Quando escolhemos uma mesa para as duas, coloquei o nosso cesto do piquenique bem como todas as nossas coisas. Pus o guarda-sol espetado na relva para dar alguma sombra a Kat quando o sol estivesse forte e eu estendi a minha espreguiçadeira. Peguei no meu livro e dei uma vista de olhos à minha pequena.
“Kat, não saias da minha beira, sim?” Eu digo e ela assente, voltando a pegar na sua bola e dando uns chutes. Eu recomeço o meu romance e por momentos desligo de tudo e apenas entro na personagem principal: Denise, mãe de um menino com uns problemas de falas e da mesma idade que Kat, sozinha e que procura levar uma vida normal mas que lhe é difícil, pois tal como eu apenas que alguém que cuide dela. Ao longo do livro encontro várias parecenças comigo. A começar por ter um filho da mesma idade da minha filha. Mas o principal talvez seja o estar sozinha, por alguém a ter abandonado. Ninguém merece. E eu continuo a dizer que será muito melhor ter sempre alguém ao nosso lado. Sempre me fascinaram estes livros de romances. Porque eu simplesmente vivi um pouco o outro lado da realidade, a solidão, a tristeza e a traição. Não escolhi esse caminho, ou talvez o tenha feito de outra maneira, mas arrependo-me do que fiz e quero tentar remediar, quero tentar ser feliz como de certeza que estas duas personagens vão ficar. Quero tentar de novo. Mas há muitos “se”. Eu tenho uma filha ainda por criar. Teria que arranjar uma pessoa que não se importasse de morar na mesma casa que ela, que soubesse cuidar dela e que quisesse assumir um papel de pai. Mas hoje em dia é tão difícil. E eu sinto-me a desistir. Cada vez mais tenho a sensação de que não vou conseguir alcançar essa felicidade, e isso magoa-me. Magoa-me mesmo profundamente.
Os risos de Kat ecoam por todo o parque e eu sento-me normalmente, olhando a toda a volta sem ver nenhuma Kat. Precipito-me e começo a andar em todos os sentidos, até ouvir numa gargalhada. Volto-me para trás e observo Kat e… Louis? Mesmo atrás da minha cadeira.
“Mas que… que se passa?” Digo deixando a minha admiração falar por mim. Louis vira-se de repente e sorri-me. Agora à luz do dia vejo como ele é bonito. Tem os cabelos bagunçados e o sorriso que agora aparece na sua cara é contagiante. Os olhos dele encontram os meus e brilham.
“Oh, olá Scar!” Ele lembra-se do meu nome. Mas que estupidez.
“Olá, Louis.” Digo e lanço-lhe um sorriso caloroso. Começo a andar em direcção de Kat. “Devias ter-me avisado que vinhas jogar à bola com o Louis.” Ralho com ela mas ela simplesmente dá de ombros.
“Não houve tempo para isso. O Louis está a trabalhar mamã, e ele veio brincar comigo.” Os olhos dela brilhavam e senti que estava mesmo feliz.
“Trabalhas aqui?” Eu pergunto-lhe e ele afirma.
“Sim. Já há algum tempo. Sempre gostei deste sítio. Admirada?” Ele pergunta devido à minha cara de pura admiração. Sinceramente quando o vi não pensei que ele fosse o tipo de rapaz que trabalhasse num parque natural, e fiquei muito surpresa, mas pela positiva.
“É uma grande revelação, sim, mas pela positiva.” Dou um sorriso tranquilizante e ele sorri.
“E que tal se vos mostrasse as redondezas? Tenho a certeza de que a Kat ia adorar conhecer os nossos pandas.” Kat abre imediatamente a boca e eu sorrio, enquanto ela me puxa pela camisola.
“Mamã, tu ouviste o Louis? Ele disse que tinham pandas aqui! Eu quero ver!” Ela explode com tanto entusiasmo e eu começo a andar ao lado de Louis. Ele não diz nada, apenas caminha de mãos nos bolsos e Kat vem à nossa frente, saltitando por aqui e por acolá.
“E… como tens andado?” Ele quebra o silêncio e eu olho para ele.
“Bem. Cansada mas bem.” Voltamos ao silêncio. “E que tal tens andado? Desde a última e primeira vez que nos vimos.” Ele gargalha e é um som tão suave de se ouvir.