Dois Lados | Negan

Capítulo 13

Dias depois

Eu sempre fui muito curiosa, hábito que eu perdi com o tempo mas que estava voltando. O Santuário era enorme. Uma enorme fábrica cinzenta e cheia de pessoas mal encaradas andando para lá e para cá. Na maioria das vezes eu não gostava de ficar perambulando, hoje eu decidi sair.

- Foda-se - ouvi a voz de Negan - Você sabe o que fazer. Ninguém melhor que você para quebrar alguém como ele.

Ouvi mais uma voz, mas não identifiquei quem era, até Dwight sair da sala. Ele me olhou de cara feia, mas seguiu em frente. Ele nunca se atreveu a falar nada para mim, mas eu via na cara dele que ele me detestava. Pela porta entreaberta, eu vi Negan. Ele passou a mão no rosto, com um semblante cansado, cobrindo a boca em seguida. Nessas horas, nesses momentos que ele achava que ninguém estava vendo, eu via o quão quebrado por dentro ele estava. Triste.

Eu imaginava o porquê de ele ser assim, mas nunca o questionei - seria perda de tempo porque ele não falaria nada. Antes que ele pudesse me ver, eu fui em direção a seu escritório, onde sabia que ele apareceria mais cedo ou mais tarde.

A porta estava aberta e eu vi um cara loiro com a cabeça abaixada, logo reconhecendo quem era. Eu entrei e logo Jace falou.

- Negan não está aqui - ele disse sem olhar, continuando a mexer na arma. Eu fiquei parada, esperando ele levantar a cabeça, e ele o fez.

Sua cara mesclou entre estou surpreso e vou disfarçar. Podia até ser errado, mas eu gostava de ver as pessoas assim meio sem jeito.

- Oi, Jace - eu sorri e tirei meu casaco, o descansando no braço.

- Oi - ele disse, limpando a garganta antes de continuar - Negan não está - repetiu e voltou sua atenção para a arma em suas mãos novamente.

- Vou esperar - disse e fiquei o observando tentar por o pente de balas na arma. Ele virou dos dois lados, tentou por ao contrário e nada. Minhas mãos já estavam coçando de inquietação em ver sua burrice e eu não me segurei e fui até ele, colocando meu casaco sobre a mesa do escritório.

- Você está fazendo errado - disse enquanto via ele se matando para encaixar o pente na arma. Ele não se esquivou quando meus dedos roçaram os dele e eu tomei a arma de suas mãos, seguido do pente de balas.

- Assim - eu disse, virando o pente e inclinando um pouco - Sempre incline ou nunca vai entrar.

Bati a arma no dorso da mão, fazendo o pente encaixar e a engatilhei com um som seco. Quanto tempo eu não fazia isso. Eu sempre me lembrava do meu irmão, minha mente viajava para minhas férias onde nós íamos atirar e praticar.

- Você era do exército ou o quê? - ele perguntou quando eu pousei a arma sobre a mesa.

Não precisa ser do exército para saber por balas numa arma.

Como um cara desse cuidava da segurança daqui?

- Isso é um grande segredo, e eu deixo para sua mente fantasiar.

Ele riu brevemente, mas em seguida seu sorriso morreu e ele pegou a arma em cima da mesa. Eu não precisava olhar para saber que o barulho das botas pesadas no chão de madeira eram de Negan.

- Deu certo - ele falou de forma séria e respeitosa - Não estava danificada, só a forma de pôr o pente que é diferente - ele explicou e eu segurei a risada. Ele descobriu isso a cinco segundos.

- Faça o mesmo nas outras e faça o inventário - Negan ordenou. Eu peguei meu casaco de cima da mesa e Negan passou ao meu lado, indo para perto de Jace.