Capítulo 92

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Ellie caminhou até a parte de trás de Hilltop, onde haviam algumas árvores que estavam fora de época de frutos, e se sentou abaixo de uma delas. Ela ficou olhando o vento levantando as folhas secas do chão, trazendo-as até seus cabelos, mas ela não se importou.

Era como se ela tivesse saído de uma meditação profunda - havia muito pouco som e o mundo ainda estava meio parado; ela não sentia nada, não pensava em nada, não sabia nada. E quando abaixou a cabeça, viu um novo açafrão a alguns centímetros de distância.

Era fácil esquecer que era primavera, mas lá estava, crescendo na lama, o caule ainda era um perfeito e tenro tom de verde-amarelo, as folhas tão macias quanto carne, o pequeno broto violeta começando a se abrir, as delicadas pétalas reunidas em um espiral pareciam como a espiral de uma galáxia.

O bebê dentro dela era um açafrão - brotando em meio a lama, não desejado, mas ainda assim, algo puro e belo que estava lutando para crescer. Ela pensou sobre a decisão que estava tomando, a decisão que mudaria sua vida para sempre, nas consequências, nos perigos e nas renúncias que incluía trazer uma criança para esse mundo, e então engoliu um dos comprimidos.

Negan não queria ter filhos.

Ele tinha deixado isso claro em mais de uma ocasião, e abortar, acabar com uma vida era exatamente o que Ellie imaginava que partiria dele se ele ainda estivesse aqui e soubesse que ela estava grávida. Negan era um monstro, mas agora, o que a diferenciava dele? Ela pensou e quis matar um ser que não tinha culpa de nada.

Ela era infértil, desacreditada que poderia ter um bebê, mas aqui estava ela, grávida. Isso devia significar alguma coisa, não é? Ela sentia como se não tivesse mais nada, mas agora tinha algo. Alguém.

Ele não era filho de Negan. Ele era seu filho.

Talvez ela pudesse ser feliz com esse descuido. Talvez ela pudesse se apaixonar por uma criança crescendo dentro de seu útero, com um caroço crescendo sob suas roupas. Talvez ela pudesse se apaixonar pelo bebê colocado em seus braços para ser embalado contra seu peito. Talvez ela pudesse se apaixonar por uma criança com cabelos e olhos escuros correndo com as pernas bambas. Talvez ela pudesse se apaixonar por algo inesperado e não planejado. Talvez ela pudesse se apaixonar pelo meio termo entre o que sua vida tinha sido e o que deveria ser.

E por um momento, ela jurou que podia sentir isso. Não na forma de chutes ou empurrões de movimento, mas havia um mero sentido. Uma espécie de presença dentro de seu ventre, o primeiro surgimento da vida à medida que crescia dentro dela. Células se multiplicando e crescendo para formar essa pequena criatura logo abaixo da carne. Uma espécie de formigamento, uma espécie de mudança em sua consciência, outra vida despertando dentro de seu corpo. Sua mão esfregou suavemente suas roupas, gentilmente acariciando apenas a presença em seu ventre.

Lágrimas foram atraídas para os olhos dela, e ela não conseguia localizar sua fonte. Talvez o medo, ou a alegria, ou apenas os hormônios da gravidez. Elas caíram baixinho, suavemente, enquanto sua mão se curvava protetoramente sobre o lugar onde seu filho estava crescendo. Não era nada mais que um aglomerado de células, irreconhecível como humano, nada mais que um embrião que se ligava ao revestimento de seu útero. E ainda assim, Ellie decidiu que ela estava disposta a tê-lo.

Ellie estava grávida. Talvez tenha sido sua maldição. Ou talvez tenha sido sua graça salvadora.

tudo bem, tudo bom, mas vcs pensaram no que o Daryl vai achar dessa novidade?

Dois Lados | NeganOnde histórias criam vida. Descubra agora