Antes de abrir a porta de casa, lembro-me que combinei com o Zayn que ele e a Kat iam para minha casa, então rapidamente dou meia volta e ando pelo bairro em passos acelerados e tortos, os batimentos do meu peito demasiado acelerados. Tenho que parar a meio para me recompor, mas tudo o que me lembro são as palavras cuidadosas e aparentemente sentidas dele.
Culpa atinge-me e eu tento afugenta-la, mas sinto-me a afundar ainda mais. As palavras da Kaytlin quanto ao Zayn regressam para ocupar os pensamentos anteriores e fico zonza. Talvez eu tenha que lhe dar alguma razão.
Mas eu não posso. Não porque não fui eu que desisti. Não porque eu estou com o Zayn. Não porque eu estou feliz e não vou deixar que uma única frase que pode até ser uma farsa vá afundar-me completamente. Não.
Abro e fecho a porta de casa do Zayn., encostando-me à mesma, ofegante e ainda com a mente num turbilhão de emoções.
Não penses, Scar, não…
“Chegaste!” Zayn diz espreitando pela porta ao mesmo tempo que me sorri, beijando-me suavemente os lábios mesmo antes de Kat aparecer.
“Eu- sim, já cheguei.” Eu digo e esboço um sorriso nada convincente, enquanto pego em Kat ao colo e deixo que ela me beije a bochecha.
“Boa, a mamã chegou!” Ela diz feliz e eu não consigo esquecer o que aconteceu com o Louis, porque foi tudo tão rápido e intenso que não sei bem se eu estava a sonhar ou se aconteceu mesmo. É claro que aconteceu, mas eu preferia que não tivesse acontecido, porque, e ainda bem que ninguém me está a ouvir, afectou-me mais do que devia e talvez me tenha deixado mais confusa sobre o que eu devo ou não fazer.
“Anda para a mesa, a comida já está feita.” O Zayn chama sempre com um sorriso nos lábios e eu forço um, tentando abstrair-me destes pensamentos que me continuam a consumir. Ando até à sala e a lareira está acesa, criando um ambiente quente e aconchegante. A Kat está a ver bonecos e eu acho que ela esteve assim o tempo todo, porque parece bastante concentrada e entusiasmada. E se ela apanha bonecos na televisão, ninguém a larga. “Kat? Anda para a mesa.” O Zayn chama, aparecendo com uma panela na mão.
“Ela esteve sempre ali, não foi?” Eu pergunto sorrindo levemente enquanto atiro as minhas coisas para o sofá e vou ter com ele.
“Bem, sim, mas não me importei muito, gostei de a ter comigo.” Ele diz encolhendo os ombros, e aproximo-me, abraçando-o sem ele estar à espera. “Mas… Scar…” Ele gagueja mas vai-me lentamente abraçando.
“Apenas abraça-me.” Eu peço, não querendo ficar mais frágil, mas eu preciso de sentir o calor do corpo dele junto ao meu, preciso de sentir a chama que o gesto dele me transmite, preciso de me sentir protegida e confortável. Preciso de sentir aquele formigueiro na barriga e um bem-estar desconfortável dentro de mim.
Mas isso não acontece. Sinto-me quente, sinto-me de certa forma protegida, mas não completamente realizada, completamente em chama. Mas talvez seja mesmo assim. Talvez esteja tudo a acontecer aos poucos.
“Estás bem?” Ele pergunta assim que me afasto dele. Eu assinto e vou-me sentando à mesa. Não me lembro bem o que aconteceu durante o jantar. Sei que falei sobre a reunião, que a Kat falou do dia dela e assim o Zayn, mas eu acho que não os ouvi. Quer dizer, lembro-me vagamente de certos pormenores, mas eu estava já em alto-mar, a navegar tão rápido e com tanta ondulação, a tempestade na minha mente tão intensa, que não fui, de todo, a melhor companhia. Fiquei com a sensação de que o Zayn percebeu a minha distância, o meu aluamento, porque olhava-me várias vezes tão intensamente que acho que furava a minha pele, e teve ainda que repetir algumas perguntas que me fazia, inclusive.
