Dois Lados | Negan

Capítulo 95

Rick havia acabado de sair do trailer médico quando vi Daryl passar pela porta.

- Oi - ele disse enquanto colocava uma caixa sobre a mesa de Harlan. Seus olhos voaram para minha barriga, mas ele não disse mais nada.

- Oi.

Seus passos pesados ecoaram pela sala vazia, exceto por nós dois.

- Como se sente?

Eu tentei dar um meio sorriso, mas não saiu mais que uma careta.

- Ainda dói um pouco. Harlan disse que você foi buscar remédios para mim, obrigado.

Ele só concordou com a cabeça, e olhou para o chão.

- Eu sei que não, mas eu tenho que perguntar. É meu?

Ele não me olhou quando perguntou isso, e só Deus sabe como eu queria dizer sim.

- Não.

Ele balançou a cabeça de novo, e me olhou.

- Então é dele - ele constatou, me fazendo engolir em seco.

- É meu - eu disse firmemente, mas as paredes pareciam ter diminuído, me sufocando.

- Foi por isso que você decidiu terminar tudo? - ele perguntou em seguida.

- Não... não foi por isso.

- Você sabe que podemos fazer isso juntos - Daryl chegou mais perto da cama. Ele pegou minha mão com a sua, grande e quente.

- Eu quero que você faça parte da vida desse bebê, quero que sejamos amigos.

Pude ver sua expressão desabar, mas ele não saiu, apenas apertou minha mão com cuidado.

- Sinto muito pelo que aconteceu - ele disse, e eu instintivamente esfreguei a mão na minha barriga - Estou com você, Ellie.

- Eu sei - eu disse e o puxei para um abraço. Ele me abraçou de um jeito que nunca havia abraçado antes, e pareceu que agora, finalmente, depois de toda a tempestade, eu estava vendo o arco-íris.

MESES DEPOIS

Dor.

Isso foi tudo que eu consegui pensar, tudo que eu podia sentir, enquanto eu cerrava meus dentes pela pressão que tencionava meu baixo-ventre, a dor cortante de alguém literalmente rasgando meu corpo em dois. Eu mal conseguia registrar Harlan me pedindo para empurrar com mais força, ou as pessoas espalhadas e mexendo ao redor do quarto. Tudo era um borrão ofuscante de luzes brilhantes.

Eu estava suando, e gritei quando outra contração me rasgou. Após a sua breve passagem, eu caí a cabeça no travesseiro, as lágrimas espalhadas pelas minhas bochechas úmidas enquanto eu fechava os olhos para aliviar o sal que ardia nos meus olhos. 

Eu estava cansada e frustrada, querendo que isso acabasse. Mas não havia a opção de desistir naquele momento. Havia uma mão que apertava a minha, muito apertada, me estimulando. Encorajando-me.

- Você está indo bem, continue - Rick tinha a testa pressionada contra o meu templo, umedecido pelo esforço que eu estava sendo submetida. Ele levantou a cabeça para beijar o local agora vazio, antes de retomar sua posição anterior, falando em voz baixa, tranquilizadoramente - Só mais um empurrão. Um último grande empurrão, e então acabou. Vamos lá, eu acredito em você.

Ele disse isso com tanta confiança e convicção - uma sugestão de orgulho, antecipação e excitação misturando-se com seu tom. Em algum lugar, sobre todo o caos e cacofonia, encontrei minha força. Estava escondida no calor de sua voz e ele me ancorou com o forte aperto da minha mão esquerda. Com várias respirações profundas, eu cerrei meus dentes mais uma vez e empurrei, meu rosto contorcido em dolorosa concentração enquanto eu dobrava meu corpo e sentia o pequeno ser escorregar de dentro de mim

E então, ouvi seu choro.

- Parabéns, é um menino!

Rick e eu ficamos sem palavras quando colocaram seu minúsculo e frágil corpo - corado em um tom escuro de rosa e ainda coberto de fluidos amnióticos - no meu peito nu. Eu ri e chorei de alívio, as lágrimas intermináveis ​​se derramando enquanto eu olhava para suas minúsculas mãos em punhos, os olhos tão inchados que eram duas fendas quase abertas. 

No momento em que senti o coração do beija-flor começar a desacelerar e bater em sincronia com o meu, juro a Deus que tudo e todos ao meu redor se tornaram temporariamente obsoletos. Fomos apenas nós dois em um mar de branco brilhante, toda a excitação e irritação do parto desapareceu.

Escovando meus dedos delicadamente sobre os finos tufos de cabelos escuros, dei as boas-vindas ao meu bebê e beijei sua cabeça.

- Qual vai ser o nome dele? - Rick perguntou. Eu havia decidido não saber o sexo e nem escolher o nome antes de tê-lo em meus braços, e agora, olhando-o, eu tinha um único nome em minha cabeça.

- Thomas.

- O nome do papai - Rick disse, e agora ele estava chorando.

Eu chorei de alegria, segurando meu milagre em meus braços.

*

Quando Ellie acordou, ainda estava exausta. Ela abriu os olhos para encontrar Daryl com Thomas no colo, ele era como um pacotinho em seus braços, embrulhado numa manta branca.

Ellie sorriu sonolenta e carinhosamente para eles.

- O nome dele é Thomas.

Um sorriso encheu o rosto de Daryl, lento e amoroso, fazendo-a corar. 

- Como você está? - ele perguntou baixinho e Ellie sorriu de novo.

- Como se eu tivesse um bebê roubado de mim - ela disse e esticou os braços.

Daryl sentou-se cuidadosamente na beira da cama e entregou Thomas a Ellie, que o segurava como se ele fosse feito de vidro. Seus olhos azuis eram pura ternura enquanto olhavam para o bebê, e o coração de Daryl se derreteu ao vê-lo. 

- Ele é tão bonito - ela murmurou antes de pressionar um beijo na cabeça de Thomas.

- Ele se parece com você - Daryl respondeu alegremente enquanto acariciava a cabeça de Thomas - Ele é perfeito.

Ellie só podia concordar. Ela ligou seu olhar com o de Daryl e observou com curiosidade a forma intensa que ele olhava para ela e Thomas.

- Um milhão pelos seus pensamentos - ela jogou e ele olhou para Thomas, dormindo calmamente.

- Estou pensando que você está segurando um pedaço do futuro nos braços.

Era isso que esse bebê representava; era vida nascendo em meio a morte e caos, uma flor brotando em uma fenda no cimento. Olhando para Daryl, Ellie viu que a ligação de sangue não era importante. Daryl amava Thomas e cuidaria dele, tanto quanto ela.

Thomas tinha o que poucas pessoas tinham nesse novo mundo: alguém que morresse por ele.

Thomas chegou, galera!!! Meu coração quase explodiu escrevendo esse capítulo ❤