Capítulo 81

3K 238 27
                                    

Quando Rick veio me dizer que Negan acordou e foi cuidado por Denise, minhas mãos começaram a suar e tremer. Com ele desacordado, parecia que eu estava protegida de alguma forma, mas agora tudo pareceu me soterrar, me tirando do piloto automático e me jogando na realidade na qual eu era o avião pestes a colidir.

Não sei se consegui responder meu irmão quando ele disse que estava voltando para Alexandria e levando Negan junto, mas no momento seguinte quando dei por mim, havia esbarrado em Daryl quando estava cortando caminho por entre os trailers para entrar na casa.

Daryl me alcançou no corredor. Senti-o ao meu lado enquanto ele caminhava, mas ele não disse uma palavra - apenas seguiu. Eu não sabia ao certo para onde estava indo; se eu ia para um quarto ou se eu ia passar por uma porta para o lado de fora e correr até minhas pernas cederem. Eu lutei contra o impulso, dizendo a mim mesma para tomar uma boa decisão pela primeira vez.

- Ellie, pare - disse Daryl, agarrando a minha mão.

Eu puxei-a de seu alcance, passando meus dedos pelo meu cabelo. Eu me voltei ansiosamente, as luzes amarelas no corredor fazendo minha visão repentinamente turvar.

- Ellie? - voz de Daryl chamou, mas parecia distante, apesar de estar na minha frente.

- Eu não consigo respirar - eu engasguei e agarrei a mão ao meu peito.

- Ei, tudo bem - ele colocou as mãos nos meus ombros.

- Não me toque! - eu joguei suas mãos para longe de mim e recuei um passo, delirante.

- Ok, eu não estou te tocando... apenas tome fôlego ou algo assim - Daryl tentou me acalmar.

- Eu estou tentando - eu soltei e me inclinei para colocar minhas mãos em meus joelhos, respirando fundo.

Meu lado esquerdo encostou-se à parede enquanto eu lentamente me agachei. Daryl se inclinou ao meu lado, proporcionando um pouco de espaço para não me sobrecarregar, mas estendeu a mão hesitante, as pontas dos dedos roçando meu joelho.

- Daryl, não.

Ele retirou a mão e colocou-a entre os joelhos. Ele soltou um suspiro nasal e me observou pacientemente. Fechei meus olhos, envolvendo meus braços em volta de mim enquanto me concentrava em acalmar meu batimento cardíaco furioso. Talvez se eu falasse eu me sentiria melhor. Eu lambi meus lábios e limpei minha garganta, forçando um nó para baixo antes de tentar.

- Eu não sei como passar por isso tudo - eu disse e espiei ele através do meu cabelo.

- Nós vamos dar um jei-...

- Não, não diga nada - interrompi. Empurrei o cabelo atrás da orelha para poder vê-lo mais claramente - Só me prometa... me prometa que independente do que acontecer, vamos proteger um ao outro, sempre.

Daryl lentamente aproximou o rosto do meu.

- Eu juro. Ficarei com dois metros e meio de terra sobre mim antes de deixar algo te machucar. Você me ouve?

- Sim - eu murmurei enquanto as lágrimas brotavam nos meus olhos.

- Venha aqui.

Ele abriu os braços e eu bati contra ele, enterrando meu rosto em seu pescoço. Nós nos sentamos de joelhos um pouco enquanto ele me segurava enquanto eu chorava em seu ombro. Ele passou a mão para cima e para baixo nas minhas costas, e a tensão e o medo que se acumularam dentro de mim começaram a diminuir. Tomei uma respiração trêmula, enxugando os olhos e me afastei dele para sentar em meus calcanhares, deixando minhas mãos descansarem em minhas coxas.

- Vem - ele disse e cautelosamente me levantou - Você quer falar sobre o que aconteceu?

