A minha mãe senta-se à mesa da cozinha enquanto o Louis vem para o meu lado. O olhar do meu pai é ameaçador e eu reviro os olhos.
“Então tu é que és o pai da Kat. Interessante.” Ele diz e acaba de se sentar numa cadeira. Não mudou muito de há quatro anos para cá. Continua com a barba, tem os cabelos um pouco mais brancos e está mais barrigudo, mas o ar sisudo e as sobrancelhas erguidas continuam. A minha mãe está mais apagada, mais magra e com algumas rugas, mas parece estar bem. “Então e tem corrido tudo bem entre vocês?” O meu pai está a fazer de propósito, eu sei que sim.
“Sim, estamos muito felizes.” Eu respondo e olho para Louis, sorrindo. “Temos uma filha, somos uma família, que queremos mais?” O meu ar revoltado está visível na minha voz.
“Têm uma filha muito bonita, mas acho que é toda mãe.” Engulo em seco e sorrio para a minha mãe. De certo modo, eu não consigo estar chateada com ela, por mais que queira. Sempre que o meu pai intervém de maneira arrogante, é ela quem tenta suavizar o ambiente. Tenho a certeza que teve que ser ela a convencê-lo a vir até cá, porque ele não se dignava a vir.
“E como é a Kat no dia-a-dia?” O meu pai olha para Louis de maneira intensa e ele mexe-se desconfortável ao meu lado.
“É uma criança adorável. É muito activa. Ui, não para quieta!” Ele gargalha e eu meio que sorrio. “Mas tem uma vivência enorme e um sentido de humor impecável. Mesmo se às vezes estamos maldispostos, ela consegue pôr-nos de bom humor. Foi a melhor coisa que nos podia ter acontecido.” Eu sinto um formigueiro na minha barriga com as palavras dele e sorrio.
“Tem um mau acordar.” Eu digo e a minha mãe gargalha.
“Acho que sai à mãe.” O Louis diz e sinto que está mais solto. “Mas, em contrapartida, adora passear e animais, como eu.” Ele não diz como o pai, de propósito, mas adoro a forma como ele está a interagir com os meus pais.
“E a escola vai bem?” A minha mãe pergunta e eu coloco um prato com alguns bolinhos e uma jarra de chá no centro da mesa.
“Vai, sim. Ela conta-me todos os dias o que faz e faz com que eu repita tudo com ela.” Eu sorrio ao lembrar-me dos nossos momentos e espero que já não esteja tão zangada comigo.
“Então e tu, que andas a fazer?” O meu pai diz-me e eu engulo em seco.
“Bem, visto que tive que abandonar a escola, trabalho com o Liam numa empresa muito conhecida de imobiliária.” Digo com algum veneno na minha voz e o meu pai esbugalha os olhos. “Admirado, pai?” Ele clareia a voz. “Posso ter sido irresponsável, mas não sou fraca nenhuma e, como está a ver, reconstruí a minha vida.” Eu digo e ele bufa.
“Alguém quer mais chá?” A vontade de rir que tenho com esta intervenção de Louis é enorme, mas apenas nego.
“Mas diga-me, mãe, como é que convenceu o pai a vir consigo?” Já que estamos numa de contra-ataca, vamos a isso. A minha mãe mexe-se desconfortavelmente.
“Ao início foi complicado, mas lá consegui. Acredites ou não, nós procuramos-te, Scar. Mas mudaste-te para uma zona um pouco longe e mudaste de número, por isso era quase impossível encontrar-te. Mas finalmente conseguimos.” Eu assinto. Tenho que processar tudo primeiro antes de tomar algum tipo de decisão sobre tudo isto.
“E porque é que a Kat não ficou connosco? Já agora, como é realmente o nome dela?” O meu pai volta a fazer uma das perguntas para me ver a enterrar.
“Ela chama-se Katniss e só não está aqui porque hoje teve um dia complicado e do que menos precisa é de saber que, afinal, os avós estão cá. Amanhã ou noutro dia falam com ela.” Eu digo e estou a começar a enervar-me. Louis ainda suplica com o olhar para eu ter calma.
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