olho de relance para o fundo do corredor e os meus olhos saltam. Eu não estou a alucinar. Podem ter passado anos e anos, mas eu sei que não são visões. Ou talvez sejam, porque o cansaço e os meus constantes pensamentos já me estão a deixam atrofiada. Mas quase podia jurar que era ele. Pegando novamente no carrinho corro, agora sim corro, para o fundo do corredor e quando olho, ele volta a virar. Quando vou atrás dele por entre multidões, já deixando o carro para trás, perco-o de vista. Encosto-me a uma parede e suspiro.
“Credo.” Solto. Eu juro que o vi. Zayn. Ele estava ali. Os sapatos não enganavam. As roupas escuras e o cabelo curto. Tudo pistas que indicavam que era ele. Porquê?
Lágrimas formam-se nos meus olhos sem que eu queira e sinto-me impotente. Quero chorar mas não tenho ninguém a quem recorrer. Regresso ao corredor onde estava e levo o carro até á caixa. A senhora olha-me, pasmada, como se tivesse visto um fantasma.
“Boa noite, sente-se bem?”
“Boa noite. Sim, é uma alergia.” Encolho os ombros e ela sorri. Não tinha que lhe dar justificações, porque o fiz?
“Vai desejar saco?” Que pergunta, apeteceu-me perguntar, mas contive-me.
“Sim, uns cinco, por favor.” Olho para a quantidade de compras e bufo por saber o trabalhão que vou ter ao arrumar isto tudo. Pago e saio quase a cair, com o peso que levo às costas. Ligo o carro e meto tudo de uma vez para dentro. Quando tento arrancar, oiço um estalo.
“Era só o que me faltava!” Barafusto sozinha, já cá fora, quando vejo um dos pneus de trás furados. “Mas será que nada pode piorar?”
“Posso ajudar?” Pergunta uma voz desconhecida. Viro-me, encarando-o. Ele sorria de lado e tinha um cabelo despenteado. Oh, Deus, como ele era lindo. Trazia as mãos nos bolsos e as calças eram curtas. Encarei-o por uns momentos, pestanejando momentaneamente, sem saber que dizer.
“Eu, hum, sim. Tenho um pneu furado e preciso de ir rapidamente para casa.” Digo e bato-me mentalmente por ter quase dito, só que por outras palavras, que precisava de boleia.
“Oh, eu vou ver o que posso fazer.” Agradeço-lhe sem dizer uma única palavra. Ele passa por mim e inalo o seu perfume. É um rapaz elegante.
“Bem, acho que o carro vai ter que passar cá a noite.” Ele diz com um certo humor e eu bufo, então ele rapidamente volta ao estado sério.
“E agora como é que eu vou para casa?” Falo sozinha. Ele encara-me sem dizer nada. Um silêncio estranho instala-se e nenhum de nós sabe o que dizer. “Acho que já podes ir. Obrigada. Eu cá me desenrasco.” Volto a dar uma chapada mental a mim própria quando mais uma vez parece que estou a pedir algo ao rapaz.