Capítulo 40

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ELLIE

Estava quieto, apenas com o som da minha respiração ofegante e o persistente pingar de água em algum lugar no escuro. Eu disse a mim mesma para me acalmar, que não havia nada lá que pudesse me machucar, e cheguei à conclusão de que eu realmente tinha superado uma crise de pânico sozinha.

Mas eu estava cansada. Cansada de tudo isso, e eu orei para estar de volta com minha família, que nunca me machucariam ou tentariam me derrubar. Voltar ao que eu sabia ser seguro e inquestionável, fora desse convívio estranho com um homem que me fazia sentir tão bem e tão mal, tudo de uma vez.

Abaixar-me às provocações e antagonismos de Negan estava me destruindo. Estava errado e eu não podia permitir que continuasse. Não era quem eu era. Quem eu queria ser. Eu queria ser uma boa pessoa, eu sempre fui, mas agora minha personalidade e vontades eram uma marionete a ser comandada por alguém que não era eu.

Em algum momento eu adormeci, porque o som da porta se abrindo me acordou, e eu rolei para ver uma sombra pairando sobre mim.

Dwight.

Se meu olhar pudesse queimar, ele seria uma pilha de cinzas agora. Dwight parou com uma garrafa de água e um pão em um prato de plástico nas mãos. Quando eu não peguei, ele suspirou e os colocou no chão à meus pés.

- Coma. Não faça isso ser mais difícil do que é - ele disse e eu chutei a garrafa e a comida, espalhando pelo chão.

- Eu vou te matar - minha voz saiu rouca, minha garganta ardendo. Já havia se passado um dia, talvez um dia e meio e eu não estava com o mínimo me fome. Eu me sentia exausta, acabada de todas as formas.

- Você precisa comer para fazer isso - ele falou, mas não havia diversão em sua voz. Ele saiu, me trancando de novo.

Eu não conseguia articular pensamentos coerentes; eu apenas chorei até que minha garganta pareceu se fechar em torno dos soluços secos. Eu não tinha nada nem ninguém que pudesse me tirar disso agora.

Quando outro dia chegou, os raios de sol entraram pela pequena janela que mal tinha o tamanho da minha cabeça.

Sentada no canto da cela, eu podia sentir meu corpo tremendo. Eu queria que tudo isso fosse um pesadelo ou algum tipo de sonho louco, mas eu sabia que não era.

Meu corpo todo doía quando eu levantei do chão áspero e frio, me encostando contra a parede. Muito tempo se passou e eu logo desisti, me deitei no chão, não segurando as lágrimas. Não soube por quanto tempo dormi, mas quando acordei novamente foi ouvindo os sons de alguém na porta; olhando para cima, vi Dwight outra vez.

Eu não sei quantos dias foram, ou talvez foram horas e eu estava perdendo a noção. Eu só tomei um pouco da água e ignorei a comida, querendo estrangular Dwight cada vez que o via. Negan não apareceu e uma parte de mim queria que ele me tirasse daqui e dissesse que tudo ia ficar bem.

Eu não comer resultou em ficar fraca ainda mais rápido. Meu estômago e minha barriga doíam, mas eu não conseguia comer. Eu acordei novamente com os sons de farfalhar do lado de fora da porta.

Já era noite e Dwight já havia passado com mais comida e água, então não podia ser ele. Engolindo em seco, depois de um tempo ouviu o som da porta sendo aberta e olhei para cima esperando ser Negan, mas não era ele e sim o irmão de Marie, parado na porta com uma cerveja na mão.

- Puta merda, eu tinha que ver com meus próprios olhos - ele arrastou as palavras e agachou na entrada da porta, colocando a garrafa no chão - Como foi que a favorita acabou em uma cela? Um pássaro verde me contou que você tentou fugir.

Dois Lados | NeganOnde histórias criam vida. Descubra agora