- Não - eu respondi, mas mudei de ideia - Sim. Se eu segurar tudo, isso vai me comer viva. Pode levar um tempo, mas eu preciso te contar tudo. Não há mais segredos entre nós.

- Ok - Daryl me abraçou enquanto caminhávamos pelo corredor.

Quando chegamos a um quarto, ele abriu a porta para mim, permitindo-me entrar no espaço escuro. Eu entrei, a luz do corredor iluminando a área apenas o suficiente para ver a cama.

Tirei a jaqueta e joguei em uma cadeira antes de tirar minhas botas, meias e calças. Eu me esgueirei até a cama e entrei debaixo das cobertas, afundando nos lençóis de algodão. Eu me virei quando Daryl não me seguiu e o vi parado na porta aberta, com as mãos nos bolsos enquanto ele olhava para mim.

- Deite na cama comigo - eu disse a ele.

Silenciosamente, ele fechou a porta, nos trancando com a escuridão. Eu o ouvi seguir em frente e tirar os sapatos ao longo do caminho. Ele passou pelo final da cama de solteiro, surpreendentemente com pouca dificuldade, e para o outro lado, puxando as cobertas para deitar ao meu lado.

- Tire sua camisa - eu exigi antes que ele pudesse deitar.

Ele ficou em silêncio; provavelmente tentando trabalhar com os prós e contras de fazer tal coisa, considerando o estado em que eu estava. Antes que ele pudesse protestar, sentei-me de joelhos e agarrei a bainha de sua camisa, puxando-a sobre a cabeça em um movimento. Passei minhas mãos por seus ombros duros e lisos, pelos braços e pelos pulsos. Eu o puxei para baixo quando me deitei e ele se sentou ao meu lado.

- Me segure? - um tremor quebrou minha voz e eu mordi meu lábio para estabilizar.

Daryl se aproximou e puxou meu corpo para o dele. Eu pressionei meu rosto sob o queixo e apertei as lágrimas que queriam escapar novamente. Eu me concentrei no calor que emanava de seu peito, aconchegando-me nele enquanto colocava um braço ao redor do seu lado.

Eu contei a ele sobre minha viagem longa antes de Negan me achar, como tudo começou e quem eu conheci.

Ele ficou em silêncio a maior parte do tempo, até que eu cheguei à parte sobre encontrar Negan no trailer. Ele ficou inquieto, os músculos de seus braços e peito se contraindo conforme sua raiva aumentava.

- Seja o que foi que aconteceu, eu não quero saber - ele jurou e me beijou. Ele soltou um suspiro enfurecido, segurando-me mais apertado para ele e afrouxou seu aperto quando eu me torci.

Ele me beijou novamente, sua boca dura e apaixonada, mas ele não se demorou.

- Vá dormir - ele sugeriu.

- Eu não acho que consiga - eu reconheci, mas suas palavras me deixaram menos tensa.

- Nem eu.

Meu corpo estava extremamente cansado, mas minha mente estava bem acordada. Eu queria fechar os olhos e cair no nada, mas tinha medo de tentar.

- Não vá a lugar nenhum - eu praticamente implorei de repente, segurando-o com força.

- Eu não estou deixando você. Nunca - ele me acalmou enquanto passava a mão nas minhas costas - Você é a única coisa que eu tenho na vida, Ellie - ele murmurou no meu cabelo e continuou a esfregar minhas costas até a nuca e descer novamente.

Eu podia sentir seu coração bater em meu ouvido, firme e constante. E o sorriso que surgiu no meu rosto era agridoce. Isso parecia um final de filme, quando o vilão é pego e os mocinhos ficam juntos, mas dentro de mim, num fundo escuro e amargo, eu tinha certeza que não era o fim.

Os finais felizes eram os ingredientes de um conto de fadas, não da vida real, e essa vida era mais real e visceral do que se poderia sonhar. Foi um pesadelo - um pesadelo caótico e interminável.





Dois Lados | NeganOnde histórias criam vida. Descubra agora