Acordo. Num dia normal da minha vida, eu teria acordado com preguiça, estaria a enterrar a cabeça na almofada ao mesmo tempo que tentava desesperadamente ao despertador para o fazer calar e levantar-me-ia tipo zombie.
Mas hoje não.
Há dias que não saio de casa. O fim-de-semana prolongado ofereceu-me a mim e à Kat paz e não ter de pensar em problemas e mais problemas. Não falei ainda com o Liam desde que nos beijámos, não falei com o Louis porque não se proporcionou, ainda não contei as novidades à Bea nem tive de aturar o Zayn ou os meus pais a moerem-me o juízo. E sabem que mais? Foi o melhor que fiz. Talvez esteja a regressar ao tempo da minha rebeldia, mas a diferença é que agora sei controlar-me. Por isso, estes dias serviram para estar só e simplesmente com a minha filha. Fizemos um bolo enorme que acabou queimado, vimos montes de filmes que ambas gostássemos – sim, eu adoro os filmes da Disney, os que a Kat me suplica para ver – fizemos pipocas e andamos a vasculhar nos armários à procura de roupas para levar a alguma instituição de caridade.
Como vêm, tudo coisas úteis e que nos mantiveram não só ocupadas mas também afastadas de toda a gente e de todos os problemas.
Mas como eu estava a dizer, eu acordo e sinto-me rejuvenescida. A energia que me rodeia é contagiante e até a Kat gargalha quando lhe abro a persiana e caio por cima dela dando-lhe muitos beijos.
“Bom dia mamã.” Ela diz entre gargalhadas que me fazem sorrir automaticamente.
“Bom dia, filhota.” Eu saio de cima dela e abro-lhe o armário. O meu humor não está a condizer nada com os dias que correm por duas razões. A primeira, porque o tempo está frio e o Inverno está à porta; segundo, porque os últimos acontecimentos não são, de todo, um motivo para estar contente.
Mas eu não vou andar a chorar. Eu vou levantar a cabeça e enfrentar tudo. Vou deixar de ser a rapariga preocupada ou receosa que era. Esta Scar coitadinha tem que acabar.
“O que vamos fazer hoje, mamã?” Kat pergunta enfiando a camisola pela cabeça e abafando as palavras.
“Não sei. Como gostavas de aproveitar o último dia antes da escolinha?” Eu pergunto-lhe e ajudo-a a acabar de se vestir.
“Eu não sei. Mas queria ir ao parque.” Ela faz uns olhinhos de cachorrinho e eu rolo os meus na brincadeira.
“Não estás a pensar passar o dia inteiro nos baloiços, pois não?” Ela comprime uma gargalhada colocando a mão na boca.
“Eu não me importava.” Eu olho para ela.
“Ai sim? Ai não te importavas?” Eu vou-me aproximando dela e pelo olhar que ela me manda já sabe exactamente o que se segue. Eu encho-a de cócegas até ela misturar os risos com os próprios gritos e me obrigar a parar.
“P- Para, mamã.” Eu paro e as nossas respirações estão ofegantes.
“Bem, vamos tomar o pequeno-almoço e logo se vê o que podemos fazer hoje.” Eu pego nela ao colo e desço para a cozinha, mas sou interrompida pelo telefone a tocar e pouso Kat gentilmente no chão. “Kat, podes ir tirando o pacote do leite do frigorífico, por favor” Eu afago-lhe os cabelos e ela assente, visivelmente contente por a ter posto a fazer algumas das tarefas domésticas, no seu entender.
“Sim?” Eu falo quando atendo a chamada.
“Scar?” Mãe? E eu a pensar que ia começar uma nova etapa da minha vida.
“Sim.” Respondo simplesmente e a emoção desmorona-se.
“Hum, filha.” Um silêncio constrangedor instala-se e eu bufo. “Nós queríamos fazer-te uma proposta. Quer dizer, da última vez que falámos as coisas não correram muito bem, mas queremos remediar tudo.”