Capítulo 34

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DIAS DEPOIS

Eu tentei acompanhar o funcionamento daqui. Era tudo muito sistemático e mecânico, as pessoas eram pontuais como robôs. A troca de guarda era feita quatro vezes por dia, havia vigia vinte e quatro horas onde era a sala de armas. Havia uma brecha de um minuto e meio a dois na troca de guardas do portão dos fundos, então eu teria que ser rápida. A arma de trás da cabeceira da cama permanecia lá, mas eu precisaria de mais munição. E isso seria complicado.

Negan me observou, como sempre fazia esses dias, quando me sentei na cadeira, onde um par de camisas extras estavam descansando e olhei para ele enquanto apoiava os braços na mesa.

Nós falávamos o necessário, eu tentava manter a máscara que estava bem, mas ele sabia que havia algo errado. Negan era um falcão, os olhos sempre observando tudo. Ele estava usando uma camisa preta e um shorts de dormir, os cabelos molhados empurrados para trás. Ele estava sério enquanto eu esperava que ele começasse a falar.

- Como está seu ombro? - ele finalmente se pronunciou, quebrando o silêncio fúnebre.

Pela primeira vez eu não queria ouvir a voz dele. Pela primeira vez eu sentia raiva dele, misturado com um sentimento que eu não sabia identificar. Eu me sentia tão traída, tão usada. Era o peso de todo esse tempo vivendo com ele caindo de uma vez só em meus ombros, me obrigando a ver quem ele era. Quem eu sempre soube que era, mas eu ignorava.

- Quem era a mulher de mais cedo? - perguntei sobre a mulher que vi de manhã junto com Amber e Frankie.

Eu sabia o que era, mas eu precisava da confirmação, para arrancar o resto de dignidade que eu ainda possuía.

- Agora que Sherry se foi, temos uma vaga em aberto - ele disse casualmente e pegou um prato com comida de dentro da geladeira - Você não jantou?

Eu sequer consegui responder. Parecia que eu estava sufocando, o sentimento que eu estava começando a me acostumar.

- O que você sente por mim? - eu perguntei o mais firme que pude, mas por dentro estava desmoronando. Algo na minha mente me gritava para parar, mas eu precisava das palavras. Se eu quisesse ir em frente, seja para qual lado eu fosse escolher, eu precisava da confirmação.

Nada. Essa era a resposta. Ele não se importava, era um homem incapaz de amor e verdadeira ternura. Um homem que me olhou como um objeto. Algo a ser controlado e usado. Um homem que sempre se importaria mais com o poder do que com as pessoas.

- Quero que fique só comigo - as palavras saíram sem que eu desejasse, um desejo meu que rompeu minha boca sem que eu permitisse, e como sempre franziu a testa, sequer prestando atenção em mim.

- Acho que está me confundindo com o caipira. Homem do campo, casamento real e filhos - ele continuava a mexer na comida do prato, colocando os legumes em um prato separado, me ignorando.

Claro, como ter consideração por uma mulher que ficava de arrastando por atenção e amor?

Eu finalmente quebrei em soluços que atravessam meu corpo, cansada de engarrafar meus sentimentos. Isso não era o que ele esperava e estava escrito em seu rosto. Ele largou os talheres sobre a bancada.

- Ellie - ele começou e veio em minha direção, mas a última coisa que eu queria agora era o conforto dele.

- O quê? Você acha que pode me tratar como lixo e eu vou pular em seus braços? - gritei. Eu sabia que estava fora da linha, mas não conseguia suportar - Pelo menos Daryl me respeitava.

- Ah, puta que pariu, vai começar com isso de novo? Você sabia quem eu era quando aceitou estar comigo.

- Quero ir embora... - comecei mas ele me cortou na mesma hora.

Dois Lados | NeganOnde histórias criam vida. Descubra agora