Eu entro a seguir ao Dr. Smith e não sei muito bem o que fazer, por isso mantenho-me de pé, encostada à porta.
“Senta-te.” Ele pede, ríspido, e acho que não vem nada de muito bom do que ele tem para me dizer.
“Hum, aconteceu alguma coisa para estar assim tão… sério?” Eu pergunto mas bato-me mentalmente porque ele fuzila-me com o olhar.
“Olha, Scarlett, vou ser bastante directo. Já aturei muitas coisas tuas aqui, já fui tolerante o suficiente. Eu não queria estar a fazê-lo, mas vejo-me quase obrigado. Não pões aqui os pés há mais de não sei quanto tempo e agora pensas que está tudo bem. Simplesmente, cansei. Desculpa decepcionar-me, mas… estás despedida, Scar.” O olhar dele mantém-se distante do meu e sinto estas quatro paredes girarem à minha volta. Eu abro a boca para falar mas não consigo dizer nada. Isto era o pior que me podia acontecer agora. Onde é que eu vou arranjar dinheiro para tudo aquilo que é preciso uma mãe ter para a filha e para ela própria? Não, oh não, isto não está mesmo a acontecer.
“Eu…” Humedeço os lábios tentando arranjar algo para dizer, mas as palavras são substituídas por lágrimas que se formam nos meus olhos.
“Eu lamento.” Ele volta a dizer. Não lamente, porra! Não lamente porra nenhuma! Eu posso ser desleixada e não gostar do que faço, mas era o meu trabalho.
“Ok.” Eu levanto-me e mal sinto o chão por baixo de mim. Ele fugiu, não fugiu?
“Scarlett.” O Dr. Smith chama-me mas eu apenas lhe aceno como que a pedir que se cale. Eu saio do seu escritório e ando pelo corredor, até chegar à secretaria.
“E como corre a conversa com o- oh meu Deus, Scar, o que aconteceu?” Eu devo estar com uma cara mesmo má. Ele levanta-se e vem ter comigo.
“Eu… eu… fui despedida.” Digo e caio na realidade, derramando-me em lágrimas. Isto é pior do que imaginava. Eu tenho apenas vinte e um anos, eu não tenho dinheiro absolutamente nenhum. E a Kat não tem um pai que nos possa ajudar, e os meus pais estão e quando descobrirem, oh céus, quando eles descobrirem vão matar-me!
Caio num abraço reconfortante do Liam e não consigo parar de chorar. Porque é que eu não consigo parar de chorar?
“Tem calma. Vá, calma.” As suas mãos desenham pequenos círculos nas minhas costas e o meu choro passa para soluços.
“Como? Como é que eu vou viver sem o mínimo dinheiro que recebia daqui?” O olhar dele está carregado de pena de mim.
“Eu lamento.” Eu assinto e ele beija-me a testa. “Talvez devesses ir para casa descansar?” Ele sugere. Não, eu tenho é que ir procurar outro emprego.
“Eu… sim, talvez seja melhor.” Eu digo e vou buscar as minhas coisas atrás do balcão. “Obrigada, Liam.” Sussurro antes de sair da empresa. Eu podia ter sido mais responsável. Bato-me mentalmente por ter sido demasiado desmazelada com o meu emprego e por ter faltado muitas vezes e por ter sido mal-educada com os clientes e por ter feito tudo ao contrário. Eu sinto-me tão mal e agora só quero voltar atrás e fazer tudo de novo.
O ar frio bate contra a minha cara e eu arrepio-me, mas entro no meu carro e guio até casa. Ou até onde me lembrar. Eu devia ir comprar algo para o meu almoço antes de me sentar no sofá e começar a deprimir o dia inteira, a ver uma série qualquer ou apenas a comer chocolate. Não, não é nenhum desgosto amoroso mas sinto-me como se fosse. Quer dizer, eu viveria bem sem este dinheiro, não bem, bem, mas ficava estável. Mas eu tenho uma filha!
Eu quase bato num carro e mando-lhe um sinal a pedir desculpa, mas ele parece não aceitar muito bem. Estaciono em frente ao Burguer King e entro rapidamente na loja. Eu preciso de muita comida.